Editorial

O caminho mais fácil
Existe um caminho que é sempre mais fácil de seguir. Não necessariamente o mesmo é o caminho correto. Lembro-me de uma anedota contada pelo sociólogo da Escola Frankfurt Claus Offe. Ele falava de uma situação em que um senhor alcoolizado caminhava pelas ruas de Berlim. Repentinamente, se dá conta que perdeu suas chaves. Se agaixa sob um poste de luz e passa a procurá-las. A seguir, um guarda alemão o aborda, perguntando sobre o que aconteceu. O senhor informou que tinha perdido suas chaves. O guarda idagou: “Aqui, sob o poste?”. E o senhor respondeu: “Não, alí no escuro, mas aqui é mais fácil de procurar”.
E sobre esta base que se dá a falsa dicotomia entre “micro” e “macro”. É muito mais fácil aceitar que estamos vivendo “realidades separadas”, que o micronacionalismo não é nada além de um Jogo de Realidade Alternativa – uma espécie de Lost Experience em formato de nações. Esquecem-se que, ao contrário do Lost Experience, não convivemos com personagens criados pela cabeça de escritores da Buena Vista, mas sim pessoas reais, com toda a carga intelectual, emocional e social que carregam.
Micronacionalismo é fenômeno social por excelência. É por isso que não faz sentido dizer que “autores macro” – como recentemente foi defendido pelo Premier de Reunião – não devem ser utilizados no micronacionalismo. Ora, não devemos utilizar teorias sociológicas para analisar um fenômeno social? Ou teorias do nacionalismo para analisar um fenômeno nacional? Do mesmo modo, as ideologias têm ação em qualquer campo social. O nazismo não é repudiável no micronacionalismo? “Aqui no micronacionalismo não interessa o que Hitler fez ou não” – foi a resposta do Premier de Reunião.
Não consigo conviver com esta idéia. Como poderia ter eu determinados princípios “macro” e outros “micro”? Como poderia ser cristão “macro” e ateu “micro”? Somente se fosse, patologicamente, diagnosticado como esquizofrênico – diria Bruno Cava. Trago uma seleção de artigos que, apesar de relativamente já antigos, são ainda vanguardistas – a considerar pela realidade reuniã.

 

Artigo

Fundamentos da realidade micronacional – Bruno Cava, Agosto de 2004.

VIRTUALISMO – Fato imaginário, inventado, sem correspondência com a realidade objetiva. O virtualismo se revela quando elementos da fantasia são incorporados ao mundo micronacional. Não deve ser confundido com virtual, virtualidade, Internet. Exemplos de virtualismos: história da micronação “construída” sobre factóides, territórios ficcionais, personificação, paplismo; em essência: são acontecimentos que fogem à projeção da realidade subjetiva dos micronacionalistas, sendo exercício da fantasia, da abstração ficcional. (GLOSSÁRIO INPAM 2004).

 
Uma forma bastante comum de conceber o fenômeno micronacional é por meio da idéia da simulação, isto é, o micronacionalismo simula a realidade, é uma realidade simulada, uma reprodução elaborada do “macro”. A micronação é simulação de “macronação”, dos países propriamente ditos. A reprodução de território, cultura, governo, sociedade, partidos etc são integrantes desse mundo simulado, ou mundo micronacional. Nesta visão filosófica, o micronacionalismo se trata de uma ficção elaborada, à semelhança da realidade, mas não fazendo parte dela, ainda que possamos exercitar capacidades e aprender nesse simulacro.
 
Apesar de difundidos na Lusofonia, os pressupostos supracitados não são o único sistema geral de filosofia do micronacionalismo. Com efeito, é um sistema que vem sendo, paulatinamente, substituído por outro, com mais correspondência aos fatos. Façamos considerações preliminares.
 
Pressuposto: nós somos, então, enquanto formos nós mesmos ao atravessarmos a lente do micronacional (da Internet?), nossas relações também são, serão autênticas, projeção da realidade de cada um e, portanto, tão reais quanto quaisquer outras. A micronação não simula, a micronação é. O micronacionalismo não se trata necessariamente de uma simulação, mas de uma realidade, de parte dela, não-simulada. A micronação não simula sociedade, mas é por si só uma sociedade, evidentemente em miniatura. Nesta sociedade, pode-se criar uma cultura particular, quiçá uma cultura nacional, o que nos leva ao conceito de nação, novamente em miniatura, uma micro-nação, micronação.

Em síntese: se nós somos, nossas relações são, então a micronação – que é construída pelas relações – também é. Contudo, se nós não somos, se nos transfigurarmos em outras pessoas, não sendo; ou se as relações forem imaginárias, igualmente não sendo; então a micronação não é, tornando-se apenas uma frasco para um conteúdo qualquer, inventado, o virtualismo. O conteúdo real do micronacionalismo está na autenticidade de seus protagonistas e no realismo de suas relações e fatos. Do outro lado, há o virtualismo, o “não-conteúdo”, a fração irreal da prática micronacional, esta sim, indo ao encontro à idéia de simulacro.

Voltemos à concepção escapista. E o “macro”? Muitos associam a palavra “macro” como a “vida lá fora”, a “vida real”, ou mesmo “realidade” (“realidade real?”). O “macronacional” é onde desempenhamos nossas “verdadeiras vistas”. Ao “entrar” no mundo micronacional, ao contrário, deixamos nossa “existência real” de lado para mergulhar num “eu micronacionalista”, que em nada precisa se assemelhar ao eu individual, que nem precisa responder por seus atos (tese da irresponsabilidade micronacional). Indo mais fundo no escapismo, o “eu micronacionalista” é um personagem, que vive apenas dentro do mundinho simulado e estanque, quase uma caricatura, um alter ego, mais que uma máscara, um outro alguém.

