Saint Laurent Publications, 2 de Outubro de 2005.

DA LOUCURA INERENTE.
McMillan Hunt

Ser micronacionalista é ser louco? Pois nos enfornamos num mundo não existente para o resto do planeta, divagamos em abstrações e sonhos que não existem a não ser para nós. Mera parcela de internautas insanos que acreditam existir um outro plano para desenvolver suas vidas.

Pois nada somos senão iludidos , em crer poder fazer acontecer nos limites aquém da matéria. Por criar um novo ego para nossas almas , por dedicarmos nossas vidas à realizações que permanecerão intocadas a não ser por nós mesmos. Vivendo em dois mundos paralelos e simultâneos , nos baseamos na coesão de nossa própria ilusão.

Assim , unidos em nossa loucura , criamos , debatemos , transformamos e destruímos coisas que materialmente não existem , que apenas ocupam o território de nossa mente. Mentes incessantes , implacáveis , irrefreáveis , crente até a própria vida de que o que fazemos realmente existe e nos é significante.

“(…) Sábio é aquele que vive de acordo com as regras da razão , e louco , ao contrário , é o que se deixa arrastar ao sabor de suas paixões.”
ERASMO DE ROTERDÃ , ” Elogio da Loucura” – 1508

DA NOSSA PAIXÃO

Ser micronacionalista é estar apaixonado? Pois muitas vezes é inegável que este mundo não saia de nossa cabeça onde quer que vaguemos com nossas vidas , que aqui criamos sentimentos por algo que sabemos que , em pura razão , é plena loucura. Como dizem todos aqueles com que falamos deste nosso Universo , somos insanos sonhadores , sim , apaixonados pelo que criamos nesta nossa vida outra , e por isso é tão difícil largá-la , seus sofrimentos são como os da vida ordinária. Nossas emoções por vezes despertam-se mais neste nosso mundo , onde podemos fazer acontecer , estar no lugar social que realmente aspiramos , ter a posição de ação que nossa personalidade almeja!

Por quê não largar isso tudo ao ver que nada disso existe? Pois nada existe senão aquilo que presenciamos e alteramos , pois somos apaixonados pela paixão deste nosso meio de vivência tão sólido , que faz-se ser crente ao simplesmente experimentar ousar dedicar-se apaixonadamente.

DE COMO É BOM ESTAR APAIXONADO

Ser micronacionalista é gostar de apaixonar-se? Pois o que mais faz-nos sentir vivos , pulsantes do o nosso próprio coração ardendo? Seja por um moço , uma moça , uma obra , um livro , um trabalho , enfim , ao que quer que seja! Verdade nos é que este nosso mundo nos proporciona muito mais potencial de paixão do que o ordinário , aqui nossas vidas são notadas , aqui nossas idéias se fazem perceber , aqui alteramos realmente o meio que vivemos.

Sem contar que aqui somos livres! Livres apaixonados regulados pelos limites de nossa imaginação , a coisa mais apaixonante para todo homem , que o permite além de tudo , apaixonar-se por qualquer outra coisa. Ou seja: que o faz sentir a si mesmo.

Estar apaixonado é como aumentar as proporções de nosso ser para o exterior , fazer uma comunhão sentimental com aquilo que preenche o ser. É como estar assim pois vamos até as últimas consequência de nós mesmos , pois nos dedicamos sem compromisso ou vontade de reconhecimento ao que quer que façamos.

DE NOSSA LOUCA RAZÃO

Ser micronacionalista é usar alguma razão? Pois sem ela nada nos anda , tudo o que fazemos tem ela como intermédio. Embora sejam os ditamos de nossos sonhos os planejadores deste nosso Universo , é a Razão sua construtora. Pois uma vez mergulhado conscientemente na loucura , aflora-se a razão.

Pois o entendimento de ser louco é também lógico & racional. Em tudo , e em nossa loucura não seriamente diferente , existe algum tipo de razão que possa ser identificada ou apreendida. Embora num mundo não material , Nós , os Homens! , desenvolvemo-nos também naturalmente nesta realidade , e é faculdade genuinamente nossa fazer tudo de acordo com a nossa mente , no caso , racional.

Ser micronacionalista não é fugir para os limites infinitos da insanidade , é aceitá-la justamente como uma ferramenta de ajuda na construção de nossa razão.

DO RELATO DE UM LOUCO

Sou louco?Pois aceito tudo o que foi dito e , ainda sim , sou feliz e não pretendo deixar de ser micronacionalista! Ao contrário , o quanto mais vejo que todo este nosso Universo é senão criação de nossa própria imaginação , de nossos sonhos , da Lua! , Eu mais gosto de tê-lo ao meu lado.

Não pretendo voltar. Irei mergulhar o mais profundamente possível neste micronacionalismo , não há , além de tudo , muita saída para os que já foram apaixonadamente , a aceitaram de braços abertos a nossa Loucura Inerente.

E além de Ser um Apaixonado , adoro me apaixonar! E não quer parar com isso em minha vida , pois quanto mais apaixono-me , simplesmente mais vivo! Apaixonar-se até morrer , seguir nossos instintos mesmo que sejam de um ponto de vista…Loucos.

” E , por isso , sede saudáveis , senti o sabor da alegria , vivei , bebei , ilustres iniciados nos mistérios da Loucura.”
IDEM

Anúncios

Saint Laurent Publications, 21 de Dezembro de 2004.

CRÍTICA AO MICRONACIONALISMO LUSÓFONO.
McMillan Hunt

Para qualquer da Comunidade Micronacional Lusófona,
Cuja mente possa tudo ler:

Neste período em que encontro-me, em que a ilusâo com o micronacionalismo pode ter sido, estar sendo ou vir a ser em seu ápice, consigo ver-me numa posiçâo um pouco peculiar acerca daqueles micronacionalistas que geralmente me cercam, em meu país e na comunidade em que o mesmo está inserido.

