Revista de Estudos em Micropatriologia – Ano 0 – Número 1
CLASSES SOCIAIS NO MICRONACIONALISMO?
Felipe Aron*
Artigo publicado no Pravda 50 e remodelado para a
Revista de Estudos em Micropatriologia.
Nos últimos tempos, a discussão sobre uma divisão entre tipos de cidadãos micronacionais, aqueles que são ativos, criativos e produzem oque os demais reproduzem, ora chamados de notáveis, ora de extraordinários; aqueles regulares que ocupam geralmente cargos medios, são encarregados de algum trabalho burocrático ou são os bons cidadãos que duram cerca de um ano e somem; ou então, os que não cooperam com nada, que pouco entendem a lógica micronacional. Segue nos próximos parágrafos, uma análise de algumas das principais teorias do assunto e nossa contribuição.
1 – Idéias Clássicas: Esquerda Portoclarense no Final da Década de 90
m agosto de 1999, quando Pedro Casagrande Baez (PMTU) assumiu a presidência da República de Porto Claro, em razão da renuncia de Fabiano Carnevale (PV), a esquerda portoclarense composta de PMTU, PC de PC, PT e UJS se uniu em um fórum comum para debater sobre uma teoria socialista micronacional. Um dos principais resultados publicados, trata-se de um artigo de autoria conjunta de Adriana Moura, Camarada Wilson e Ari Silva e que se tornou clássico para toda a esquerda micronacional. Neste artigo, os socialistas afirmam que uma sociedade micronacional – no caso, utilizaram Porto Claro como exemplo – possui uma moeda de troca, mas não uma moeda capitalista e sim, nos moldes de um escambo pré-capitalista, esta moeda, ao invés de objetos para troca, estaria na experiência. A experiência de cada um adquirida em trabalhos, projetos e interagida nos processos sociais de várias consciências políticas teóricas e práticas cria o status quo que divide a sociedade em classes. Quando os portoclarenses falam em produção e valor de troca, estão falando da influência, do poder de agregação, como poderemos conferir mais adiante. Eis as classes separadas pelos pioneiros de Porto Claro:
- Notáveis: Cidadãos ativos que produzem muito e com qualidade, o que faz, conseqüentemente, que estes mesmos cidadãos acumulem mais e melhores valores de troca. Em Porto Claro, usamos a mesma lei de mercado para a troca das mercadorias (maior produção e qualidade, maior retorno). Excetuando-se o fator preço (visto a inexistência do dinheiro), o que vemos é um acúmulo de valores de troca por parte desta classe.
- Notórios: Cidadãos que produzem regularmente materiais de qualidade duvidosa. Esta falta de qualidade faz com que o cidadão não consiga “trocar” seu produto, isolando-se da classe dos notáveis, porém sem perder “seu crédito”.
- Esporádicos: Cidadãos que produzem pouco e/ou com qualidade ruim. Seu produto quase sempre é rechaçado e “devolvido” às origens. Este cidadão não tem poder de “barganha” e naturalmente abre sua “falência”, pois seus valores de troca são insuficientes. Seus produtos se perdem antes de serem consumidos, ou seja, são excluídos antes de serem lidos.
- Inativos: Produzem de pouquíssimo a nada. Estes só são lembrados na “limpeza” do censo ou em época de eleição. Não produzem mercadorias (valores de troca) para o intercâmbio e geralmente “morrem de inanição”.
Para sua época, é uma teoria genial. Os socialistas, ainda em 1999, há quase sete anos atrás, já buscavam explicações para o fatode que alguns micronacionalistas agregavam, criavam projetos que tinham mais chances de dar certo, enquanto um outro tipo de cidadão, “não tem poder de “barganha” e naturalmente abre sua falência”.
Outra conclusão interessante está na seguinte passagem:
” A existência dessa “moeda” circulante, por si só, não determina a divisão da sociedade em classes sociais, mas quando a ela são adicionados fatores como ideologia e atitude, ambas pessoais, criamos as condições necessárias para que haja esta divisão. Esses três fatores são os responsáveis pelo surgimento do STATUS QUO, e esse status propicia a divisão da sociedade portoclarense em quatro classes sociais”.
O que significa dizer que os três fatores citados são responsáveis pelo surgimento do Status Quo?
Podemos interpretar que, se os notáveis têm o maior poder de influência, eles irão conduzir o país, sendo que os notórios vão meramente se juntar em torno de um notável – ou pode se lançar a tentar ser um notável, os esporádicos vão ser mais ainda dependentes do notável que o influencia e o inativo pouco ou nada significará para a sociedade. Desta forma, os notáveis, poderão entrar em disputas ferrenhas pela hegemonia, até que, talvez pela saida de alguns deles ou por acordo de interesses, estes notáveis venham a se unir e formar uma oligarquia. O conjunto dos notáveis é peça fundamental na formação deste processo e na criação de cada status quo da nação, mas… Quem são os notáveis sem pessoas para agregar? Por isso, todas as classes são importantes – exceto os inativos, para os processos sociais que propiciem uma manutenção e reprodução do status quo.
Estes primeiros passos dos então portoclarenses, que depois de uma guera civil entre os socialistas e a direita portoclarense, declararam a independência de alguns distritos, formando a República Participativa de Campos Bastos, com um sistema coletivista que tem influência direta na União Soviética, país em que se encontram muitos destes socialistas pioneiros.
2 – As Críticas de Edson Veloso no “Micronacionalismo de Fato”.
Em seu jornal, “Micronacionalismo de Fato” (edições 3 e 4), o socialista portoclarense contemporâneo, Edson Veloso, resolveu analisar as idéias clássicas e chegou em uma crítica pertinente: a falta de dialética entre as classes. Elas existem, produzem o status quo… E daí?