Grande parte desta separação micro e macro nasce da linguagem. Quando novatos, somos tão martelados com micro e macro, micro e macro, micro e macro, que acabamos induzidos a pensar que se trata de duas realidades: microcosmo e macrocosmo, separados por uma fronteira invisível. Estabelecemos um pressuposto traídos pela armadilha das palavras. Daí para o escapismo é decorrência lógica.

Entretanto, o que é, com franqueza, o “macro”? 
 
Estamos diante da crônica dificuldade em diferenciar os conceitos de “separar” e “distinguir”. O mundo micronacional é uma esfera distinta do “macro”, distinta porque tem caracteres próprios, uma dinâmica própria, um meio de realização (que pode ser virtual) próprio, mas não se separa. Somente um doente de dupla-personalidade, ou uma micronação que fosse um delírio completo, poderia se destacar da realidade assim. 
 
Repare: a esfera familiar de convivência também se distingue, por suas características próprias, da realidade; o mesmo vale para a esfera profissional, a esfera social, a esfera universitária… a realidade pessoal, de cada um, nada mais é que um conglomerado de esferas de convivência, de espaços distintos de existência, mas nem por isso um microcosmo.

O mesmo vale para o micronacionalismo, que também é esfera de convivência humana, com suas “regras” próprias, da mesma forma que a esfera familiar ou a profissional, apenas para citar exemplos universais. Nelas, somos nós mesmos, ainda que assumamos diferentes posturas. Daí é lúcido e real que eu seja um político pasárgado, enquanto, ao mesmo tempo, eu seja o filho querido na família e o competente funcionário no trabalho. Tudo é questão do papel que assumimos em determinada esfera de convivência, porém, no fundo, em todas elas, somos nós mesmos, um ser uno, uma só consciência, numa realidade una que se revela de diferentes formas. Vale apontar, ainda, que as esferas podem se interpenetrar, e geralmente se interrelacionam, confundindo-se em alguns pontos como numa empresa familiar, ou quando saímos com a chefe… ao mesmo passo ocorre com o micronacionalismo. Uma prova muito forte que não existe essa separação, que é artifício sem sustentação, é justamente quando ocorre a interpenetração entre a esfera micronacional e outras da vida.
CONCLUSÃO
 
Continuar adotando a dicotomia micro/macro só é válido se entendermos o “macro” como tudo aquilo extra-micronacional, isto é, o que não tem natureza eminentemente micronacional. O micro como sub-conjunto do “macro”, absolutamente dependente e relacionado, já que o “macro” é a realidade. Como a esfera familiar, com suas regras e papéis próprios, é uma esfera dependente e relacionada da realidade. Já há micronacionalistas, para evitar a armadilha da linguagem, que estão utilizando “extra-micronacional” em substituição a “macronacional”.

Expediente

Editor – Carlos Góes

Redação – Carlos Góes, Filipe Sales e Rodrigo Mariano.

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Editorial

A infeliz decepção
Tenho plena convicção de que o ser não se altera quando qualquer pessoa se torna micronacionalista. Sua peculiaridades, suas qualidades, seus defeitos, seus talentos, seu caráter. Tudo isto é personalíssimo, não se altera. Esteja a pessoa na escola, na universidade ou em uma micronação, isto permanecerá cravado em seu ser. Ainda que alguém se utilize de pseudônimo ou mesmo tente criar uma personagem, lá estaram, por sobre a manta de distinção a mesma pessoa. É por isso que confio na idéia de que a separação micro/macro é uma simplificação horrível. Como disse McMillan Hunt “micronacionalismo não é um hobby, é a vida”.
É por isso que me entristece ver pessoas que eram do meu círculo de relacionamentos cometerem falhas tão terríveis quanto as falhas de caráter. As falhas por imperícia e imprudência podem ser corrigidas, seja como um curso ou com um Red Bull. As de caráter, todavia, demonstram algo que dificilmente muda. Princípios são algo que se constroi muito lentamente. O mínimo que podemos extrair das palavras do Cristo em “ensina a criança no caminho que deve andar”, é que algo que se repete ao homem desde cedo, permanece. Ainda que seja só culturalmente. Ainda que seja, como disse o paquistanês Tariq Ali – se autodefinindo -, para criar um “muçulmano não-muçulmano”.
Pessoas que não tem princípios não o terão seja no micronacionalismo, seja na igreja, seja no trabalho. Princípios transcendem as esferas da vida, inclusive o micronacionalismo. Aquele que se utiliza do poder para benefício próprio aqui não hesitará em fazê-lo quando tiver oportunidade em seu trabalho, ou no sindicato, ou no círculo de amigos. É por isso que é sempre triste se decepcionar com pessoas que não os têm, seja aonde for.
Toda esta confusão em Reunião me mostrou algumas pessoas que não têm princípios, que falham em caráter. Pessoas que não imaginava que o fossem. Não sei, são palavras soltas ao vento…

 

Pensamento Socioculturalista

L’Ancien Régime et la Révolution – Carlos Góes

Toutes les révolutions civiles et politiques ont eu une patrie et s’y sont renfermées. La révolution française n’a pas eu de territoire propre; bien plus, son effet a été d’effacer en quelque sorte de la carte toutes les anciennes frontières. On l’a vue rapprocher ou diviser les hommes en dépit des lois, des traditions, des caractères, de la langue, rendant parfois ennemis des compatriotes, et frères des étrangers; ou plutôt elle a formé, au-dessus de toutes les nationalités particulières, UNE PATRIE INTELLECTUELLE COMMUNE DONT LES HOMMES DE TOUTE LES NATIONS ONT PUT DEVENIR CITOYENS. (ALEXIS DE TOCQUEVILLE, L’Ancien Régime et la Révolution. Paris: Les Éditions Gallimard, 1952. p. 40)

