“Que entrem os palhaços!”

“Que entrem os palhaços” é uma velha expressão circense: quando algo não acontece do modo imaginado e planejado no picadeiro, é hora de, rapidamente, fazer com que os palhaços sejam mandados para distrair e entreter o público.

Por analogia, é uma expressão que pode perfeitamente ser aplicada no micronacionalismo.

Entre nós, no velho “mundico”, talvez nenhuma palavra seja mais repetida que atividade. Usada em incontáveis variáveis e sentidos, é uma verdadeira obsessão de países, governantes e cidadãos. Ela precisa existir, ela precisa ser constante, ela deve ser produtiva, deve trazer consigo um “algo mais”.

Muito já se especulou e concluiu acerca da maneira de gerar e manter atividade em uma micronação. Alguns, mais realistas, já concluiram que não há uma “Pedra de Roseta” que nos permitirá decifrar o segredo da eterna atividade.

A atividade só é constante quando a micronação está morta, quando aí ela se torna imutavelmente nula. Caso contrário, assim como na vida, teremos países em momentos de melhor e pior movimento, dinamismo e entusiasmo.

Sendo natural que certas vezes as coisas não saiam como esperado, e tenhamos a população paralisada por tédio ou cansaço, um remédio certo e eficiente é distraí-la e entretê-la. Mesmo uma micronação em regular funcionamento fica sujeita a um governo pouco producente, a uma inatividade de cidadãos-chave, a uma rixa local ganhando proporções muito grandes.

Antes que a audiência se vá, em bocejos longos, deve-se buscar algo que a cative uma vez mais, um fato que prenda sua atenção, fazendo com que ela esqueça o problema anterior. Deve ser estrondoso, espalhafatoso, dispendioso. Não precisa, porém, ser novo, apenas parecer novo. Pode até irritar, assustar, intimidar. Desde que funcione. Sequer precisa ser verdadeiro, apenas soar sincero

“Que entrem os palhaços” é, aqui, expressão traduzida como a confusão criada, a provocação orquestrada, o caos induzido. O modo como governos ou micronacionalistas agem para reverter a curva de atividade e fazer com que haja mensagens em suas listas, assuntos em seus jornais, debates em conversas.

Mais do que analisar essa “indução de caos” como algo bom ou ruim, é preciso vê-la como necessária. Mais importante ainda é que ocorra da maneira mais natural e imperceptível. Não funciona se é algo vindo do nada. Mais eficiente se torna na medida em que surge já como um fio de repente destacado da tapeçaria que compõe o país.

Tampouco se pode pautar a rotina do país em soluções mirabolantes para a atividade se manter. Pois o revés não é ter que pedir que os palhaços entrem. É não ter como tirá-los de cena, posteriormente.

Filipe Oliveira

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