De fato, a dinâmica das classes ficou abstrata e um tanto vaga, não pressupondo uma dialética de fato, entre as classes. Desta maneira, abre espaço para o relativismo liberal, para a concepção pós-moderna, onde os pioneiros utilizam a palavra “ideológica” para detonar qualquer posição política, como se todas possuíssem o mesmo valor. Veloso então, avança para uma concepção dialética, no parágrafo que segue, tratarei de condensar a idéia exposta por Veloso da dialética micronacional:
Tomemos este processo de aquisição de experiência e divisão entre notáveis, notórios, esporádicos e inativos como Infra-Estrutura; tomemos também a organização do Estado, suas instituições e a política como Super-Estrutura. Edson Veloso propõe que exista uma relação dialética entre estas duas esferas. A criação e manutenção do Statuos Quo, então, estaria na Infra-Estrutura, porém, o conteúdo destes Status-Quo já deixa de ser abstrato, passa a ser a Super-Estrutura, que pode ter vários elementos, desde o virtualismo constante do Reino Teocentrista de Valquíria, ao forte mensagismo do Reino Unido dos Açores e assim por diante. Por outro lado, esta Super-Estrutura irá ser muito influente na maneira como os consequentes cidadãos irão adquirir experiência, como serão as classes, o que irá definir a organização política do Estado e assim, num ciclo dialético.
3 – O Ciclo Dialético Ganha Corpo: Os Paradigmas Micronacionais
República, monarquia; democracia, tirania; democracia direta, sistema representativo. Nenhum, absolutamente nenhum destes, significa um paradigma. Como foi brilhantemente observado por Edson Veloso, são meramente elementos de super-estrutura. Tampouco, o fato do país ter um monte de cidadãos gênios e polivalentes ou o fato do país ter um monte de novatos desorientados, significa um paradigma, mas elementos de infra-estrutura. Onde estão, então, os paradigmas? Estão exatamente no ponto dinâmico entre as duas estruturas, que, como são dependentes (os cidadãos não existem sem a micronação e estas não existem sem cidadãos), precisam de um elo, uma ligação que reproduza constantemente ambos, isto é, leve os cidadãos a fazerem as instituições funcionarem de forma a ter maior eficiencia para conseguir novos cidadãos ativos e se renovar constantemente. Isto é o paradigma, o fazer micronacionalismo.
Quando se fala em fazer micronacionalismo, vem à cabeça a idéia de atividade. Uma das maneiras mais eficientes de se conhecer rapidamente o paradigma dominante em alguma nação é perguntando aos cidadãos o que estes entendem por atividade produtiva, que é um conceito perfeito para separar aquilo que a tendência dominante da micronação entende por atividade útil que produz micronacionalismo de boa qualidade das inutilidades, dos projetos sem sentido e até de comportamentos prejudiciais. Em cima disto tudo, posso dizer que virtualismo, mensagismo, realismo, micronacionalismo ‘ursinhos carinhosos’ ou movido à base de intrigas, são alguns elementos dos paradigmas.
Em um encontro em 2003, lembro de ter ouvido um sofista dizer que achava que os pasárgados não eram micronacionalistas, estavam mais para uma ONG, porque não tinham mapa, não tinham exército e nem cidades! Se os pasárgados não tinham nenhum destes elementos, então, para este sofista, eles não faziam micronacionalismo. Da mesma forma, muitos pasárgados da época, consideravam que construir casinhas e ter dinheiro de mentira, estava muito mais para um jogo de banco imobiliário do que micronacionalismo, ou seja, não eram atividades produtivas. Isto denota claramente uma forte diferença no conceito de atividade produtiva e consequentemente, do fazer micronacional. Sofia poderia ser uma república ou Pasárgada um principado. Isto não mudaria em nada o quadro, seria apenas uma mudança na super-estrutura.
4 – O Paradigma Dominante e o Pasárgado…
Tomemos a micronação fictícia, “Ducado do Guarujá”, governada por Farid I. Digamos que seus cidadãos são extremamente wundicos (gíria para ‘mensagisticos desenfreados’) e enviam várias mensagens de uma linha cada, produzindo um chat em lista nacional, onde também existe todo o tipo de virtualismo, existem desde padeiros micronacionais até sequestradores que pedem helicopteros como resgate de fictícias vítimas. A chancelaria e todos os órgãos políticos vitais são dominados por dois ou três mais experientes e então, um belo dia, Farid I, insatisfeito que sua micronação não é muito levada a sério e cansado das voltas em torno do vazio de sua micronação, resolve então, baixar um decreto extinguindo todo o tipo de virtualismo. Será que houve alguma mudança no paradígma? Certamente que não. Os cidadãos não mudaram em nada, eles não vão saber como agir e talvez até saiam do reino e fundem uma nova micronação onde poderão continuar sendo virtualistas A desgraça do Farid I encontrará vários motivos:
- a) A dualidade virtualismo/realismo não é “o paradigma” em si, mas apenas parte dele. Não adianta querer modificar o paradigma apenas modificando à força uma de suas facetas. Os cidadãos não modificaram seu conceito de atividade produtiva, simplesmente vão achar que o Duque é um burro que os proíbe de serem ativos.
- b) Nenhuma mudança em elementos formadores do paradigma podem ocorrer “de cima para baixo”. É preciso que os cidadãos estejam convencidos da necessidade. É preciso que os mais aglutinadores estejam prontos para estas novas idéias e aglutinem os demais para a mudança.
Os itens “a” e “b” nos conduzem para uma questão:
Se virtualismo, mensagismo, etc. são partes de um paradigma, então qual é este paradigma?