As ideologias são forças sentimentais que equivalem-se às identidades nacionais. São também laços imaginados de identidade, mas que não se dão em termos nacionais (ancestralidade/destino comuns; símbolos; cultura; dotrinas, etc.), mas sim em termos de opinião política. Como diz Tocqueville no destaque aqui em cima, as ideologias são “uma pátria intelectual comum, da qual homens de todas as nações podem ser cidadãos”. Se, por vezes, uma nação/Estado pode escolher uma ideologia oficial para si, a ideologia em si não respeita fronteiras. Embora só existisse uma União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, os defensores do modelo soviético estavam espalhados por todo o mundo.

Ao contrário de algumas doutrinas, como o Réunian Way of Life, que reivindica Reunião como nação predestinada a ser a maior do mundo, o Socioculturalismo não tem preconceitos “de fronteira”. Assim como os ideais iluministas de que Tocqueville falava, o Socioculturalismo não coloca à frente nenhuma nação predestinada a ser melhor que as outras. Naturalmente, vão existir os projetos em que esta doutrina será implementada. O mesmo começou a ser feito em Maurício, mas foi dilacerado pelos Extraordinários Reacionários (ver O SOCIOCULTURALISTA 3), por meio de perseguição política e apego ao velho regime.

Deste modo, apesar de nós, doutrinadores, ao passo de sermos também micronacionalistas, tentarmos implementar um projeto de nação em miniatura inspirado pelo socioculturalismo, nada impede da influência de outras nações neste sentido. Naturalmente, este seria nosso deleite intelectual. É por isso que não nos negamos a explicar minusciosamente o que é o socioculturalismo e quais são suas base ideologicas. É por isso que dizemos repetidamente que repudiamos, além de um verdadeiro projeto de nação em miniatura, um projeto micronacional deve ter um ambiente que proporcione aos seus membros a possibilidade de contribuir à sociedade e à autoevolução.

Isso não significa, entretanto, que o Socioculturalismo tenha a megalomania de ser a corrente dominante em todas as micronações. Ao contrário de na Revolução Francesa, o velho regime (l’Ancien Régime) pode subsistir juntamente ao novo. O velho modelo, tão bem representado por Reunião e seu semi-virtualismo, seus acordões de trocas de favores, sua a-meritocracia, sua a-democracia e seu polemicismo pode continuar a existir: há quem goste. É bom que exista o velho modelo, até para base de compração do novo.

O novo regime, entretanto, pode produzir uma revolução por esquecer o micronacionalismo e buscar o [micro-]nacionalismo. Assim como Voltaire não participaria, mas inspiraria a Revolução, os Pioneiros Pasárgados nos inspiraram! Espero que a Revolução seja vindoura – e que modifique todas as bases do “micronacionalismo”, tornando real o verdadeiro nacionalismo em miniatura.

Em Reunião, a Revolução foi impedida pelos reacionários, dispostos a tudo para esmagar posições políticas diferentes das suas próprias. A Revolução virá, ainda que mude de endereço.

Expediente

Editor – Carlos Góes

Redação – Carlos Góes, Filipe Sales e Rodrigo Mariano.


Editorial

Os extraordinários reacionários

Como os leitores devem saber, tive a honra de organizar e comentar um livro que reúne textos de Felipe Aron, socialista micronacional e pasárgado histórico [para descarregar este livro, clique aqui]. Apesar de já ter lido a maioria dos textos que Aron já tinha publicado, me aventurar novamente e lê-los com esmero e dedicação foi uma aventura sem-par. Me deparei com um tesouro, um conceito sensacional, que – sozinho – já justificaria toda a trajetória intelectual de Aron.

Tentando aplicar o conceito de classe social ao micronacionalismo, Felipe Aron utiliza-se da dicotomia traçada por Bruno Cava, entre Ordinários e Extraordinários. Até aí, nada de novo. É quando Aron introduz sua inovação: existem extraordinários revolucionários e reacionários. Existem aqueles que desejam buscar uma sociedade “politizada” – em suas palavras – e os que simplesmente se acomodam em viver rodeados de ordinários, moldando-os a seu bel-prazer. Aron chega a dizer que estes reacionários são “traidores” de classe.

Esta situação serve para ilustrar claramente o atual cenário político reunião. Há, claramente, uma dicotomia. A similaridade é que ambos os lados estão descontentes com a situação atual. Opõem-se, entretanto, aqueles que buscam TRANSFORMAR a ordem atual, para algo que esteja direcionado a um projeto nacionalista, propriamente dito (ver O SOCIOCULTURALISTA 1 e 2) e os que desejam REFORMAR a atual ordem, levando-a de volta a tempos que são, em suas mentes, áureos. Existe também um grupo híbrido que, apesar de saber da impossibilidade de reforma do status quo, esbraveja em seu favor, simplesmente para manter seu grupo de fiéis.

Essa é a situação atual do Sacro Império de Reunião. Há um grupo que pretende-se revolucionário – mesmo sem sabê-lo – por propor coisas novas, novos meios de realizar o micronacionalismo. Por outra parte, existe aquele que sonha com as idas de 2000, com as “maravilhas” mensagísticas: o “verdadeiro” micronacionalismo – que não é conceitos teórico com critérios especificados, mas sim político. Existe a necessidade de uma escolha e cabe a nós – todos – fazê-la.