A primeira das coisas, motivo apenas inicial para nossa incrível distância é que a maioria dos mesmos parece estar viciada, fanática por simplesmente mandar mensagens de e-mail e posteriormente calcular, somar, gabar e envaidar-se e alimenta-se com seus números. Participar da Lista Nacional de Mensagens Eletrônicas é apenas uma fagulha do que um micronacionalista pode fazer, produzir ou apreender.

Isto pois, ao contrário do que certas ciências micronacionais possam estar vindo a deduzir nos últimos tempos [ lusofonia ] Nosso Território nâo localiza-se nos diretórios de informaçôes eletrônicas [pois estaria fragmentado em milhares de espaços (como HD´s dos cidadãos, dos servidores de internet, dos filtros eletrônicos, em chips de câmeras, em fitas e filmes de câmera, etc) e a micronaçâo, óbviamente, de modo algum significa ou manifesta fragmentação, ao contrário, existe somente enquanto uma certa forma de união muito intensa e SENTIMENTAL entre seus integrantes ] , a micronaçâo existe de modo tão real quanto nossa vida [a começar pelo fato de que somos NÓS CONSCIENTES que realizamos as coisas para o micronacionalismo, partindo do verdadeiro e único potencial que cada qual carrega em si ] e de modo algum pode estar calcada NO ELETRÔNICO, mesmo sendo uma micronaçâo-virtual*.

É necessário ver que bytes nada dizem, nada são por si só. Quando estamos numa micronaçâo? A lusofonia começou e viciar-se em criar bens eletrônicos para manifestar-se. Não posso mais esconder que, a grosso modo, faço um coro de Pedro Aguiar, e digo que as micronaçôes-virtuais estão em ou são um Reino Platônico.

* deve ver-se que mesmo este termo tem uma acepção diferente dos próprios significados semânticos que poderiam originar-se do estudo ou consulta da pura gramática brasileira, que caracteriza o adjetivo da seguinte maneira: “adj. m. e f. 1. Existente como potência ou faculdade, porém sem efeito atual. 2. Suscetível de se realizar; potencial. 3. Diz-se de imagem que tem seus pontos nos prolongamentos dos raios luminosos de um foco. = DIC Prático Michaelis” que muito difere da concepção originada mediante apresentaçâo do termo para os micronacionalistas. Trato de micronação-virtual como aquela micronação que não existe de modo físico-material em sua unidade (embora possa manifestar-se neste plano por meio de cartas, mensagens eletrônicas, papéis, desenhos e etc). De certo modo a micronação-virtual existe materialmente, mas somente como fagulhas solitárias DO MICRONACIONALISMO, pois o fenômeno material-micronacional é um grande e complexo derivado de uma existência imaginária. [tratarei em muitos caso de \micronação-virtual\ simplesmente como \micronação\ ]

Seriamos descaradamente ingênuos caso nâo partíssemos para considerar o consenso imaginário que uma micronação gera. Creio que o território que devemos explorar para as pesquisas micronacionais deve agora ser este, as formas de Imaginação e Memória que uma micronação forma.

Assim, sem uma possibilidade de conexão assídua ou paciente à Internet acabo realizando um distanciamento compulsório-voluntário ante a Comunidade que co-habito. Mas ao mesmo tempo que minha participação em Lista é morna creio estar produzindo micronacionalmente como em poucos momentos de minha vida.

Meus caros, já pensaram que uma vida micronacional é uma vida real? Não é a vida real que gastamos para dedicar-nos ao micronacionalismo? O quê e como iremos produzir para nossa construção humana é uma questão que todos deveríamos resolver.

No meu caso tenho pouquíssima paciência para dedicar minhas madrugadas ou tardes a ficar postando mensagens em uma lista enquanto as mesmas só deveriam aparecer quando um pensamento de ato interessante e relevante ocorresse e a minha mente não é um poço transbordante de inspiração.

Creio que os micronacionalistas poderiam dedicar-se em algo diferente, ao menos em seu computador, do que ficarem pendurados à Internet criando bugigangas de bytes. Se é um jornalista fique pendurado ao Front-Page a nos arquivos virtuais, se é um escritor gaste seu tempo no Word, se é construtor no Dreamweaver, artista gráfico no Corel, etc. O trabalho deve ser uma constante quando ocorre um ato para o micronacionalismo. O ócio não pode tomar lugar também na atuação dos seres no micronacionalismo, deve ser um espaço de realização para mentes interessadas em realmente produzir a aprender com o uso de sua imaginação, poder intelectual e mental.

Qual o problema de especializar-nos em nossas atividades micronacionais? Tudo o que devemos fazer é isto, desenvolver nossas aptidões e potenciais interiores. Vamos produzir material micronacional fruto de um trabalho intelectual-humano de fato, Arte de verdade, História de fatos, Cultura verdadeira. O micronacionalismo deve ser marcado por palco de atuação para a vida de grandiosos homens e de seus magníficos e imaginativos trabalhos paralelos enquanto \realidade\ mas frutos verdadeiros das aptidões mentais humanas!

A formação de \profissões micronacionais\ é um passo que devemos dar, irremediavelmente. A Lusofonia é um tipo muitíssimo peculiar de MICRONACIONALISMO e já está mais do que na hora de consolidar-se \ciências micronacionais\ , por exemplo.

Quero, secundariamente, citar que esta distância dá-se pois estamos longes em termos de realidade. Embora sejamos ambos participantes do MICRONACIONALISMO parece que isto significa e projeta-nos mundos e planos diferentes. Embora a mais íntima concepção disto seja realmente pessoal, individual e única é notável que exista grossos blocos padronizados dela, formadores da REALIDADE MICRONACIONAL. E é neste jogo de blocos de padrões de interpretação do MICRONACIONALISMO que sinto-me um tanto em separado da maioria dos que posso ver.

No meu ver os micronacionalistas estão encarando o micronacionalismo de modo pejorativo e assim praticando-o de modo falso, desleixado, fraco e ocioso. O que mesmo antigamente tinha o também pejorativo termo de \hobby\ [ pois é muito mais do que isso simplesmente ] agora adota uma acepção ainda pior, de uma brincadeira ou jogo eletrônico.

