Reunião e o fim do micronacionalismo

Reunião e o fim do micronacionalismo

por Ricardo Cochrane

Nos últimos meses, um dos objetivos mais antigos do ego do ser humano está se tornando cada vez mais próximo: a dominação mundial. No caso, este processo tem ocorrido em nosso pequeno universo micronacional lusófono comandado por Cláudio de Castro. Este artigo destina-se a explicar como isso é danoso ao nosso hobby e à sociedade macronacional que vivemos, seja ela qual for.

Porque somos micronacionalistas

Esta é uma das questões mais complicadas de se responder. Não há uma resposta final, mas todos nós, micronacionalistas lusófonos, compartilhamos algumas características:

1. Gostamos de fazer diferença

Sempre nos esforçamos a construir algo que seja realmente especial e único, e que tenha reconhecimento por parte de nossos colegas, seja isso uma estrutura, um ideal ou um outro jeito de encarar as situações. Esta nossa vontade de exceder a nós mesmos é o que tem levado o hobby na última década e meia, ou quase isso.

2. Tentamos trabalhar em equipe

Seja a definição de equipe o que for: uma agência, um instituto, uma divisão administrativa ou até um país inteiro. Queremos sempre agregar mais pessoas a trabalhar conosco e partilhar de nossa visão. Por isso criamos Ministérios da Imigração e fazemos propaganda mundo afora, para mostrar o quão bom é estar e trabalhar conosco. Claro, isso nem sempre é verdade: da mesma forma que nem todos gostam ou querem trabalhar em equipe, o micronacionalismo possui instituições e nações que funcionam muito bem com apenas uma pessoa, mas sempre existe uma tentativa de se relacionar com os outros e firmar acordos para alcançar um determinado fim.

3. Gostamos de resolver problemas

Se é inatividade ou uma crise internacional, estamos sempre pensando em como sanar isso. No momento que não há mais preocupação em resolver problemas, o hobby perde sentido de existir, pois não há mais vontade de seguir adiante.

Sem elas, o micronacionalismo não seria o que é hoje, em sua forma e conteúdo. Por isso que não podemos considerar este hobby como um jogo, pois não há um objetivo claro e maneiras certas de se alcançar o sucesso, cabendo a cada um descobrir o que fazer e a definir, de fato, o que é este sucesso.

O Universo em uma casca de noz

O micronacionalismo é, portanto, um espaço onde trabalhamos a convivência de diversas ideologias e estudamos os processos que formaram o nosso mundo macronacional em diferentes épocas. Podemos sentir bem próximo de nós os prós e os contras da monarquia, república ou seja lá qual outra forma de governo que uma nação escolher. Podemos entender e ver de perto o duelo de modelos de sociedade, e participar ativamente na conciliação ou manutenção das diferenças.

Este trabalho de discussão contínua forma micronacionalistas conscientes de sua sociedade macronacional e os faz entender que podem fazer a diferença também fora de suas micronações. No final, temos pessoas participativas e com opiniões diferenciadas nos assuntos mais diversos, pois aprenderam a ouvir e considerar pontos de vista diferentes dos seus.

Como não há força física envolvida nos conflitos micronacionais, o poder das idéias e da boa argumentação é essencial na disputa, e como não há vitória absoluta, os argumentos vão se refinando até que há um consenso entre um grupo cada vez maior de que um dos lados é menos dono da verdade do que o outro.

Como Reunião tem acabado com isso

É claro, toda esta situação supracitada é quase utópica. Quase. Em alguns (poucos) momentos da história da Lusofonia, a miríade de micronações resolveu trabalhar em conjunto e lidar com suas diferenças a fim de construir algo além delas próprias. Trunfos como a OLAM e a Microcon foram exemplos dos resultados que o respeito mútuo pode trazer, mesmo que por um breve período. Notavelmente, o Império de Reunião esteve ausente dessas realizações e outras cooperações, e foi este fato que tornou possível elas acontecerem.

O propósito egoísta de Reunião nunca propiciou grandes realizações em conjunto. O rolo compressor ideológico do Império massacra as opiniões divergentes e, com isso, o seu próprio progresso.

Reunião é personificada na figura de Cláudio de Castro, e os súditos mais fiéis anulam a si próprios em prol de engrandecer o ego de seu Imperador. As discussões e conciliações de opiniões contrárias são abominadas em praça pública, promovendo a estereotipação quando são chamados de comunistas ou golpistas as pessoas que questionam a ordem instituída. Desta forma, não se criam novas maneiras de idéias diferentes coexistirem, sendo suprema a vontade de um.