Pensamento Socioculturalista

Dicotomia no micronacionalismo: os velhos paradigmas – Carlos Góes e Filipe Sales
Em épocas de web 2.0 e em que colaboração é a idéia mais propagada pela Internet, faço este texto em parceria com Filipe Sales, com base em textos que o mesmo produziu para o sítio de Maurício, mesmo sem ele próprio ter visto o resultado final.
A micropatriologia em língua portuguesa – como estudo que se propõe científico do fenômeno micronacional – vem em constante, embora cambaleante, evolução desde os primeiros esforços de teorização. Qual seria a influência da micropatriologia no micronacionalismo? Baseando-se no que, nas ciências sociais, chama-se “construtivismo social”, teríamos duas interpretações de ciclos científicos.
O ciclo primário seria: há a realidade e, sobre essa realidade, surgem análises científicas que geram, por sua vez, políticas (no caso presente, projetos micronacionais). Neste caso, uma mudança na realidade gerariam novas teorias, novas análises, para enfim, adaptar as políticas. Um outro ciclo, que é o que proposto pelo construtivismo, afirma que o que nasce primeiro são as teorias e que estas, influenciando as políticas, modificam a realidade. Não é preciso dizer que ambas, na prática, convivem. Se é certo que as primeiras análises tiveram como subsídio o fenômeno observado, temos a experiência pasárgada para comprovar que uma visão de mundo pode alterar a própria realidade.

Até o momento, a micropatriologia se baseou na dicotomia entre realistas e virtualistas, sendo estes modelos – paradigmas – o que importava do realizar micronacional. Essas estruturasdefiniriam não só o que se daria na micronação que as abraçavam, mas também carregavam elementos valorativos em si (Cava uma vez citou que muitos sofistas não consideravam os pasárgados micronacionalistas, pois não tinham mapas e afins, “estariam mais para ong’s”, enquanto pasárgados consideravam os mapas de Sofia “brincar de banco imobiliário).

Os velhos paradigmas consistem em alguns pressupostos perculiares a si próprias.

A Escola Virtualista defende que o micronacionalismo se relaciona com uma simulação fantasiosa da realidade – a famosa “emulação”. Sua concepção de micronacionalismo abraça tão somente os projetos surgidos a partir da Internet como ambiente natural, e tratam as relações sociais internas ao ambiente micronação como situação alheia a própria vida pessoal do indivíduo. Isto se expressa claramente da divisão “micro” e “macro”, tão utilizada na maioria da micronações lusófonas.

Primeira Escola de micronacionalismo surgida na lusofonia, quando do aparecimento do Reino de Porto Claro, em 1992 e, posteriormente, do Sacro Império de Reunião, em 1997, o Virtualismo encara como necessário a existência do micronacionalismo elementos fictícios que amparem o desenvolvimento de suas sociedades. A Escola Virtualista tem como principal pilar a doutrina denominada “modelista”, nomenclatura utilizada pelos micropatriólogos estadunidenses para designar as micronações que existem misturando ficção e realidade dentro de seu projeto.

Com a chegada do século XXI, após o surgimento da Comunidade Livre de Pasárgada, cujo doutrina principal se ampara na Escola Realista, os elementos fictícios que se relacionam ao micronacionalismo virtualista começaram a sofrer enfraquecimento dentro das micronações lusófinas.

Dentre os principais elementos fictícios que alimentam a Escola Virtualista, os territórios referenciais figura como mais importante. Relacionando partes geográficas do globo terrestre como referências territoriais para uma micronação, os Virtualistas defendem a importância da ligação de um projeto de simulação com uma referência material no planeta, sem, todavia, reivindicar qualquer pretensão material sobre aquela localidade geográfica.

Em agosto de 2004, um círculo de debates surgidos na Fundação Pablo Castañeda, na extinta República de Marajó, tratou pela primeira vez de definir a natureza dos territórios abraçados pelas micronações da Escola Virtualista como parte fictícia de sua estrutura política. Das discussões na Fundação Pablo Castañeda, duas correntes distintas surgiram a partir do tema: a primeira defendia que, de fato, haveria a possibilidade de uma micronação reivindicar parte do território do globo terrestre como integrante de sua identidade cultural sem, todavia, reivindicar na posse material sobre o mesmo (secessão), o que tornaria os território referenciais [os fictícios] parte essencial de uma micronação. A segunda teoria defendeu que os territórios referenciais são apenas um ícone cultural de uma micronação, de forma que sua existência à mesma é totalmente dispensável, não sendo necessária a sua existência.

A partir dos momentos que seguiram a fundação de Pasárgada e aos debates na Fundação Pablo Castañeda, o vínculo das micronações lusófonas em relação a Escola Virtualista diminuiu, embora sua presença, mais enfraquecida, esteja em quase todos os projetos da lusofonia.

Já a Escola Realista apareceu materialmente, no micronacionalismo lusófono ambientado na Internet, apenas em 2002, com a fundação da Comunidade Livre de Pasárgada, que pela primeira vez no grupo de micronações de idioma português, inseriu como base a idéia de que o micronacionalismo é um fenômeno social verdadeiro e real, e que faz parte da vida pessoal dos indivíduos que o compõe tanto quanto qualquer outra atividade. Todavia, a existência desta corrente é bastante anterior a fundação daquela micronação.