Custa-se a notar que praticar o MICRONACIONALISMO é muito mais do que \simular\ um país que não existe. No mínimo é a criação e sustentação de um plano imaginário coletivo para viver-se. A criação material de manifestações micronacionais [ seja eletrônica ou não ] é uma ferramenta de facilitação do transporte da consciência para este plano mediante identificação de símbolos [por isso geralmente já conhecidos ] a fim de virarem sinais, sentimentos. Muitas vezes isto funciona como um processo inconsciente porém voluntário por parte dos micronacionalistas.

Nossa realidade passa a estar calcada muito mais em tendências viciosas micronacionais do que em virtudes humanas. Isto gera uma própria banalização do ideário micronacional, que também passa a tornar-se menos virtuoso, e assim, do mesmo modo menos construtor para o ser. A Comunidade é mais alvo de investidas de fantasias tendênciosas da pessoalidade ou da própria inércia da ignorância de má-vontade do que de atividades criativas e dedicadas sem ânsia de mérito.

Não estamos em nossa micronação somente quando sentamos na frente do computador ou navegamos em suas web-páginas. Estamos no MICRONACIONALISMO quando sentimos isto, quando simplesmente imaginamos realmente estar praticando outra vida em um lugar diferente sob leis e regras de funcionamento também distintas das que estamos ordinariamente acostumados a vivenciar [ no MACRONACIONALISMO ] .

Praticar o micronacionalismo não é simplesmente \deixar a vida pra lá\ ou \praticar o ócio\ mas sim deslocar o local de sua vivência integralmente. A VIDA é a mesma, o micronacionalista escolhe se irá praticá-la em sua macro ou micro nação.

Falta-nos direcionar nossa dedicação mental, o emprego de nossos potenciais em nossas atividades, a interpretação verdadeira de nossas aspirações, o desenvolver de nossos poderes e o realizar de nossos interesses.

Eu vejo nos dias de hoje pessoas praticando o micronacionalismo que elogiei aqui, são poucos e estão espalhados pelo micromundo. Estes já são os pioneiros na criação e estudo do conhecimento e implementação da ciência e sabedoria voltadas integral e genuinamente ao micronacionalismo, na vontade de dar a plenitude das capacidades humanas que possam no mesmo ser empregadas.

Embora este movimento possa ser uma própria tendência oriunda da evolução micronacional não são os caminhos observados, nos dias de hoje, pelos micronacionalistas. É na vista disto que é necessário a Comunidade saber que estamos andando a passos de tartaruga ou a direções de auto-destruição.

Aliada aos micronacionalistas persistentes e escassos que hoje ainda existem [ de mais de 3 anos ] e que detém grande parte de poder do potencial desta mudança existe uma grande fatia de micronacionalistas muito jovens e de força-de-vontade que em suas vidas micronacionais apenas aguardam um direcionamento que sirva de base para desenvolvê-las.


Tribuna de Marajó – Ano IX – Edição 1 – 7 de Março de 2006

A CONSTRUÇÃO DA DEMOCRACIA.
Bruno Crasnek

O conceito de democracia – do grego demos, povo, e kratos, poder – encontra sua origem em Aristóteles, que em sua “República” concebe-a como a “menos boas das formas boas” de Governo: classifica-o como o regime da “liberdade bem desenfreada” e ao descrevê-la, faz menção ao aparelhamento do Governo pelos “pobres”; em resumo, apresenta a democracia como um regime ditatorial. Entre Aristóteles e John Stuart Mill, passando por Marsílio de Pádua, Jean Bodin, John Locke e Jean-Jacques Rousseau, o que outrora considerava-se como “governo do número” passa a confundir-se com a liberdade do indivíduo em sua relação com o Estado, seja de expressar-se ou associar-se afim de influir na política, seja no pleno gozo do jus sufragii e do jus honorum (na antiga Roma, o direito de eleger e o direito de ser eleito, respectivamente). Ou seja, confunde-se democracia com sufrágio universal e órgãos representativos. A derrocada do Estado (neo-)liberal e a falência das instituições representativas, hipótese levantada por autores de Karl Marx (e o determinismo histórico) a Giorgio Agambem (e o estado de exceção), põem em risco a teoria moderna da democracia ocidental, que remonta suas origens ao conceito de soberania popular e ao contratualismo europeu dos séculos XVII e XVIII.

No micronacionalismo, a democracia constantemente é invocada como valor fundamental na consolidação de uma sociedade micronacional – da mais absoluta monarquia à mais participativa das repúblicas. Obviamente, em oposição aos “valores democráticos”, encontramos a figura do tirano, o déspota sanguinário acusado de exercer, de forma silenciosa ou espalhafatosa, total controle político – muitas vezes até pessoal – sobre seus súditos. Melhor que eu, Hilal Iskandar, em seu “O Demiurgo”, tratou de forma extraordinária acerca da falta de razoabilidade existente no conceito de “tirania micronacional”, fruto do maniqueísmo que insiste em povoar corações e mentes micromundo afora. De igual forma, é comum confundir os conceitos de “tirania” e “absolutismo”, esquecendo-se que o governo absoluto, geralmente, é legítimo. Embaralham-se, aí, os conceitos de “legitimidade” e “limitação jurídica”.

Discutir democracia, na acepção extra-micronacional do termo, no micronacionalismo, comprovadamente é inoperante. No entanto, discutir “democracia” micronacional não é um trabalho de transplante teórico, e sim de construção empírica, indutiva: Ao reduzir-se o conceito de democracia micronacional ao simples ato de descadastrar-se de uma lista, deduzimos que são igualmente democráticos uma monarquia absoluta e uma república socialista. Não apenas no tocante à democracia, mas a aplicação matemática do formalismo conceitual extra-micronacional à realidade micronacional, como cidadania e exercício do poder político, depara-se com o que chamo de “escatologia micronacional”: No fim, tudo resume-se ao “Apagar este grupo”. Utilizando-se de conceituações extra-micronacionais adaptadas à realidade micronacional lusófona, arrisco-me a deflagrar o debate acerca da democracia micronacional em torno da garantia do exercício do poder político por parte dos cidadãos, tanto o direito de votar quanto de ser votado e, uma vez eleito, exercer sem embaraços o mandato popular a ele outorgado.