Para Bruno Cava, o micronacionalista lusófono que mais vem aprofundando esta questão, há um paradigma dominante na lusofonia, criado em Porto Claro e Reunião em 1998-99, reproduzido em toda lusofonia e que chegou a ser superado por Pasárgada em 2002-04, em tentativa que acabou se esgotando e hoje sucumbe ao paradigma dominante. Este paradigma significa o conjunto de doutrinas para a manutenção da sociedade e, como a lusofonia possui o seu conjunto de Estados no mesmo universo, serve também para demonstrar atividade. Daí todo o imediatismo do paradigma, é preciso demonstrar que o país é o mais ativo, então, é preciso ter mais mensagens em lista que o vizinho, mais jornais, mais empresas, mesmo que todas elas desapareçam logo depois! É uma sucessão infinita de ‘agoras’ que são como espaços disputados à tapa para ver quem é o melhor, o virtualismo, em grande parte, surge para tapar buracos nesta luta incessante de aparências: não é preciso desenvolver nada nas relações sociais, à longo prazo, basta inventar vários elementos e fabricar uma identidade nacional, mesmo que não corresponda com a realidade.
A Comunidade Livre de Pasárgada, por outro lado, questionou todos estes elementos paradigmáticos, literalmente extirpando-os de sua sociedade pelo convencimento por parte dos notáveis e a adesão dos demais. Reproduziu-se uma sociedade diferenciada, marcada pela politização, onde passou a se entender o conjunto de cidadãos, não como meros personagens, mas como uma sociedade de pessoas de carne e osso com regras próprias e identificação de idéias no esplêndido sistema de Casas e Cantões. Entretanto, as inovações pasárgadas jamais se incorporaram ao paradigma dominante micronacional.
Pasárgada influenciava a lusofonia, fez com que muitas nações acabassem, por exemplo, dando maior importância para a política, ainda que na maioria das vezes, pensando somente em processos eleitorais mais animados. A lusofonia, porém, influenciou muito Pasárgada, a própria super-estrutura deste país, mesmo que com várias inovações, ainda era influenciada pelas limitações do paradigma dominante, gerando um sincretismo, uma disputa paradigmatica interna, onde um partido político, aquele do paradigma dominante da lusofonia, ganhasse o respeito e a admiração de toda a lusofonia para uma “heroica” missão: desmontar todas as inovações, em nome da democracia e da liberdade, questionando cada um dos pontos que Pasárgada conseguiu adquirir com muito esforço, as reivindicações da Casa Mundo Pasárgado, ou somente “CMP” foram sistemáticas: o “espaço para o virtualismo” durante o governo da CorPas, o “direito do mensagismo desenfreado” durante o governo AFP.
Hoje, Pasárgada se encontra corroída pelo partido do paradigma dominante. É um lugar de livre circulação de wundicos que bombardeiam a lista com mensagens-chat em alucinante ritmo de frenesi, além de o país não ser nem de longe uma referência como aquele que superou o virtualismo, mas sim, o país que se tornou apenas um na multidão. Com vários cidadãos, muita gente inteligente, mas apenas uma nação vagando despreocupada, sem nada à longo prazo, apenas vivendo o agora. Nem o próprio Bruno Cava aguentou ficar por lá.
5 – Voltando à Luta de Classes…
Tomo a liberdade de simplificar o esquema de classes. Ao invés de notáveis, notórios, esporádicos e inativos; pela falta de importância do inativo, vou exluí-lo e também, por não haver necessidade de aprofundar as diferenças entre notórios e esporádicos, uma vez que me refiro à utilização dos produtos do mesmo e não necessariamente a qualidade destes, unifico estas categorias. Desta forma, caio no mesmo esquema formado por Bruno Cava ao denominar uma divisão entre tipos de micronacionalistas de Extraordinários e Ordinários. Daqui pra frente, prefiro chamar pela denominação de Cava, pela falta de um nome para a unificação entre esporádicos e notórios. Que seja, vou abreviar como “EXT” e “ORD”.
Os EXT são aqueles que pensam o paradigma e seus elementos. Os ORD dançam conforme a música. Claro que não de forma tão mecânica, afinal, um micronacionalista pode ser ORD e com o passar do tempo e em seu próprio aprendizado e experiência, passar a ganhar qualidades que o qualifiquem como um EXT ou ainda regredir e passar a ser um ORD, como se trata de um conceito abstrato, não se trata de rotular cada micronacionalista como EXT ou ORD, mas entender que a própria prática de cada um pode conduzi-lo à cumprir um papel de EXT ou ORD em cada processo social.
Como bem observou Bruno Cava, os ORD são maioria e os EXT são escassos, não é impossível correrem o risco de extinção, causados por eles mesmos. Acontece que o paradigma dominante só é dominante porque os ORD, a maioria, são adeptos deste paradigma. Apenas uma atuação extraordinária pode questionar os valores do paradigma e assim, aglutinar ORD para um projeto diferenciado. A luta de classes é uma luta paradigmática, enquanto os ORD conhecem apenas o micronacionalismo corrente e preferem manter assim, sem pensar nas consequências futuras, os EXT tem a capacidade de revolucionar, mas assim, bater de frente com a consciência dos ORD.
Nenhuma destas classes é uniforme. Dentro dos EXT, existem aqueles que pretendem usar seu potencial revolucionário para questionar tudo o que não for necessário em termos paradigmáticos, seja o virtualismo, o mensagismo, o imediatismo; e ainda adaptar ao máximo a super-estrutura para a potencialização da produção genuinamente micronacional, do fortalecimento da identidade verdadeiramente micronacional que não pode ser inventada, mas somente surgir nas próprias relações sociais, o que maximiza a participação de cada um dos cidadãos e consequentemente, a sua experiência, propiciando que cada vez mais ORD tenham chance de serem EXT e melhores e mais conscientes micronacionalistas.