A Escola Realista baseia sua doutrina na idéia de que o micronacionalismo, em si, é um fenômeno concreto, cuja existência não depende de qualquer ficção ou fantasia das pessoas que dele participam. Para os realistas, o micronacionalismo não se separa da realidade de nossas vidas pessoais, de forma que, nele, não há contradição ou incompatibilidade entre a realidade e a ambientação de uma micronação na Internet, de forma que o fenômeno micronacional na Internet apenas reflete relações sociais concretas cuja comunicação se dá por meio do ambiente virtual.

A Escola Realista, em razão de suas posições concretas sobre o micronacionalismo, foi a primeira doutrina a se opor a Escola Virtualista, e suas ações pela primeira vez atingiram o monopólio do Virtualismo. A partir do ano de 2002, com a criação da Comunidade Livre de Pasárgada, os Realistas pela primeira vez incrustaram as idéias realistas em um projeto micronacional. Com a extirpação de todos os virtualismos tradicionalmente existentes, Pasárgada foi o primeiro projeto lusófono a existir totalmente alheia a elementos fictícios que compunham o micronacionalismo até então.

A Escola Realista é resultado de uma alteração da tradicional doutrina derivatista das micronações, surgida nos Estados Unidos da América, com projetos micronacionais que, relacionando participantes em uma sede material em uma cidade, buscavam, aos poucos, conquistar algum tipo de autonomia sobre seu território. Não são ambientadas na Internet. O maior exemplo destas micronações derivatistas é o Reino de Talossa, considerada a primeira micronação moderna.

Ambas as Escolas, são, entretanto irmãs epistemológicas. Ambas partem do pressuposto que o que importa no micronacionalismo é se existem ou não determinados elementos estruturais de caracterização de micronação.

O Socioculturalismo, por sua parte, propõe uma nova interpretação dessa realidade. O Socioculturalismo faz uma análise teleológica do fenômeno micronacional. Ao invés de se perguntar como se dá o fenômeno, se pergunta: qual é o propósito, qual é o fim do projeto micronacional? Se o fim for criar um projeto de nação, que gere laços imaginados de identidade real entre seus membros, o fim é verdadeiramente um [micro-]nacionalismo.

Sobre análises empíricas, o Realismo, em geral, propicia condições mais favoráveis para a experiência nacional, mas isto não exclui a possibilidade de, em um ambiente realista, não se desenvolver projeto de nação ou, ainda, a de, com a presença de virtualismos, se dê verdadeiramente um projeto nacional. O que importa é focar nos elementos culturais, doutrinários que geram os laços imaginários de identidade emergidos das relações sociais entre seus membros.

Expediente

Editor – Carlos Góes

Redação – Carlos Góes, Filipe Sales e Rodrigo Mariano.


O Socioculturalista #3, 16 de abril de 2007.DICOTOMIA NO MICRONACIONALISMO: OS VELHOS PARADIGAS – Carlos Góes e Filipe Sales

Em épocas de web 2.0 e em que colaboração é a idéia mais propagada pela Internet, faço este texto em parceria com Filipe Sales, com base em textos que o mesmo produziu para o sítio de Maurício, mesmo sem ele próprio ter visto o resultado final.

A micropatriologia em língua portuguesa – como estudo que se propõe científico do fenômeno micronacional – vem em constante, embora cambaleante, evolução desde os primeiros esforços de teorização. Qual seria a influência da micropatriologia no micronacionalismo? Baseando-se no que, nas ciências sociais, chama-se “construtivismo social”, teríamos duas interpretações de ciclos científicos.
O ciclo primário seria: há a realidade e, sobre essa realidade, surgem análises científicas que geram, por sua vez, políticas (no caso presente, projetos micronacionais). Neste caso, uma mudança na realidade gerariam novas teorias, novas análises, para enfim, adaptar as políticas. Um outro ciclo, que é o que proposto pelo construtivismo, afirma que o que nasce primeiro são as teorias e que estas, influenciando as políticas, modificam a realidade. Não é preciso dizer que ambas, na prática, convivem. Se é certo que as primeiras análises tiveram como subsídio o fenômeno observado, temos a experiência pasárgada para comprovar que uma visão de mundo pode alterar a própria realidade.
Até o momento, a micropatriologia se baseou na dicotomia entre realistas e virtualistas, sendo estes modelos – paradigmas – o que importava do realizar micronacional. Essas estruturasdefiniriam não só o que se daria na micronação que as abraçavam, mas também carregavam elementos valorativos em si (Cava uma vez citou que muitos sofistas não consideravam os pasárgados micronacionalistas, pois não tinham mapas e afins, “estariam mais para ong’s”, enquanto pasárgados consideravam os mapas de Sofia “brincar de banco imobiliário).

Os velhos paradigmas consistem em alguns pressupostos perculiares a si próprias.

A Escola Virtualista defende que o micronacionalismo se relaciona com uma simulação fantasiosa da realidade – a famosa “emulação”. Sua concepção de micronacionalismo abraça tão somente os projetos surgidos a partir da Internet como ambiente natural, e tratam as relações sociais internas ao ambiente micronação como situação alheia a própria vida pessoal do indivíduo. Isto se expressa claramente da divisão “micro” e “macro”, tão utilizada na maioria da micronações lusófonas.

Primeira Escola de micronacionalismo surgida na lusofonia, quando do aparecimento do Reino de Porto Claro, em 1992 e, posteriormente, do Sacro Império de Reunião, em 1997, o Virtualismo encara como necessário a existência do micronacionalismo elementos fictícios que amparem o desenvolvimento de suas sociedades. A Escola Virtualista tem como principal pilar a doutrina denominada “modelista”, nomenclatura utilizada pelos micropatriólogos estadunidenses para designar as micronações que existem misturando ficção e realidade dentro de seu projeto.