Arrisquei-me a entrar neste tema após a promulgação da Carta Magna da Federação Ibero-Americana, cujo trâmite de elaboração envolveu três projetos de estruturação político-administrativa, dois ante-projetos constitucionais e ao menos cinco versões do texto. De autoria de Rafael Roriz sobre o modelo de Bruno Crasnek e Vítor Almeida, a elaboração da Constituição contou com efetiva participação de pelo menos duas dezenas de micronacionalistas que abandonaram a praxe micronacional da cópia descarada, seja micronacional ou extra-micronacional, e ajudaram a construir um dos mais modernos diplomas jurídicos já emanados por um Poder Constituinte Originário *de fato*.

Enquanto a “democracia micronacional” não sai do campo da abstração teórica e dos discursos demagógicos, a Federação Ibero-Americana propõe-se a constuir um modelo micronacional prezando e incentivando a participação popular, superando a experiência portoclarense de consolidação de um Estado micronacional não através da figura do líder carismático ou do ditador sanguinolento (ou ainda a mescla dos dois), mas sim sob o império da Lei e da participação popular.

 


O Observador – Ano II – Número 15 – 27 de Novembro de 2005

O DIREITO CIVIL MICRONACIONAL.
Filipe Sales

Ninguém discute que o direito dentro do micronacionalismo ainda dá seus primeiros passos para que possa estabelecer-se de forma original e independente em um ambiente absolutamente restritivo: a Internet. Embora a quase absoluta referência doutrinária de nosso direito ainda resida nas obras jurídicas advindas, principalmente, da República Federativa do Brasil, já é possível encontrar algumas primeiras manifestações de obras genuinamente micronacionais.

Recentemente, com a aprovação da nova Lei de Família e Sucessões reuniã, a comunidade internacional lusófona pôde ter acesso à primeira manifestação originalmente micronacional de algo semelhante ao instituto da menoridade civil. Embora práticas anteriores, presentes em boa parte das antigas micronações da lusofonia, mantenham firmes a idéia da incapacidade política daqueles que, recentemente, fazem seu primeiro contato com o micronacionalismo, não era atribuído nenhum sentido para isto senão o medo de que os novos cidadãos sejam, na verdade, paples. Não havia, pois, menoridade civil, mas apenas uma manifestação de proteção do Estado contra eventuais duplas-personalidades. Mas a nova lei de Família e Sucessões reuniã abre espaço para que o direito civil possa ter seus primeiros passos dentro da lusofonia. Com sua aprovação, se estabelece que é anulável o casamento de pessoa que ainda não tenha completado sessenta dias a partir da concessão de cidadania por parte da autoridade reuniã competente. Firma-se a menoridade civil como o período entre a concessão de cidadania e os sessenta dias subseqüentes à este ato, obviamente, para aqueles que fazem seu primeiro contato com o micronacionalismo lusófono, razão pela qual se protegeria a parca compreensão destes novatos sobre o micronacionalismo, colocando seus primeiros atos como passíveis de anulação judicial.

A atitude inicial da Assembléia Popular de Qualícatos em criar as primeiras instituições sólidas do que seria o direito civil reunião, dão margem à idéia de que percepção da necessidade de instituições jurídicas fortes que regulem a sociedade civil reuniã em suas relações particulares, abrindo possibilidade para que, futuramente, maior credibilidade se dê à esta área.

 


Revista de Estudos em Micropatriologia – Ano 0 – Número 1

FORMAÇÃO ESTATAL E CONTRATO SOCIAL: BREVE INTRODUÇÃO À TEORIA GERAL DO ESTADO MICRONACIONAL.
Raphael Garcia*

Após anos de debates acerca da formação do Estado Micronacional e de sua organização, podemos dizer que já existem as mínimas premissas necessárias para se formar uma teoria realmente válida e se criar um esboço funcional da maneira como se configura o Estado, de seus elementos principais e do jogo de poder que existe entre suas “partes”.

Antes de mais nada deve-se observar a situação intermicronacional do Estado, observar a composição e formação desta entidade. Segundo Murta-Ribeiro,

Estado é a entidade necessária em que se observa o exercício de um governo dotado de soberania para exercer seu poder sobre uma população, num determinado território, onde se cria, executa e aplica seu ordenamento jurídico, visando ao bem comum. Um conceito mais simples de Estado coloca que este é uma entidade para a qual o povo sede soberania sobre si próprio para que aquele regule e administre a vida em sociedade. (Murta-Ribeiro, Filipe A. Sales. Manual de Direito Internacional Público. p. 4)

Em resumo, o Estado é uma entidade com Território, Povo e Soberania para ser exercida sobre os demais elementos. Até este ponto não é possível vislumbrar diferença alguma entre o Estado macro e o Estado puramente Micronacional e com suas especificidades. Segundo o Imperador Reunião Cláudio primeiro, “uma micronação é uma simulação política e de sociedade, em que pessoas voluntariamente escolhem participar, aceitando suas ‘regras’ (leis) e ‘parceiros’ (concidadãos)” (Castro-Bourbon, Cláudio. O micronacionalismo é uma brincadeira?). Para Pedro Aguiar, “fundador” do micronacionalismo lusófono,

Assim como há simulações de empresas, aviões e sociedades secretas, há simulações de países. Uma micronação não é um jogo, porque não tem regras definidas. Mas é um hobby. Também não é uma tentativa de declarar independência de nenhum país: é apenas uma simulação com objetivo de simplesmente divertir. Não é correto chamar uma micronação de “país virtual”, porque dá a impressão de que elas só existem pela Internet. Na verdade, as simulações de países existem desde muito antes da Internet e a imensa maioria delas se comunica pessoalmente ou por carta. A Internet é apenas um meio que facilita o contato entre as pessoas, e mesmo com outras micronações. (Aguiar, Pedro. Texto disponível no Site do Estado de Porto Claro)

Porém, antes de qualquer análise mais aprofundada dos Elementos Fundamentais do Estado, é preciso ressaltar um aspecto da formação Estatal. Muito presente na filosofia política macronacional é a idéia contratualista, representada por escritores de peso como Hobbes, Rousseau e Locke.