Ainda dentro dos EXT, existem, porém, aqueles que apenas querem se manter como lideranças estáveis entre os ORD. Daí, como estes ORD estão alinhados com o paradigma dominante, estes EXT, do alto de sua grande compreensão da lógica micronacional, não pretendem questionar o paradigma, mas adequar seu discurso e sua prática de forma que, consigam estar sempre em posições confortáveis, utilizando sua vantagem em uma sociedade onde “quem tem um olho é o rei”.
Por isto, estes EXT tem pavor daqueles que, em concepções extraordinárias, pretendem questionar o paradigma dominante que os sustenta o poder incontestável. Corre para tapar os olhos dos ORD que se aglomeram diante dele e ao sinal de qualquer possibilidade de ver os seus colocados em crise, partem para a ridicularização e reducionismo à la Bernardo de Alvarenga falando aos membros da CMP sobre o governo “do mal” da CorPas; os lideres havaneses escrevendo uma carta ridicularizando os pasárgados; Thedin chamando desesperadamente outros micronacionalistas de chatos ou prolixos e assim por diante. Estes EXT são traidores da classe, tem pavor de qualquer micronação que possa estar dando certo porque é aí que é mais propício o questionamento dos valores dominantes ou até a subversão destes. Estes EXT sempre defendem os ORD, mesmo em situações absurdas, defendem os ORD enquanto forem ORD. Defendem que exista uma classe cada vez maior de ORD, onde possam reinar absolutos.
Por definição, existem então, EXT revolucionários e EXT reacionários, aqueles que querem evoluir nossa prática micronacional e aqueles que pretendem manter o status quo permanentemente com ‘verdades absolutas’ e ‘consensos fabricados’. A luta revolucionária ocorre entre EXT e a consciência de senso comum dos ORD e o reacionarismo da conciliação de classes ocorre quando os EXT se unem aos ORD em coro contra os demais EXT.
6 – O Papel da União Soviética
O socialismo micronacional se postula como o modelo mais eficiente para o desenvolvimento de mais EXT, propiciando em seu coletivismo a maior participação popular, e em seu sistema estrutural, a manutenção de instituições e órgãos fortes, não momentâneos, com história e identidade onde o micronacionalista poderá ir desenvolvendo sua capacidade aos poucos, até explorar limites que outros países não podem atingir pela falta dr organização institucional ou oligarquização do regime. Em uma frase: buscamos fazer transformações à partir do paradigma pasárgado e do sistema campinense de forma a organizar paradigma e super-estrutura para a potencialização da infra-estrutura.
Cabe à União Soviética, fornecer auxílio à esquerda em âmbito intermicronacional, os revolucionários. Não os meros briguentos ou os que querem apenas se vestir de alcunha de socialistas, mas aos que procuram revolucionar paradigmamente. Não somos, ainda hoje, um modelo consolidado, mas já somos uma referência, a lusofonia nos observa e apenas nosso futuro, feito com muito esforço de todos poderá dizer se somos a esperança dos progressistas de toda o micronacionalismo lusófono, banhado nas crises cada vez mais fortes do paradigma dominante.
*Felipe Aron, soviético, é editor do periódico Pravda e micropatriólogo.
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Apollo Sector lecture
In: CAVA, Bruno. Micronacionalismo Lato Sensu. Reunião: Fundação Teobaldo Sales, 2006.
APOLLO SECTOR LECTURE.
Scott Siskind
Hello, and thank you for welcoming me here. I’m Scott Siskind of Shireroth, and it’s an honor to be able to address such a well-organized and well-informed class. I apologize for my lack of fluency in Portuguese – if there’s anything I say in English that you don’t understand, just tell me and I’ll try to rephrase it.
I’ve been asked to talk to you about the Apollo Sector. A lot of different people use that term in a lot of different ways. Since I don’t know what your other speakers will be covering and would hate to intrude on their territory, I will go for the strictest possible definition, and discuss only the Apollo Sector until the end of the UAS, with some added commentary on possible significance today (which I’m afraid I’ll have to limit to the Anglophone world, since I know absolutely nothing about Lusophone micronationalism).
Bruno tells me that you’ve already read a lot of information about this and other topics, so I’m going to try and do only a *very* brief summary of the actual history involved and concentrate on my commentary, which is the only thing I can provide that a good book on the subject couldn’t.
The Apollo Sector was a group of closely linked micronations founded by people from the Apolyton Civilization Site forum. The first of them, Apolyton, started up in August 1999, and was soon forced to change its name for copyright reasons. The country became Audentior and the sector become Apollo, as the word closest to Apolyton that no one could object to.
Audentior was originally a parliamentary republic, albeit not a very good one. A political party led by John Sager, Automatic For The People (AFTP), eventually got fed up with the leadership and led a revolt, leading to a cold war between Audentior and AFTP that lasted through early 2000. It was during this period of high activity that a few other nations sprang up – the Flying Islands of Jasonia, a split-off group from the AFTP, the Republic of Blackrock, a group of Irish people who showed up and associated themselves with us, the and United Demesos, which had been founded a bit before but began to pick up citizens and importance around this time. Eventually, militaristic pressures led to Audentior declaring itself an Empire under Emperor Evan von Christoph; this lasted all of a week before it burnt itself out and Audentior fractured. This only led to the Sector becoming more diverse, though – a few ex-Audentes, including myself, founded Hyperborea, and a few Jasonians founded Shireroth. All of these countries joined together in a loose group called the Apollo Confederacy to discuss issues and ensure peace throughout the region. This eventually ended in four of them – Tapfer (the United Demesos, renamed), Hyperborea, Shireroth, and Jasonia – deciding to put aside their differences and merge into a new Audentior, which they did. This one lasted two months before it was torn apart by internal conflicts. There was a brief struggle for supremacy, after which Jasonia came out on top, and enjoyed a few months of “Golden Age” – a flowering of culture. This period was also marked by a few small wars started by annoying terrorists – these ended with the Sector developing a united policy to prevent such things, and this unity eventually led to a sort of second merger, between Jasonia and a successor of AFTP with a Polynesian theme called Hauóli Éna. Once again, this merge lasted about two months before internal conflict tore it apart. There was another brief struggle for supremacy, which was won by a revived Shireroth, although Jasonia remained in existence for a while. Shireroth managed to absorb most of the Apollo Sector and hold onto it through the Tymarian age, and is probably the closest representative of it to last into the present.