Com a chegada do século XXI, após o surgimento da Comunidade Livre de Pasárgada, cujo doutrina principal se ampara na Escola Realista, os elementos fictícios que se relacionam ao micronacionalismo virtualista começaram a sofrer enfraquecimento dentro das micronações lusófinas.

Dentre os principais elementos fictícios que alimentam a Escola Virtualista, os territórios referenciais figura como mais importante. Relacionando partes geográficas do globo terrestre como referências territoriais para uma micronação, os Virtualistas defendem a importância da ligação de um projeto de simulação com uma referência material no planeta, sem, todavia, reivindicar qualquer pretensão material sobre aquela localidade geográfica.

Em agosto de 2004, um círculo de debates surgidos na Fundação Pablo Castañeda, na extinta República de Marajó, tratou pela primeira vez de definir a natureza dos territórios abraçados pelas micronações da Escola Virtualista como parte fictícia de sua estrutura política. Das discussões na Fundação Pablo Castañeda, duas correntes distintas surgiram a partir do tema: a primeira defendia que, de fato, haveria a possibilidade de uma micronação reivindicar parte do território do globo terrestre como integrante de sua identidade cultural sem, todavia, reivindicar na posse material sobre o mesmo (secessão), o que tornaria os território referenciais [os fictícios] parte essencial de uma micronação. A segunda teoria defendeu que os territórios referenciais são apenas um ícone cultural de uma micronação, de forma que sua existência à mesma é totalmente dispensável, não sendo necessária a sua existência.

A partir dos momentos que seguiram a fundação de Pasárgada e aos debates na Fundação Pablo Castañeda, o vínculo das micronações lusófonas em relação a Escola Virtualista diminuiu, embora sua presença, mais enfraquecida, esteja em quase todos os projetos da lusofonia.

Já a Escola Realista apareceu materialmente, no micronacionalismo lusófono ambientado na Internet, apenas em 2002, com a fundação da Comunidade Livre de Pasárgada, que pela primeira vez no grupo de micronações de idioma português, inseriu como base a idéia de que o micronacionalismo é um fenômeno social verdadeiro e real, e que faz parte da vida pessoal dos indivíduos que o compõe tanto quanto qualquer outra atividade. Todavia, a existência desta corrente é bastante anterior a fundação daquela micronação.

A Escola Realista baseia sua doutrina na idéia de que o micronacionalismo, em si, é um fenômeno concreto, cuja existência não depende de qualquer ficção ou fantasia das pessoas que dele participam. Para os realistas, o micronacionalismo não se separa da realidade de nossas vidas pessoais, de forma que, nele, não há contradição ou incompatibilidade entre a realidade e a ambientação de uma micronação na Internet, de forma que o fenômeno micronacional na Internet apenas reflete relações sociais concretas cuja comunicação se dá por meio do ambiente virtual.

A Escola Realista, em razão de suas posições concretas sobre o micronacionalismo, foi a primeira doutrina a se opor a Escola Virtualista, e suas ações pela primeira vez atingiram o monopólio do Virtualismo. A partir do ano de 2002, com a criação da Comunidade Livre de Pasárgada, os Realistas pela primeira vez incrustaram as idéias realistas em um projeto micronacional. Com a extirpação de todos os virtualismos tradicionalmente existentes, Pasárgada foi o primeiro projeto lusófono a existir totalmente alheia a elementos fictícios que compunham o micronacionalismo até então.

A Escola Realista é resultado de uma alteração da tradicional doutrina derivatista das micronações, surgida nos Estados Unidos da América, com projetos micronacionais que, relacionando participantes em uma sede material em uma cidade, buscavam, aos poucos, conquistar algum tipo de autonomia sobre seu território. Não são ambientadas na Internet. O maior exemplo destas micronações derivatistas é o Reino de Talossa, considerada a primeira micronação moderna.

Ambas as Escolas, são, entretanto irmãs epistemológicas. Ambas partem do pressuposto que o que importa no micronacionalismo é se existem ou não determinados elementos estruturais de caracterização de micronação.

O Socioculturalismo, por sua parte, propõe uma nova interpretação dessa realidade. O Socioculturalismo faz uma análise teleológica do fenômeno micronacional. Ao invés de se perguntar como se dá o fenômeno, se pergunta: qual é o propósito, qual é o fim do projeto micronacional? Se o fim for criar um projeto de nação, que gere laços imaginados de identidade real entre seus membros, o fim é verdadeiramente um [micro-]nacionalismo.

Sobre análises empíricas, o Realismo, em geral, propicia condições mais favoráveis para a experiência nacional, mas isto não exclui a possibilidade de, em um ambiente realista, não se desenvolver projeto de nação ou, ainda, a de, com a presença de virtualismos, se dê verdadeiramente um projeto nacional. O que importa é focar nos elementos culturais, doutrinários que geram os laços imaginários de identidade emergidos das relações sociais entre seus membros.


Mais uma vez, este Portal têm o prazer de anunciar, juntamente com a Fundação Teobaldo Sales, o lançamento de mais uma obra dedicada ao estudo do fenômeno micronacional. Desde novembro, data de lançamento deste Portal, já foram lançados cinco obras de micropatriologia, todas editadas pela FTS. Uma coisa bastante gratificante é ver a assiduidade de acessos que este Portal tem registrado, com uma média de 40-50 visitas diárias.

Para que possamos gerar a interatividade e sentir como nosso trabalho está sendo percebido pelo público micronacional lusófono, estimulamos aos leitores que comentem este blog, como instrumento de “feedback”.