Em uma rápida explanação, que busca ressaltar as semelhanças das visões dos diversos contratualistas, esta doutrina prega que os indivíduos ao adentrarem no Estado implicitamente assinaram um Contrato Social que traz as diretrizes básicas daquela sociedade específica, como, p.ex., a subjugação ao poder estatal e a aceitação e respeito às leis e costumes. A existência de um Contrato Social seria eterna, pois embora exista a possibilidade do indivíduo mudar de um Estado para outro, sempre este estará submetido ao jugo estatal, seja ele de qual Estado for. (Goldstein, Charles. Texto baseado em conversas pessoais).

O Micronacionalismo observa de forma mais que clara a presença de um Contrato Social desde sua concepção, um Contrato próprio. A visão de Contrato Social – embora em uma análise mais profunda e detalhista, bem diferente do contratualismo macronacional, em seu núcleo teórico similar – é de fácil verificação na necessidade de aplicação formal para se entrar em qualquer micronação lusófona, materializada por formulários de imigração ou similares. Ao adentrar em uma micronação aceitamos formalmente o modus operadi desta, aceitamos suas leis, costumes e tradições.

Neste ponto podemos considerar um ponto de conflito, seria considerado “legal”, válido, um Contrato tendo como base a entrada de um cidadão com objetivos meramente destrutivos, sem a real intenção de aceitar o “way of life” próprio da micronação?

Seria – ainda – a idéia de Revolução uma quebra formal do Contrato?

Assim como se verifica a existência de um Contrato, verifica-se também a presença de um Estado de Natureza; Este último um estado de mera alienação – no sentido Marxista de desconhecimento de uma realidade (maior) -, não precisando se de conflito ou harmonia, apenas outra realidade separada que por vezes se tocam, mas não se confundem ou se assemelham plenamente.

Deve-se notar que o Estado de Natureza é aquele especificamente pré-entrada no Micromundo, a alienação; porém ao se tornar apátrida, o micronacionalista não volta ao Estado de Natureza – algo que seria impossível pois a fase de alienação já há muito foi superada! – e sim aceita tacitamente o Contrato Social. Diferentemente do mundo macro é perfeitamente possível “existir” no micromundo e ao mesmo tempo não estar submetido a nenhum Estado, a nenhum Contrato formal, mas ainda assim distante do Estado de Natureza.

Uma característica de máxima importância que torna o Contrato micronacional diferente de seus correlatos macronacionais é a possibilidade de se extinguir o referido Contrato. Ao sair de uma micronação extingue-se o Contrato formal assinado na entrada de um cidadão a uma micronação específica, há ainda a possibilidade de se entrar em outra micronação – havendo então a assinatura de um novo Contrato – ou até mesmo de voltar a uma micronação anterior havendo novo Contrato. Em alguns casos específicos, como os de Reunião e Pasárgada, o Contrato de um cidadão extingue-se apenas através de pedido oficial (abandono de cidadania) ou mediante preenchimento de formulário de imigração de outra micronação. Para demais casos (até mesmo a saída do micromundo) a cidadania ou o Contrato permanecem válidos.

Em resumo, podemos diferenciar os modelos micro e macronacionais perfeitamente, enquanto o Contrato é eterno do ponto de vista macro, do lado micro ele pode ser “rescindido”, desfeito a qualquer momento.

Devemos observar, ainda, uma singularidade do Estado micronacional que é a relevância ou preponderância do fator “Povo” sobre seus demais elementos constitutivos. Quando falamos em Soberania Estatal estamos nos referindo – no caso micro – muito mais em relação ao Povo que ao Estado propriamente dito. Como mencionado antes, não é incomum que o Estado micro seja a personificação de um indivíduo ou de um grupo líder, este (o Estado) mantém suas características, mas demonstra uma preponderância pelo Povo que passa a ser a maior referência da soberania (no caso micro a Soberania Popular é levada até o máximo) e o Estado é relegado à função de mero diferenciador (observamos este fato nas concepções Virtualista, Modelista e Derivatista majoritariamente).

Não há simetria perfeita entre Povo-Soberania-Território (no caso Modelista, Povo-Soberania-Território-Território Referencial-Soberania Virtual) e sim a mais pura primazia pelo Povo:

 

As Relações Intermicronacionais observam muito mais o poder de indivíduos, a soberania de indivíduos – popular – personificando Estados que o modelo das relações internacionais macronacional. O elemento “Povo” possui clara preponderância na constituição do Estado micronacional, demais fatores são não só ligados as também agem em função deste.

Os conceitos de TR e SV, presentes no Estado Modelista, foram criados por cerca de seis mãos, as de Bruno Crasnek, Raphael Garcia e Bruno Cava, frutos de extensas discussões durante a existência do FUPEP (Fundação Pasárgada de Estudos Políticos), em Pasárgada e do IPC (Instituto Pablo Castañeda), em Marajó. Pessoalmente enxergo nestes “elementos acessórios” do Estado Modelista uma relação maior, uma interação maior com o Território que com os demais elementos (Soberania e Povo) por serem – dentre outras coisas – elementos puramente virtuais, sem serem prerrogativas necessárias para a existência do Estado Micronacional como conhecemos.
Para o Modelismo, existe uma soberania (V. Garcia, Raphael. Concluindo. (e-mail no grupo da Fundação Pablo Castañeda) sobre o território referencial, assumida pela ocupação e pelo reconhecimento externo, ou seja, ainda que não sejam elementos essenciais, a Soberania Virtual e (sobre) o Território Referencial, são elementos indispensáveis para a identidade deste modelo de micronação que poderia perfeitamente ser chamado de MicroEstado.