This is all a *very* brief summary. For a much more complete history, I recommend http://www.geocities.com/giantsquid1_1999/temp/ApolloHistory.doc (you will have to copy and paste the link into your browser; Geocities doesn’t allow direct link-clicking).
What do I consider the significance of the Apollo Sector many years after the difference between it and the rest of the micronational community dissolved? I believe it helped establish a new sort of paradigm not seen before, at least in the Anglophone community. The Apollo Sector was a group of different nations that were so closely linked as to function as one community. In some cases, these links were through double citizenship – in happier cases, they were through nations that had strong alliances and ties with one another and a deep understanding of one another’s workings. While foreign affairs has existed in micronationalism for a very long time, this sort of shared history is, as far as I know, something that the Apollo Sector certainly shared in the development of. It is my thesis, although I think many people would disagree with it, that the Apollo Sector was, along with a few other places like Thomas Leys’ micronation site, the first nucleus around which the current Anglophone sector arose. The interlinked group that originally included only the Apollo countries was joined by other countries, such as Babkha and Attera through their foreign relations with the Apollonians, until eventually we developed the sector known today as Micras, where at least ten or twenty English-speaking nations are all more or less aware of each other’s existence and able to interact by discussing matters, forming alliances, and helping each other out.
Aside from helping out the cohesion process by simply existing, the Apollo Sector had a number of innovations and institutions that sped it up. The first of these was the Micronational Cartography Society, founded by Shireroth and Hyperborea in the days just after the collapse of the Union of Apollo States. The Society is an attempt to form a map on which all countries can be represented in relation to one another, and has been very successful. The map’s very existence makes countries more aware of their “neighbors” and encourages certain types of interaction like recwars and storytelling. In case you haven’t already seen them, they can be found at http://www.geocities.com/microcartography/. The second such institution was the Apollo Fireball, which I’m proud to say I was a part of. As one of the only micronational newspapers that published on a consistent basis, people interested in keeping up to date on micronations were eventually attracted to it, it started to cover other countries outside the Apollo Sector and thus to “expand the limits of the known world”, and bring more micronations in close contact with one another. The end result of a lot of this closeness was Tymaria, in which non-Apollonian countries like the Rasinate and Interland joined a tradition established in the very early days of the Apollo Sector and participated in a major merger. Although this eventually failed, it was responsible for causing even more unity among Anglophones, as everyone noticed a place as big as Tymaria and ended up interacting with it in some way, whether as participant, enemy, or interested bystander.
What really sealed the existence of Micras as a “sector” and a focal point for the community was http://www.micronations.net, the brainchild of Apollo Sector latecomer Iain de Vembria of Treesia. The MNN forum there provides a central space for people from all over to talk, and a number of institutions now hosted there like the MCS, the Apollo Foundation – a group that works on preserving history – the FNORD awards that reward excellence among micronationalists, and many other things draw people in.
The Apollo Sector is gone, but its legacy, in the form of the Micras Sector to which Shireroth, Babkha, Attera, and other well-known and interesting countries belong, survives. In the future, I foresee the Micras group “capturing” a higher percentage of Anglophone micronations in its orbit, as countries gradually come to see the advantage of having a strong and active community to work within. It would be great if someday we could have most if not all of the world’s micronations actively in contact with one another and working together on matters that concern all of them. I can’t really say what the future holds, although the Scheheradze Convention assures that we can look forward to continued peace, and MNN assures we can look forward to being informed in ever more interesting ways. I think the trend is toward more unity, in spirit if not in the form of mergers, and I think that’s a good thing.
I hope this has been the sort of lecture you were looking for, and if not, then I’d be happy to expand on anything I didn’t mention, although the book I linked to should talk about it in more detail than you could possibly want. While I’m thinking of it, is there any book describing a short history of the Lusophone sector in English? I just realized how little of your history I and other Anglophones really know, and it would be great if there were a way to change that.
Thank you for listening,
Scott
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Os dois pesos da Lusofonia
O Observador – Ano III – Número 18 – 25 de Março de 2006
OS DOIS PESOS DA LUSOFONIA.
Filipe Sales
Recentemente, o portal Lusophonia, vinculado à Agência Reuniana de Notícias (ARN), publicou reportagem denunciando o cadastramento do canal de mIRC do Principado de Sofia pelo nacional porto-clarense Lucas Silva que, dando continuidade a situação de vácuo de poder de Sofia sobre o canal #sofia, que é propriedade pública daquele país, registrou o canal alegando que o estaria salvando das mãos de adversários, mesmo argumento utilizado pelo imperador reunião, Cláudio I, para registrar o domínio portoclaro.com, que sequer encontrava-se como patrimônio público porto-clarense.
A recente situação se trata de apenas mais um capítulo da história do canal #sofia, amplamente utilizado pela sociedade sofista no passado, e ainda patrimônio do Estado, ainda que esteja em mãos estrangeiras há vários meses, desde a saída do rei normando, Marcus I Motta, que, como antigo primeiro-ministro sofista, carregou consigo o registro do canal e se recusou a devolvê-lo ao seu país de origem.