O lançamento de hoje faz parte da série GRANDES PENSADORES. Foi compilada uma série de textos do pasárgado e socialista histórico FELIPE ARON, que tem uma história importante por ter editado o Pravda, entre outros periódicos micronacionais.

Foi um imenso prazer para mim poder organizar e comentar este livro – que será uma supresa para o próprio Felipe que, apesar de saber do livro, não sabe quais textos foram selecionados nem teve acesso prévio à versão final.

Para baixar o livro na íntegra, em Adobe PDF, clique aqui.

Para mais obras e detalhes sobre este livro, consulte nossa seção de livros.


SEGUIMENTO DA SÉRIE

Sabendo da importância desta série, desejamos dar proseguimento a mesma. Temos como objetivo compilar a obra de três autores. Dois lusófonos: o importante Pedro Aguiar e o ex-marajoara Bruno Crasnek. Ademais, já está em curso a tradução de alguns textos de Peter Ravn Rasmussen, Príncipe da Corvínia e importante micropatriólogo em língua inglesa. Aguarde e confira.


A Fundação Teobaldo Sales e este Portal têm o prazer de anunciar o lançamento da série de livros GRANDES PENSADORES, que trata-se de uma série de livros que trazem uma compilação de textos importantes nos mais influentes micropatriólogos lusófonos. Para o livro de estréia, para representar o marco desta série, ninguém melhor do que o onipresente BRUNO CAVA. Esta edição com textos de Bruno Cava foi organizada por McMillan Hunt, membro notório de nossa equipe. Ademais, os textos receberam comentários meus e do McMillan. Confira!

SOBRE A SÉRIE GRANDES PENSADORES

O objetivo desta série é compilar textos importantes dos maiores micropatriólogos da Lusofonia, de modo que sejam criados marcos teóricos acessíveis aos interessados nos estudos sobre o fenômeno do micronacionalismo. Anteriormente, somente a longa pesquisa nos arquivos das listas nacionais e intermicronacionais dava acesso a estes textos, algo que poderá ser revertido por esta série. Reúnem-se aqui parte da obra do autor, distribuída em artigos de periódicos ou mesmo discursos notórios em parlamentos ou listas nacionais.

Para baixar o livro na íntegra, em Adobe PDF, clique aqui.

Para mais obras e detalhes sobre este livro, consulte nossa seção de livros.

PRÓXIMOS LANÇAMENTOS

Dentro desta mesma série, dois outros autores já foram contactados para a seqüência. São pessoas de importância histórica e relevância teórica para a Lusofonia. Trata-se, primeiramente do pasárgado Felipe Aron e do marajoara histórico Bruno Crasnek. Fique ligado e acompanhe este Portal para futuros lançamentos.


Editorial

O aquecimento global da Lusofonia

O ano é 2002 e existe uma verdejante floresta chamada Lusofonia. Nessa floresta, a fauna e flora são riquíssimas, dodôs reuniãos conviviam com palmeiras pasárgadas e bromélias de Porto Claro. Formigas havanêsas viviam harmoniosamente com tamanduás malêses e pássaros marianos. Naturalmente, a cadeia alimentar gerava ódios, mas tudo isso fazia parte da dinâmica que movia a floresta, que quedava-se segura e constante. Tudo parecia belo e proveitoso, tudo parecia eterno.

As geleiras do tempo e da inatividade derreteram, mudando o clima no planeta micronacional. A antes florescente floresta hoje é um deserto.

O ano é 2007 e existe um deserto chamado Lusofonia. Até o momento vimos oásis, perenes ou esporádicos, neste deserto. Um ciclo de palestras em Pasárgada, um Portal de Estudos em Micropatriologia, uma Wikimicropídia. Não existia um novo Nilo ou Amazonas brotando, somente estes oásis, estáticos. Começo a acreditar que existe um rio nascendo neste deserto. Ainda não é um rio, mas vejo uma nascente e um riacho dela brotando: um rio chamado Maurício. Porque é ele um rio e os outros oásis? Pois trás consigo uma coisa simples, mas muito importante, coloca de novo como base do micronacionalismo sua razão de ser: o exercício do nacionalismo em miniatura.

Espero, sinceramente, que este rio prospere, cresça e gere uma mata ciliar. Espero – mais! – que novos rios surjam e que corram juntos para o mar, gerem novos ciclos de chuva e então, finalmente, gerem uma floresta chamada Nova Lusofonia.

Pensamento Socioculturalista

O porquê do socioculturalismo. – Filipe Sales

Ao iniciarmos a propagação desta nova Escola de micronacionalismo, tentamos buscar justamente, em sua defesa, a descrição do cenário atual em que nos encontramos. Talvez porque fosse impossível que o Socioculturalismo surgisse em um ambiente fervilhante como era a lusofonia em 1999 e 2000. Do contrário, a Escola do Socioculturalismo surgiu em um ambiente desolado, o atual, totalmente oposto àquela época gloriosa, em que a participação e o voluntarismo eram inerentes a essa prática.

Surgido a partir de artigos de alguns pensadores reuniãos e pasárgados, a idéia do Socioculturalismo gira em torno de um micronacionalismo voltado ao seu realismo enquanto prática verdadeira – a existência real de uma micro-sociedade ambientada na Internet, cuja função volta-se à simulação política e cultural de um Estado, ou primórdios deste. Assim, o Socioculturalismo busca para si dois pilares que o diferem das demais Escolas micronacionais surgidas; o realismo, como meio, advindo principalmente da Escola Realista – a pasargadista –, e como fim a busca pela cultura na intenção de se criar uma identidade própria.