Como se o próprio Império não fosse o bastante, Reunião busca incorporar outras nações, a fim de imbuir em seus súditos um sentimento de vitória e conquista, sejam estas a qualquer preço. É realmente impressionante o aparato e os mecanismos que o Sacro Império possui para promover o seu próprio crescimento.

Reunião não se preocupa em formar bons micronacionalistas, espera que eles surjam naturalmente com a torrente de formulários que chegam ao Ministério da Imigração e com a incorporação de outros países. São valorizadas pessoas que saibam seguir ordens e possuam um grande respeito pela hierarquia. Pessoas que discursem bem e defendam o seu ponto de vista a qualquer custo ganham mais valor dentro do Império, alcançando cargos públicos importantes.

Toda esta expansão do ego do Imperador acaba, pouco a pouco, com a manutenção de um estado de coexistência entre opiniões distintas, não só dentro, mas como também fora de suas fronteiras. Reunião não possui respeito pelas outras micronações, pois as vê como prêmios a serem conquistados, sem extrair qualidade alguma delas.

Ave Cláudio

Num eventual futuro apocalíptico, onde Cláudio de Castro domina a Lusofonia em sua totalidade, a homogeneidade de idéias em Reunião tornará o hobby algo bobo e sem sentido. Serão apenas pessoas trocando gentilezas e reconstruindo as mesmas estruturas de novo e de novo. Acabará a esperteza e a vitalidade do micronacionacionalismo.

Sob um governo único, não há preocupação em resolver problemas, já que um sopro celeste (uma Ordenação Gloriosa) pode solucionar tudo. Não há necessidade de inovar, e as idéias novas que possam surgir serão etiquetadas com um dos estereótipos e descartadas. Assim, não haverá mais grandes micronacionalistas, mas sim grandes guardiões de estruturas. Isto é um problema em vários níveis. O micronacionalismo será um espaço onde conformistas podem exercer sua apatia e seguir sem fazer questionamentos importantes. Para um hobby, isso é muito chato.

Precisamos formar inconformados, pessoas que lutem pelo que acreditam, desafiem o que já está instituído e saibam trabalhar em conjunto para alcançar um objetivo. Assim, formamos não só bons micronacionalistas, mas bons cidadãos brasileiros, portugueses, angolanos, moçambicanos, enfim, lusófonos.

Vivência plural

Ao pluralizarmos a Lusofonia, distribuindo o poder entre várias nações, mecanismos de resolução de conflitos surgem automaticamente, e com isso, o respeito pelo o que é diferente. O micronacionalismo pode, então, ser utilizado para divulgar idéias, sejam elas novas ou velhas. Este sim é o exercício da discussão, do trabalho em equipe e de se destacar: pelo que pode fazer de nossa sociedade um lugar onde as pessoas possam coexistir, trabalhando e construindo algo que é bom para todos.

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3 Respostas to “Reunião e o fim do micronacionalismo”

  1. Deoclécio Says:

    Um artigo muito bom! Uma crítica objetiva sobre a política expansionista de Cláudio de Castro.

    Parabéns!

  2. Ezequiel Stone Says:

    O cenário de de unipolaridade no micromundo sempre foi um estado provisório que ao final deságua na formação de uma meriade de novas micronações.Não há motivo concreto de supor que vá ser diferente neste momento, muito embora não julgo que seja o caso e sim uma vã tentativa de criar mais um factóide para gerar atividade mensagistica no CHANDON ( o que vai dar certo como sempre dá)

    Assim sou franco em dizer : Que os portoclarenses e outros não caiam na balela de dar maiores importancias a esta bobagem e aos amigos do Sacro Império de Reunião de coração lamento muito estarem envolvidos neste teatro tosco.

    Agora é aquilo : O Tempo é o Senhor da Razão. Vamos ver até quando isto perdura até o momento em que alguém realmente ficar irritado e tendo recursos para dar vazão a raiva….. Delenda ´ ` :.

    – Pra bom entendedor meia-palavra basta : a Espada de Dâmocles está bem posicionada na República Federativa de Reunião ( opss……. Sacro Império de Reunião, esqueci que ainda não mudou !) e Claudio foi quem na prática colocou ela e nem ao menos percebeu. Na suprema ironia, devo dizer. 🙂

    De resto dou meus parabéns pelo blog e a ótima qualidade dos artigos, revelou-se um ótimo meio de matar minha saudades do mundico.

    Alea Te Acompanhe!

  3. Olympio Neto Says:

    Ricardo, mandou muito bem… artigo lúcido e muito claro.
    Parabéns!


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