O ocorrido seria apenas mais o caso simplório do micronacionalismo lusófono, até porque a sociedade sofista já não faz mais tanto uso do canal, não fosse o fato de que estes mesmos argumentos foram utilizados pela Organização das Micronações Unidas – OMU, para “embargar” o Sacro Império de Reunião. Curiosamente, a OMU tem em sua composição a República de Porto Claro (cujo cidadão permanece com o canal sofista), o Reino da Normandia (cujo monarca e chefe de Estado permaneceu com o canal sofista e os orangers durante meses) e o próprio Principado de Sofia
O cenário demonstra o tamanho da imaturidade política de alguns Estados lusófonos, na medida que falharam ao impor um embargo de motivos vazios, motivos estes que permanecem dentro de suas próprias sociedades em situações semelhantes, o que só demonstra a evidente ausência de propósitos construtivos da Organização das Micronações Unidas, cujo único projeto unânime até o momento foi o embargo ao Império, que não surtiu os efeitos desejados e ainda invocou sérias crises em parcela dos países-membros daquele organismo
O micronacionalismo precisa de menos Estados amorosos e caridosos e de mais Estados profissionais e em busca de atuação mais condizente com os próprios objetivos do micronacionalismo lusófono: simulação política de um Estado na Internet.
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O Observador – Ano III – Número 20 – 15 de Abril de 2006
A NECESSIDADE DA REFORMA EDUCACIONAL.
Filipe Sales
O plano de governo do premier Dom Charles Goldstein de Murta-Ribeiro e Dom Bosco que, infelizmente, ficou a frente do Palácio Magistral somente por uma semana, em razão da falta de assiduidade dos qualícatos do PacSo, trouxe à público uma das maiores necessidades atuais do Império, senão a maior delas: a necessidade de reforma do atual sistema educacional.
Atualmente baseado no paradigma educação amplamente utilizada, ainda que sem sucesso, por todas as micronações lusófonas desde a criação da primeira instituição de ensino deste grupo, em Porto Claro, este sistema, por sua vez, importado da macro-realidade, principalmente daquele adotado na República Federativa do Brasil, o sistema educacional micronacional está amparado numa realidade absolutamente alienígena ao micronacionalismo, que é aquela fundada numa relação entre mestre e aluno; entre ignorante e sábio. Esta realidade é justamente o oposto dos pilares do micronacionalismo, da vontade dos participantes deste hobby em participarem de algo em que sejam, igualmente, mestres e chefes, e não discípulos e subordinados. Esta é a razão fundamental pela qual o atual sistema educacional utilizado na lusofonia nunca chegou a ser bem sucedido, por maiores e mais bem preparadas que fossem as iniciativas empreendidas no sentido de fazê-lo funcionar.
A outra razão pela qual o atual sistema sempre restou falho se dá por conta do meio pelo qual o micronacionalismo acontece diariamente. A realização por meio de listas de mensagens, por meio de e-mails, inviabiliza qualquer tentativa de se dar uma “aula” no sentido que conhecemos como ensinamento de determinada matéria sobre determinado assunto. Isso porque, invariavelmente, a tentativa de ministrar aulas via listas de mensagens se tornam em óbvias exposições de conhecimento, de forma que são muito mais palestras do que qualquer outro tipo de difusão de conhecimento. Obviamente, então, os “alunos” não participam diretamente e não respondem “provas” sobre a suposta aula. As pessoas não fazem provas sobre palestras, e nem é indicado qualquer ponto favorável a aplicação de provas como medição de conhecimento adquirido; aliás, sequer seria possível apontar uma razão pelo qual se fizesse necessário medir o conhecimento deste supostos “alunos”. O atual sistema educacional, portanto, fracassou da forma mais implacável.
Mas, baseado em conversas e debates entre diversos pensadores, dos mais variados setores da política reuniã, o premier Dom Charles Goldstein de Murta-Ribeiro e Dom Bosco, ainda que tenha ficado apenas uma semana à direção do Governo, deixou um legado fundamental para os próximos meses: o primeiro projeto concreto visando reformar o atual sistema educacional para um sistema de produção intelectual e científica a partir da sociedade civil organizada.
A reforma do sistema educacional deve partir de duas premissas: a primeira é que deve estar baseada em uma forma de produzir obras, tanto na esfera filosófica, quanto científica, quando artística, que esteja amparada na associação destes pensadores ao redor de uma produção intelectual deste porte. A segunda é que esta associação deve se dar de forma espontânea, mas apoiada pelo Estado. O Estado, nunca, deve partir como realizar de obras intelectuais, porque estas, as genuínas, nascem através da obra espontânea, mas deve, sim, dar amparo, estrutura e posterior possibilidade de publicidade, destas obras. Neste ponto, nasce a divulgação cultural de uma nação, tanto internamente quanto externamente.
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Revista de Estudos em Micropatriologia – Ano 0 – Número 1
PELA DEFESA DA ORGANIZAÇÃO DAS MICRONAÇÕES UNIDAS: POR ENTRE UMA BIPOLARIZAÇÃO EXCESSIVA.
Jorge Quinta-Nova*
As relações entre micronações sempre se pautaram pelos interesses de cada micronação particular e a acção dos seus diplomatas e cidadãos. Nem sempre esses interesses são tendentes à harmonia das relações entre elas, mas definem a acção e identidade externa da micronação.
Em certos momentos da vida destes fluxos internacionais, há concertações entre vários micro-países que nascem de convergências particulares de vontades e desejos semelhantes de projecção externa. Assim nascem as organizações internacionais, não de motivos únicos, mas com motivações abrangentes e várias.