Nas nações conhecidas como One-Man-Nations, não existe clara diferença entre o povo (apenas um indivíduo) e a Soberania. Como dito antes, a Soberania Estatal micronacional age em função do povo, porém não há exatamente “povo” em uma micronação onde habita apenas um cidadão, seu Rei/Governante e é ele apenas que exerce a Soberania e a tem exercida sobre si. Mais que se confundir, a Soberania e o Povo da micronação em estudo se fundem, tornam-se o mesmo, o único cidadão torna-se “detentor” e aquele quem exerce a Soberania sobre seu território e apenas sobre ele.

Por fim, temos os Estados Absolutistas ou até mesmo Estados onde há forte ou total identificação/subordinação do Povo frente a um Monarca ou “cidadão Esclarecido”, este “ser especial” passa a ser o centro vital da micronação, penetrando em todas as esferas, transformando-se até na própria micronação, casos como estes são vistos na reunião de Cláudio Castro, Pasárgada da era Bruno Cava, Porto Claro sob o Aguiarismo e etc.

Estes breves comentários servem como introdução aos diversos modelos micronacionais, aos diversos modelos de Estado e à teoria básica necessária para se entender – ao menos – a Lusofonia, sem achismos e de forma clara, científica.

*Raphael Scott-Muniz Garcia, 20, reunião, Sloborskaio (Honorário) Micropatriólogo, Cientista Político Micronacional, MicroSocialista, Conselheiro Imperial, Secretário de Filiação do MicroSoc, Deputado Real Mariano, Embaixador na URSS, Detentor da Ordem da Cruz de Strauss.


Editorial

A volta dos panfletos.
Há cerca de seis meses era lançado O Socioculturalista número 11.Era a primeira fase de nosso projeto: delineação paradigmática, propagação de idéias e tentativa de implementação de um projeto. Foi um período importante, embora conturbado – tanto na consolidação da Escola Socioculturalista no micronacionalismo lusófono, quanto em meu caminho micronacional. O socioculturalismo impactou e polemizou: provocou a perseguição generalizada contra mauritanos – encabeçada pelo ex-Lorde Protetor Gerson França; e a rejeição de minha postulância à cidadania em Pasárgada – situação até o presente parcamente compreendida por mim.O interessante foi ver que o socioculturalismo influenciou intermicronacionalmente, a julgar pelos feedbacks pessoais que tive – via Messenger ou e-mail. Chegou, para mais além de Maurício, a toda Reunião, a Pasárgada, a Porto Claro, a Pathros, à Alemanha e, curiosamente, ao clero micronacional. Isso foi, sem dúvida, uma realização. Foi frustrante, todavia, a ausência de um projeto verdadeiramente socioculturalista levado a cabo em alguma micronação. A importante experiência mauritana fora esmagada ainda infante – o que inviabilizou uma análise empírica das proposições socioculturalistas.

É importante notar, sem dúvida, que ainda existia um choque de interesses muito claro no micronacionalismo de outrora. Choque que Felipe Aron classificaria como uma dicotomia entre extraordinários revolucionários vs. extraordinários reacionários. Estes, amantes do velho micronacionalismo, que se prendem aos velhos métodos e às tradicionais tecnologias, sonhando com os “áureos” tempos do fim do Século XX. Aqueles, que sabem que a essência micronacional não é mensagísticas ou polemicista; que compreendem que um projeto [micro-]nacional reside nos laços de identidade, na cultura, na aspiração de um destino comum, em um locus coletivo, em – nos dizeres do marcante sociólogo Benedict Anderson – uma comunidade imaginada.

Fato é que, após as conturbadas polêmicas de 2007, uma espécie de modus vivendi se estabeleceu. Arrefeceram-se as disputas e, claramente, no decantar da história, existe hoje uma clara tendência que favorece as experiências de revolução micronacional. Uma revolução que nada tem a ver com marxismo – ressalte-se. Uma revolução que muda concomitantemente dois elementos . Por uma parte, que modifique o modus operandi micronacional, por meio da transformação dos meios de comunicação que utilizamos – a revolução tecnológica. Por outra, que vincule o micronacionalismo a sua definição elementar: a existência de um projeto [micro-]nacional – a revolução teleológica.

Nesta edição de retorno, apresento tradução do marco-teórico anglófono de Peter Ravn Rasmussen – Príncipe da Corvínia – sobre a definição de uma idéia tão cara à prática micronacional: a nação. Nossa equipe, conformada por mim, Filipe Sales, Rodrigo Mariano e Fernando Cardozo está trabalhando intensamente na produção de artigos para alimentar, nas semanas futuras, as próximas edições de O Socioculturalista.

 

Artigo

Definindo a idéia de nação – Peter Ravn Rasmussen. (reeditado)

Os seres humanos são animais tribais, com a tendência de se organizar em pequenos grupos em torno de machos e fêmeas dominantes – como um grupo de macacos em árvores. O elemento fundamental da organização humana é um grupo tribal e local, que, em sociedades mais avançadas, formam a base de uma estrutura mais elaborada de sociedade civilizada.

A idéia de nação (da palavra latina natio, que deriva de natus “nascido”) implica em um relacionamento comum de sangue. De fato, este relacionamento raramente é factual – mais comumente, deriva de um suposto ancestral comum. Este ancestral comum pode ser uma figura histórica, ou, na maioria das vezes, um ser mítico.

Colocando o tribalismo à parte, os laços que unem um grupo de pessoas em uma nação são muito mais complexos que simples relacionamentos sangüíneos (reais ou imaginários). Este relacionamento somente pode subsistir nos mais baixos níveis de organização social (e mesmo assim, hierarquias locais organizadas por sangue se tornaram raras no mundo moderno). À medida que a sociedade civilizada cresce, cada vez mais complexa, a nacionalidade se cria em função de uma série de fatores – sendo a ancestralidade comum somente um deles.

A linguagem é um fator, sem dúvida alguma – embora existam nações que existam com múltiplas línguas (obviamente, para cada história de sucesso, há um contra-exemplo de desintegração nacional por elementos lingüísticos). Entretanto, as nações com uma única linguagem dominante usualmente utilizam-se desta língua definir que eles são. Este é particularmente o caso daquelas situações em que a língua é extremamente difícil para que estrangeiros aprendam (e.g. dinamarquês, finlandês ou japonês).

