O Socioculturalista #4

24Abr07

Editorial

A infeliz decepção
Tenho plena convicção de que o ser não se altera quando qualquer pessoa se torna micronacionalista. Sua peculiaridades, suas qualidades, seus defeitos, seus talentos, seu caráter. Tudo isto é personalíssimo, não se altera. Esteja a pessoa na escola, na universidade ou em uma micronação, isto permanecerá cravado em seu ser. Ainda que alguém se utilize de pseudônimo ou mesmo tente criar uma personagem, lá estaram, por sobre a manta de distinção a mesma pessoa. É por isso que confio na idéia de que a separação micro/macro é uma simplificação horrível. Como disse McMillan Hunt “micronacionalismo não é um hobby, é a vida”.
É por isso que me entristece ver pessoas que eram do meu círculo de relacionamentos cometerem falhas tão terríveis quanto as falhas de caráter. As falhas por imperícia e imprudência podem ser corrigidas, seja como um curso ou com um Red Bull. As de caráter, todavia, demonstram algo que dificilmente muda. Princípios são algo que se constroi muito lentamente. O mínimo que podemos extrair das palavras do Cristo em “ensina a criança no caminho que deve andar”, é que algo que se repete ao homem desde cedo, permanece. Ainda que seja só culturalmente. Ainda que seja, como disse o paquistanês Tariq Ali – se autodefinindo -, para criar um “muçulmano não-muçulmano”.
Pessoas que não tem princípios não o terão seja no micronacionalismo, seja na igreja, seja no trabalho. Princípios transcendem as esferas da vida, inclusive o micronacionalismo. Aquele que se utiliza do poder para benefício próprio aqui não hesitará em fazê-lo quando tiver oportunidade em seu trabalho, ou no sindicato, ou no círculo de amigos. É por isso que é sempre triste se decepcionar com pessoas que não os têm, seja aonde for.
Toda esta confusão em Reunião me mostrou algumas pessoas que não têm princípios, que falham em caráter. Pessoas que não imaginava que o fossem. Não sei, são palavras soltas ao vento…

 

Pensamento Socioculturalista

L’Ancien Régime et la Révolution – Carlos Góes

Toutes les révolutions civiles et politiques ont eu une patrie et s’y sont renfermées. La révolution française n’a pas eu de territoire propre; bien plus, son effet a été d’effacer en quelque sorte de la carte toutes les anciennes frontières. On l’a vue rapprocher ou diviser les hommes en dépit des lois, des traditions, des caractères, de la langue, rendant parfois ennemis des compatriotes, et frères des étrangers; ou plutôt elle a formé, au-dessus de toutes les nationalités particulières, UNE PATRIE INTELLECTUELLE COMMUNE DONT LES HOMMES DE TOUTE LES NATIONS ONT PUT DEVENIR CITOYENS. (ALEXIS DE TOCQUEVILLE, L’Ancien Régime et la Révolution. Paris: Les Éditions Gallimard, 1952. p. 40)

As ideologias são forças sentimentais que equivalem-se às identidades nacionais. São também laços imaginados de identidade, mas que não se dão em termos nacionais (ancestralidade/destino comuns; símbolos; cultura; dotrinas, etc.), mas sim em termos de opinião política. Como diz Tocqueville no destaque aqui em cima, as ideologias são “uma pátria intelectual comum, da qual homens de todas as nações podem ser cidadãos”. Se, por vezes, uma nação/Estado pode escolher uma ideologia oficial para si, a ideologia em si não respeita fronteiras. Embora só existisse uma União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, os defensores do modelo soviético estavam espalhados por todo o mundo.

Ao contrário de algumas doutrinas, como o Réunian Way of Life, que reivindica Reunião como nação predestinada a ser a maior do mundo, o Socioculturalismo não tem preconceitos “de fronteira”. Assim como os ideais iluministas de que Tocqueville falava, o Socioculturalismo não coloca à frente nenhuma nação predestinada a ser melhor que as outras. Naturalmente, vão existir os projetos em que esta doutrina será implementada. O mesmo começou a ser feito em Maurício, mas foi dilacerado pelos Extraordinários Reacionários (ver O SOCIOCULTURALISTA 3), por meio de perseguição política e apego ao velho regime.

Deste modo, apesar de nós, doutrinadores, ao passo de sermos também micronacionalistas, tentarmos implementar um projeto de nação em miniatura inspirado pelo socioculturalismo, nada impede da influência de outras nações neste sentido. Naturalmente, este seria nosso deleite intelectual. É por isso que não nos negamos a explicar minusciosamente o que é o socioculturalismo e quais são suas base ideologicas. É por isso que dizemos repetidamente que repudiamos, além de um verdadeiro projeto de nação em miniatura, um projeto micronacional deve ter um ambiente que proporcione aos seus membros a possibilidade de contribuir à sociedade e à autoevolução.

Isso não significa, entretanto, que o Socioculturalismo tenha a megalomania de ser a corrente dominante em todas as micronações. Ao contrário de na Revolução Francesa, o velho regime (l’Ancien Régime) pode subsistir juntamente ao novo. O velho modelo, tão bem representado por Reunião e seu semi-virtualismo, seus acordões de trocas de favores, sua a-meritocracia, sua a-democracia e seu polemicismo pode continuar a existir: há quem goste. É bom que exista o velho modelo, até para base de compração do novo.

O novo regime, entretanto, pode produzir uma revolução por esquecer o micronacionalismo e buscar o [micro-]nacionalismo. Assim como Voltaire não participaria, mas inspiraria a Revolução, os Pioneiros Pasárgados nos inspiraram! Espero que a Revolução seja vindoura – e que modifique todas as bases do “micronacionalismo”, tornando real o verdadeiro nacionalismo em miniatura.

Em Reunião, a Revolução foi impedida pelos reacionários, dispostos a tudo para esmagar posições políticas diferentes das suas próprias. A Revolução virá, ainda que mude de endereço.

Expediente

Editor – Carlos Góes

Redação – Carlos Góes, Filipe Sales e Rodrigo Mariano.

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