Cumpre esclarecer, todavia, cultura, aqui, existe em seu significado científico: o conjunto de valores, técnicas, símbolos e costumes fixados como legado a ser transferido à gerações futuras, cuja presença acabe por gerar um nível de autoconsciência sobre a própria identidade de uma sociedade.

E este segundo pilar do Socioculturalismo, o micronacionalismo cultural, que o define como Escola ligada ao amadurecimento dos próprios atores que fazem, diariamente, esta prática continuar a existir. Cria, como oposição ao regime do Micronacionalismo Polemicista – aquele ligado ao incentivo de polêmicas para continuar a existir – a idéia de que a prática do próprio micronacionalismo deve, e passa da hora, de tomar uma definição mais madura, ligada a valores reais, ainda que dentro de um ambiente de proporções menores.

O Socioculturalismo é, pois, a resposta natural diante do desenvolvimento intelectual dos antigos líderes do micronacionalismo e à nova realidade em que nos encontramos diante do fato de que o público-alvo para nosso hobby mudou. Enquanto antes o micronacionalismo mantinha-se como prática de simulação acessível como poucas, hoje são criados, todos os dias, novos jogos de simulação que, para aqueles que buscam exatamente realidades paralelas, são mais interessantes. O micronacionalismo manteve consigo mesmo tão somente a característica de propiciar a realização verdadeira de uma sociedade em proporções menores, ambientada na Internet. A maturidade do público-alvo, portanto, mudou.

A mudança de posições intelectuais acerca de nossos objetivos é, via de conseqüência, algo também natural.

A Escola do Socioculturalismo, portanto, surge de forma e fixar-se como alternativa ideológica para construir um novo paradigma sobre as bases do micronacionalismo, abandonando as Escolas do Polemicismo e do Virtualismo e partindo para alternativas mais próprias ao novo horizonte que desponta em nossa atuação nestas pequenas sociedades.

O fato é que nos tornamos adultos e, como deveria ser, amadurecemos. Resta reconhecer e abraçar isso e, como conseqüência, adotarmos modelos mais próprios para esta fase de nossa vida.

Artigo

Do processo normal dos nacionalismos – Carlos Góes

Como surgem nações? É por causa de uma língua comum? Se só por isso o fosse toda a America Hispânica seria um só país e a Indonésia seria um fragmento de diversos. É por causa da geografia? Então os russos nascidos em Kalingrado [veja aqui na wikipedia] são menos russos que os russos de Moscou?

Nacionalidade, antes de mais nada é um processo de indentificação, que é natural de todos os seres humanos. Hoje os adolescentes logo querem dizer se são “funkeiros”, “rockeiros”, “emos” e recusam totalmente a identificação com as outras “tribos”. Hoje, o mais natural processo de identificação é a nação. Pensamos: eu tenho a pele branca, sou protestante, são-paulino e heterossexual, enquanto ele tem a pele negra, é umbandista, corinthiano e é homossexual. Somos todos, contudo, brasileiros.

No mundo ocidental, até meados do Século XVI, o principal eixo de identificação era o religioso: se era católico, protestante, judeu ou muçulmano. Posteriormente, passou a ser as grandes dinastias europeias: se era súdito do Rei Carlos I ou do Rei Luís XVI – não se tinha idéa de se ser inglês, francês ou português. Somente a partir do fim do Século XVIII, surgiria a idéia de nação. A recusa dos colonizadores em identificar os crioulos – filhos de colonos nascidos nas Américas – acabou por gerar a identidade mútua dos nacionais. Nos EUA, um crioulo nacionalista pensava: “se eles são os colonos exploradores, nós, os explorados, somos os americanos”.

O propósito do nacionalista é cultivar a consciência nacional, a consciência de indentificação mútua. E o nacionalista se utiliza dos símbolos gerados da interação social em sua batalha. A partir da idéia de nação, foi gerada a bandeira, o brasão nacional, o hino. E isto surge pode surgir ou do processo natural das relações sociais – os chamados nacionalismos populares – ou então de uma estrutura estatal – o nacionalismo oficial.

Ambas as formas podem surgir no ambiente micronacional. Pasárgada e Mariana são bons exemplos de nacionalismo popular, enquanto Reunião, Porto Claro e outros modelos muito centrados na figura de uma única pessoa são exemplos de um nacionalismo oficial. O que importa aqui não é qual é o melhor modelo, uma vez que ambos podem ser aplicados à realidade das comunicações virtuais nas quais se susteta o micronacionalismo contemporâneo.

É mister compreender, entretanto, é que o objetivo fundamental do [micro-]nacionalismo é um só em ambos os modelos: o da expansão da consciência nacional. Em nosso ambiente virtual reproduzimos o nacionalismo em escala reduzida e, exatamente por isso, o objetivo do micronacionalismo não é o mesmo que um jogo de poker ou andar de bicicleta. O objetivo não pode ser só diversão. Se o for, não podemos chamá-lo de [micro-]nacionalismo, teremos de rebatizá-lo.

Somente tendo em mente o objetivo do micronacionalismo poderemos dar o salto qualitativo que desejamos. Somente assim restabeleceremos o processo normal dos nacionalismos. Ou se dá ex partis principis com uma pessoa centralizando as decisões e tendo como objetivo fundar uma nação. Ou se dá ex partis populis, com uma micronação nascendo de outra. Ambas têm de resguardar, entretanto, o objetivo de expansão da consciência natural, valorizando as relações sociais e os símbolos culturais.

Expediente

Editor – Carlos Góes

Redação – Carlos Góes, Filipe Sales e Rodrigo Mariano.