A cultura e os artefatos da cultura, são importantes para a definição da nação – pergunte aos gregos sobre a importância dos Mármores de Elgin ou a um dinamarquês sobre os Chifres de Ouro. Usualmente, os artefatos culturais que mudaram de mãos ao longo da história se tornam objeto de disputa nacional, ícones de falta de afeição entre as nações envolvidas.

Os proponentes de uma ideologia nacionalista usualmente lançam mão da idéia de que sua nação é imutável e “original” – que as doutrinas e atributos de sua nação são fixos, e foram parte da característica nacional desde antes da invenção da escrita. Por exemplo, os nacionalistas alemães recordam a vitória sobre as legiões romanas nas Florestas de Teutoburgo, pelo líder tribal germânico Arminius (“Hermann”).

Não obstante, há claras evidências que nenhuma nação são entidades imutáveis. Paradoxalmente, se existe uma constância na sociedade humana, é sua transformação, e isso assegura que uma nação de hoje seja completamente diferente da nação de mesmo nome que existiu há uma geração. As nações estão evoluindo e modificando-se, tudo ao mesmo tempo.

Em resumo, alguns dos atributos da existência nacional [nationhood]:

  • Uma postulação comum de interrelacionamento – um laço “sangüíneo” entre os membros. Este relacionamento pode ser real, mas mais comumente, deriva de um mito;

  • Uma herança cultural comum. Esta herança, e particularmente os artefatos culturais (e também, por vezes, estruturas institucionais) que esta herança gerou, representam o “patrimônio” da nação, que é usualmente dotado de um considerável valor sentimental, à extenção de que ataques ao mesmo são respondidos com uma violência emocional;

  • Coerência lingüística, na forma de uma ou mais línguas identificadas com a identidade nacional. Quão mais únicas e difíceis forem estas línguais, mais forte será o vínculo emocional a elas, como algo que deve ser defendido. Em um mundo de telecomunicações de massa e de onipresença do inglês como língua franca, esforços estão sendo levados a cabo em todos mundo para proteger as línguas nacionais (mais claramente, na Islândia e na França);

  • Um sentimento de identidade, pelos membros, com a nação. A idéia de pertencimento nacional está claramente fundado na psiqué humana, e os membros de uma nação respondem de forma visceral a qualquer ameaça a mesma, seja esta real ou uma simples percepção.

Observando a lista acima, um leitor astuto verá que de forma alguma, ela é exaustiva – como não contém todos os atributos requeridos à existência nacional. Particularmente, um elemento ausente está inexoravelmente ligado à ideologia nacionalista: o território.

O território – sustento – não é uma algo conexo à nacionalidade, embora nos últimos século e, particularmente, desde a década de 1860, ele tenha se tornado encrustrado à base ideológica de muitas causas nacionalistas. A idéia de “terra natal”, este domínio quase mítico que é herança inalienável da nação é um conceito tão antigo quanto o Velho Testamento. Somente depois de Bismarck, entretanto, as aspirações territoriais de uma nação se tornaram tão importantes quanto são hoje.

Isso nos leva ao mais problemático de todos os conceitos: o de Estado-Nação. Os movimentos nacionalistas do Século XIX e posteriores criaram (ou, ao menos, evoluíram) este conceito, ligando a nação à terra. Esta percepção de inseparabilidade entre “Blut und Boden” (Sangue e Solo) causou várias guerras, nas quais duas nações reclamavam o mesmo território – e ambas reservavam seus “direitos” à terra com uma devoção quase divina.

O Estado-Nação, portanto, encorpa a idéia nacionalista de que deveria existir uma completa correspondência entre as nações e os Estados que as governam. Os tchecos deveriam ter uma terra tcheca, com um estado tcheco soberano a governando, -ai.

Este seria um princípio importante, se não fosse contrário aos fatos – o fatos sendo que existem pelo menos 8000 nacionalidades (factuais ou potenciais) na face da Terra, e que suas terras-natais reivindicadas frequentemente se sobrepõem. De modo similar, o ideal nacionalista de um mundo de Estados-Nação é impraticável, e potencialmente uma base para crueldade, perseguição, genocídio e limpesa étnica.

Ademais, o ideal nacionalista do Estado como a encarnação de uma única nação é irrelevante para exemplificar a natureza do Estado, que tentarei demonstrar no próximo capítulo.

Expediente

Editor – Carlos Góes

Redação – Carlos Góes, Filipe Sales, Rodrigo Mariano e Fernando Henrique Cardozo.


Editorial

Realização vs. ostentação
Existe uma tradição no micronacionalismo da ostentação. Por si só, isto não é grande problema – a despeito dos confrontos de egos que pode ter início com o choque de ostentações.  Não obstante, em geral a ostentação não vem acompanhada da realização que traria a sustentação factual para que se pudesse ter orgulho de seus atos. O comum é ver que a ostentação vem dos cargos já ocupados, independentemente do que foi feito de fato para a micronação.

Esta postura ajuda à manutenção do status quo atual, contribuindo para o conservadorismo que vem nos levando à falência. Em um momento de crise aguda, precisamos também reverter o princípio de valorização aos indivíduos. Ao invés de valorizarmos a ostentação, deveríamos rumar à valorização do mérito, beneficiando àqueles que têm desejo de realização e que entendem que cargos servem para que se cumpra determinado papel, ao contrário de simples status.

A meritocracia só traria benefícios em um ambiente onde se parte do princípio em que a competição e a livre iniciativa individual possa trazer diversos benefícios à coletividade. Isso não significa que não se possa utilizar cargos como “estimulante”, como é tão caro à Reunião. Mas, em verdade, àqueles devem ser mais premiados do que estes, pois, caso contrário, haverá estagnação similar a que qualquer igualitarismo planificado pode levar.