Não parece, à primeira vista, plausível que 7 micronações tenham adoptado uma convergência em matéria de política exterior, principalmente quando falamos de micronações que, bem ou mal – isso é com os comentadores, são marcos da Lusofonia como a conhecemos hoje. Não adianta quantificar ou qualificar o contributo que cada uma deu. O certo é que pela sua mera existência e vontade soberana de existir, cada micronação ganha um lugar entre a Lusofonia.
Numa perspectiva linguística, a apropriação dos signos-poder são uma constante no discurso político-institucional de qualquer micronação. Muitas vezes, se não todas mesmo, um signo ou palavra-poder é apropriado por dois ou mais campos micronacionais. A oposição binária, pela sua escassez no corpus discursivo micronacional, oferece-nos uma boa perspectiva acerca do funcionamento dos grupos,
Todos poderemos notar que efectivamente há grande dispersão de signos-poder, i.e., signos que sejam directamente apropriados por mais do que uma micronação. Um exemplo salta à frente: “Verdadeiro micronacionalismo”, construção apropriada legitimamente por quem a utilizou inicialmente, mas tal como “micronacionalismo sério”, são dois signos frequentemente dissolvidos em novas construções da proposição. Não constituem signos-poder, pois dependem demasiadamente na adjectivação e não condensam os ideais políticos e ideológicos subjacentes a cada.
Resta-nos observar que a oposição binária, na sua acepção mais aproximada, manifesta-se com o objectivo da desqualificação. Agrupa os elementos, por mais distintos que sejam, e coloca-os como o mesmo objecto de desqualificação.
Não pode haver neste discurso terceiros elementos, e a existirem eles estão dispersos ao nível mínimo e sujeitos sempre à lógica geral do discurso. Tal acontece numa lógica de apropriação dos signos-poder, fundamentais na polémica (deriva de polemos, guerra) enquanto marcadores de discurso e sustentadores de autoridade.
Esta prática discursiva é tudo menos discutível, no sentido do combate político, mas tem o perverso hábito de, ao agrupar e massificar grupos binários, “incha” de tal forma a “garrafa” discursiva, impedindo uma perfeita comunicação pragmática no sentido de escorreita e adaptada à vida prática do dia a dia.
Fica aqui o elemento crítico. O mal (se é que lhe podemos qualificar como mal) é usado por muitos fazedores de opinião micro que no objectivo directo de manifestarem o seu desacordo do recente embargo da O.M.U. ao Sacro Império de Reunião, pervertendo um real significado político. Através da desqualificação, têm o condão de esconder uma mensagem útil de parte da Lusofonia.
Não é mal estrito de Reuniãos, ou de qualquer micro nacionalidade, é um recurso discursivo que impede a razão, racionalizando a emoção, e esbatendo num espiral de obscurecimento de reais e pragmáticas situações do nosso dia-a-dia.
A O.M.U. e o seu embargo escondem por entre excessivo e frondoso arvoredo discursivo, ornatos de poder e submissão, que em nada clarificam as situações políticas que se sucedem.
Mais para a frente um estudo linguístico-estatístico poderá evidenciar essas palavras-poder consoante os locutores e mapear o discurso.
A questão permanece: Preferimos desqualificar o adversário ou tentar obter uma qualquer espécie de compromisso?
*Jorge Quinta-Nova Halliwel, 31, algarvio, Presidente da Real Universidade Portuguesa e político, pratica o micronacionalismo há três anos.
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A necessidade de uma escolha
Portal em Estudos Micronacionais, 6 de Dezembro de 2006.
A NECESSIDADE DE UMA ESCOLHA.
Carlos Góes
O micronacionalismo em língua portuguesa hoje se defronta com uma bifurcação – com a necessidade de uma escolha. Qual seria, portanto, esta questão ora posta frente ao sistema fonético lusófono?
Poderia ser dito, que tal escolha seria entre o antigo e novo, entre um paradigma tradicional e uma nova perspectiva de micronacionalismo. Cláudio de Castro uma vez disse, durante a última crise reuniã, que o micronacionalismo não teria mudado, nós – os agentes no microcosmos, é que mudamos -, pois já não seriamos mais, em sua maioria, garotos de 15 anos querendo uma forma de diversão online.
Vemos cá um descompasso. A sociedade micronacional evoluiu, considerando o grau de preparação técnica-intelectual de seus agentes. Por outra parte, seus modi operandi continuam, grosso modo, idênticos. O pouco, o ordinário, aquilo que satisfazia há oito anos, ainda satisfaz.
Não causa incômodo, e.g., uma diplomacia pobre tecnicamente, que, além de pecar nos detalhes do direito inter[micro]nacional, não consegue transportar da realidade extramicronacional os costumes e experiências aplicáveis ao micronacionalismo. Ainda vige em Reunião a legislação macarrônica que traz dificuldade mesmo aos micronacionalistas mais experientes.
Evolução de agentes demanda evolução de práticas. O próximo movimento evolutivo que poderá apresentar-se no micronacionalismo de língua portuguesa, não se relacionará com paradigmas de abordagem micronacional, ao estilo realismo vs. virtualismo, enfrentado quando do surgimento Pasárgada.
Este próximo ato terá de ser um salto qualitativo. Terá de ser uma adequação da prática micronacional, para além dos níveis medíocres atuais, ao novo nível dos agentes micronacionais. Mais que isso, sendo o micronacionalismo prática político-social, este locus tem de propiciar possibilidade de evolução pessoal para cada um dos agentes.
Sendo antes observado um menor nível de qualificação técnico-intelectual dos agentes, era exigido menos das práticas para que essas possibilitassem a evolução desses – diferentemente de hoje, quando se exige uma mudança de práticas. Antes era interessante aos secundaristas ter seus primeiros contatos com o Direito, aprendendo como delinear um mandado de segurança. Os mesmos, hoje advogados ou quase bacharéis em Direito, já não podem evoluir neste caminho – carecem de um novo caminho para sua evolução.