 

Pensamento socioculturalista

O porquê da revolução tecnológica – Filipe Sales
As Escolas mais modernas de micropatriologia defendem a urgência de uma revolução tecnológica em todo o micronacionalismo lusófono. As Escolas mais antigas contra-atacam, afirmando que as considerações destes “modernos” acabariam com a prática como a conhecemos hoje – quando não os acusam de golpistas mascarados de revolucionários.

A questão é: por que se defende tanto uma revolução tecnológica, e por que uma camada antiga é tão reticente a essas mudanças?

A resposta – penso – está mais voltada a análise do procedimento de desenvolvimento de sociedades. Ao final de tudo, micronações são sociedades de pessoas que, reunidas sem objetivos mercantis, trabalham em conjunto para manter uma estrutura que tem seu fim em si mesma.

Porque micronações, em verdade, não são micro nações, e dificilmente serão algum dia. São, na verdade, comunidades dotadas de certos procedimentos peculiares; algumas de costumes peculiares, o que ensaiaria uma idéia de micro nação em potencial.

Isso porque nação, na verdade, envolve elementos muito mais complexos do que meramente uma micro comunidade reunida na Internet sob procedimentos próprios. Nação – ainda que microscópica – envolve também tradições próprias, um sistema jurídico próprio (resultado de suas tradições peculiares), envolve valores particulares, ainda que semelhantes a outras. E todos estes elementos devem existir de forma indubitável, ainda que de forma tímida.

Vamos ao equívoco: ele se encontra em idealizar a possibilidade de que qualquer comunidade crie ou mantenha uma identidade apenas por conta da normatização de uma intenção. Intenções não se normatizam; costumes e tradições sim. Em suma, a lei nada resolve se não está amparada em um movimento social genuíno. E isso não vale apenas para o micronacionalismo. Mas costumes e tradições, se não são alimentados por novas possibilidades, criam um ambiente nostálgico, nada afeto ao futuro e fixado no passado. O passado é a fonte de resgate histórica e cultural, mas não o tempo de realização do presente.

Chega-se ao ponto do tema: tanto as correntes modernas inominadas quanto o Socioculturalismo defendem que uma revolução cultural levantaria o véu que impede a Lusofonia de enxergar novos horizontes.

As sociedades micronacionais, como não deixaria de ser, chegaram a um ponto de colapso: os antigos mantenedores daquelas estruturas do século passado, esgotaram seu tempo e disposição. Simultaneamente, o mundo mudou, e a idéia de viver realidades alternativas não encontra mais campo fértil no micronacionalismo: a indústria dos jogos cuidou de tomar conta deste terreno.

A revolução tecnológica do micronacionalismo tem seu objetivo justamente na criação de novos espaços, novos ambientes, que abram espaço para novas lideranças e criem possibilidade de desenvolvimento de uma área de poucos adeptos hoje: a cultura.

A partir da revolução tecnológica, de novos mecanismos de interação e de novas possibilidades de realização política e intelectual, surgiriam novas lideranças, na mesma proporção que surgiam em meados dos anos de 1999 e 2000.

O novo, sem destruir o antigo, é fórmula essencial para o desenvolvimento de toda e qualquer sociedade. Se a renovação de procedimentos e mecanismos, uma sociedade não consegue acompanhar o desenvolvimento natural do mundo, e perde espaço para alternativas que consigam se inserir de forma mais convincente no futuro.

Socioculturalismo também é isso.

Artigo

O lugar da Alemanha – Fernando Henrique Cardozo.
Às portas de completar seu segundo aniversário de fundação, no próximo dia 21 de junho, a Federação dos Estados Alemães – vulgo Império Alemão – é necessário render-se à reflexão para ponderar sobre o tipo de micronacionalidade praticada pelos alemães no hemisfério lusófono. A Alemanha, que nada mais é que o último estágio de evolução do micronacionalismo germanista nascido no extinto Império de Racktidan, se apresenta enquanto uma formação cultural, histórica, política e social que converge elementos das Escolas micropatriológicas.

Uma micronação é, em poucas palavras, a construção de uma realidade a partir de determinados elementos teóricos que se agrupam em torno de referenciais básicos, tais como o cartográfico, que localiza a simulação “espacialmente” no hemisfério lingüístico; o histórico, que localiza a simulação em função da modalidade estatal que se estruturará – aqui também envolvendo os paradigmas de ciência política, filosofia, história e direito; o micropatriológico, o mais importante de todos, pois localiza a simulação em função do referencial de micronação que se pensa vivenciar à luz das Escolas reconhecidas do micronacionalismo: a virtualista, a realista – ou pasargadista – e a sócio-culturalista.

No caso alemão, por sua própria modalidade estatal, costuma-se identificar apenas o aspecto virtualista praticado, grande parte, pelos entes federados do Reich, mas permanecer em tal condição acaba por empobrecer a própria leitura da realidade da simulação, bem como confundir os próprios praticantes do real sentido oculto pela fantasia e pelo imaginário.

A confusão impede a reprodução natural da micronacionalidade, transmutado em apego e identidade, no seio da simulação e conduz, indubitavelmente, à dispersão. Portanto, eis a razão da necessidade de se repensar constantemente que formação micropatriológica se desenvolve na Alemanha. Ao se limitar a amplitude da leitura, o entendimento que se tem é débil em veracidade científica, e acaba por desprestigiar os outros fenômenos que se manifestam no interior de sua dinâmica.

Hoje, em um momento amadurecido de seu desenvolvimento histórico e de seu crescimento populacional, pensa-se no novo instante da micropatriologia da Alemanha, em que pela própria modalidade federativa, favorece a formação de elementos que possam compor uma identidade além do fetichismo da onomástica – o estudo dos nomes – germânica e dos protocolos de Estado, mas como diz a Escola sócio-culturalista, pela própria especificidade do Modus Micromundi que nasce pela dinâmica natural da micronação, e é reproduzido e aperfeiçoado pelos seus partícipes.

Expediente

Editor – Carlos Góes

Redação – Carlos Góes, Filipe Sales, Rodrigo Mariano e Fernando Henrique Cardozo.