Tal mudança, obviamente, terá de se estender por um longo leque de ações. Será necessário o delineamento de legislações mais complexas e completas, adequadas à nova realidade micronacional; uma nova postura de legisladores nas plenárias dos parlamentos; um bom grau de preparação técnica de chancelarias; sítios mais dinâmicos e funcionais, etc.
Qual seria a mola propulsora de tal mudança? Uma vanguarda nacional composta por esses mesmos micronacionalistas que evoluiu técnico-intelectualmente, bastando a estes a compreensão que cabe a eles uma mudança que os beneficiará. Falta hoje esta consciência.
Como toda evolução, isso não significa que aquilo que é passado deve ir para a lata de lixo. Sempre existirão jovens de 15 anos que poderão evoluir partindo dos mesmos níveis que temos. A questão é dar oportunidades de evolução tanto aos novatos quanto aos mais experientes.
A necessidade da escolha está posta, ainda falta a consciência de tal necessidade.
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GOLDSTEIN, Carlos. Hipocrisias, amadorismos e messianismos. Tribuna Popular. Ano IV, número 173. 27/01/2006.
HIPOCRISIAS, AMADORISMOS E MESSIANISMOS
“Serenamente, reparei que cada morto defendia sua causa e alardeava seus bons sentimentos. Ao lado, tinha todas as testemunhas de seus atos. Por exemplo, quando o cardeal de Lorena se vangloriava de ter feito aprovar algumas de suas opiniões pelo Concílio de Trento e, pelo preço de sua ortodoxia, rogava a concessão da vida eterna, apareciam subitamente em derredor dele vinte cortesãs ou damas da corte, todas elas trazendo gravado na testa o número de entrevistas amorosas que tinham tido com o cardeal”. – Voltaire, Dictionnaire Philosophique.
Nas últimas semanas a Lusofonia anda extremamente conturbada. Um dos sintomas desta agitação é o fato de que a lista da ImpresaLivre, ainda em meados de Janeiro, já atingiu o recorde mensagístico dos últimos 12 meses. Isto está diretamente relacionado com os recentes eventos envolvendo a Chancelaria Reuniã e o bloco liderado pelo Reino Unido de Portugal e Algarves.
O que mais impressiona em toda esta matéria é a atuação hipócrita, amadora e, quiçá, pretensamente messiânica de um sem-número de personalidades micronacionais. Os eventos têm caminhado para desaguarem em um conflito tão extenso que supera os próprios fatos; que, após um tempo, nem os próprios beligerantes sabem o porquê das intrigas.
Por uma parte, um feriu uma “moral universal micronacional” que fora estabelecida ainda nos tempos de Aguiar e ainda hoje se faz presente na Lusofonia. Por outra, alguns agem como os fariseus bíblicos, vangloriando-se de suas virtudes e de sua respeitabilidade a supostas regras de boa convivência intermicronacionais. Seguindo o exemplo do Cristo, deveríamos – toda a Lusofonia – esbravejar: hipócritas!, raça de víboras!, sepulcros caiados!
Aqueles que se colocam quase como que detentores da burra Boraque de Maomé aproximam-se da Grã-Bretanha e França – Estados então decadentes que se achavam grandes – em suas condutas na Sociedade das Nações (SDN). Seus plenipotenciários não exitavam em ir ao floor da Assembléia Geral fazer discursos humanistas enquanto o neocolonialismo pulsava nos confins do continente Euro-afro-asiático.
A construção da SDN esqueceu-se, ainda, que as elaborações legais e institucionais internacionais têm de corresponder aos fatos. Um legalismo exagerado quase leva a Europa do Sul e Insular à guerra contra a União Soviética em pleno Novembro de 1939. Seria cenário plausível a idéia de que a consolidação de uma aliança nazi-soviética, pelo conflito da URSS com as potências européias, seria quase imbatível e, nesse sentido, o mundo atual seria totalmente diferente.
Do mesmo modo, os “fariseus micronacionais” querem atribuir uma lei moral que é inaplicável à realidade do micronacionalismo. É notável que o “aliciamento” é praticado por cidadãos de todas as micronações – o que não implica que o seja por todos os cidadãos. Este “jugo desigual” pode trazer sérias conseqüências à prática do micronacionalismo.
Ademais, para a pintura da realidade, devemos somar a estes fatos um verniz de amadorismo recorrente. Amadorismo, principalmente, ao deixar que ressentimentos individuais e orgulhos feridos excedam os próprios interesses (micro)nacionais, fazendo do sistema intermicronacional, reino da razão por excelência, governado pelas paixões. Amadorismo, por não entenderem que ao apontar a lança não se enfraquece, mas fortalece-se o oponente.
Foi assim com a Rússia czarista de Nicolau II quando da erupção da Grande Guerra, está sendo assim com Reunião. A adversidade agrega os concidadãos em prol de uma só causa. Isto vai de encontro com a máxima estratégico-militar do “dividir para conquistar”.
Desenha-se hoje uma “corrida armamentista” lusófona, implicando em uma matriz de soma zero. Não obstante, em face à potência índica, duvido da capacidade dos europeus em sustentar esta corrida. Hão de notar que a cooperação é a possibilidade de uma autosuperação com ganhos mútuos da Lusofonia como sistema e não de um Estado em específico. O conflito, embora ocasione euforia inicial, os levará à ruína, não por Vontade Divina, mas por conseqüência dos fatos.
Sugiro que façam esta pergunta: cooperar com ganhos ou pelejar com perdas? A resposta não cabe a mim. Espero eu não ter de falar: “Pai, perdoai-vos, eles não sabem o que fazem”.
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