O Socioculturalista #2

09Abr07

Editorial

O aquecimento global da Lusofonia

O ano é 2002 e existe uma verdejante floresta chamada Lusofonia. Nessa floresta, a fauna e flora são riquíssimas, dodôs reuniãos conviviam com palmeiras pasárgadas e bromélias de Porto Claro. Formigas havanêsas viviam harmoniosamente com tamanduás malêses e pássaros marianos. Naturalmente, a cadeia alimentar gerava ódios, mas tudo isso fazia parte da dinâmica que movia a floresta, que quedava-se segura e constante. Tudo parecia belo e proveitoso, tudo parecia eterno.

As geleiras do tempo e da inatividade derreteram, mudando o clima no planeta micronacional. A antes florescente floresta hoje é um deserto.

O ano é 2007 e existe um deserto chamado Lusofonia. Até o momento vimos oásis, perenes ou esporádicos, neste deserto. Um ciclo de palestras em Pasárgada, um Portal de Estudos em Micropatriologia, uma Wikimicropídia. Não existia um novo Nilo ou Amazonas brotando, somente estes oásis, estáticos. Começo a acreditar que existe um rio nascendo neste deserto. Ainda não é um rio, mas vejo uma nascente e um riacho dela brotando: um rio chamado Maurício. Porque é ele um rio e os outros oásis? Pois trás consigo uma coisa simples, mas muito importante, coloca de novo como base do micronacionalismo sua razão de ser: o exercício do nacionalismo em miniatura.

Espero, sinceramente, que este rio prospere, cresça e gere uma mata ciliar. Espero – mais! – que novos rios surjam e que corram juntos para o mar, gerem novos ciclos de chuva e então, finalmente, gerem uma floresta chamada Nova Lusofonia.

Pensamento Socioculturalista

O porquê do socioculturalismo. – Filipe Sales

Ao iniciarmos a propagação desta nova Escola de micronacionalismo, tentamos buscar justamente, em sua defesa, a descrição do cenário atual em que nos encontramos. Talvez porque fosse impossível que o Socioculturalismo surgisse em um ambiente fervilhante como era a lusofonia em 1999 e 2000. Do contrário, a Escola do Socioculturalismo surgiu em um ambiente desolado, o atual, totalmente oposto àquela época gloriosa, em que a participação e o voluntarismo eram inerentes a essa prática.

Surgido a partir de artigos de alguns pensadores reuniãos e pasárgados, a idéia do Socioculturalismo gira em torno de um micronacionalismo voltado ao seu realismo enquanto prática verdadeira – a existência real de uma micro-sociedade ambientada na Internet, cuja função volta-se à simulação política e cultural de um Estado, ou primórdios deste. Assim, o Socioculturalismo busca para si dois pilares que o diferem das demais Escolas micronacionais surgidas; o realismo, como meio, advindo principalmente da Escola Realista – a pasargadista –, e como fim a busca pela cultura na intenção de se criar uma identidade própria.

Cumpre esclarecer, todavia, cultura, aqui, existe em seu significado científico: o conjunto de valores, técnicas, símbolos e costumes fixados como legado a ser transferido à gerações futuras, cuja presença acabe por gerar um nível de autoconsciência sobre a própria identidade de uma sociedade.

E este segundo pilar do Socioculturalismo, o micronacionalismo cultural, que o define como Escola ligada ao amadurecimento dos próprios atores que fazem, diariamente, esta prática continuar a existir. Cria, como oposição ao regime do Micronacionalismo Polemicista – aquele ligado ao incentivo de polêmicas para continuar a existir – a idéia de que a prática do próprio micronacionalismo deve, e passa da hora, de tomar uma definição mais madura, ligada a valores reais, ainda que dentro de um ambiente de proporções menores.

O Socioculturalismo é, pois, a resposta natural diante do desenvolvimento intelectual dos antigos líderes do micronacionalismo e à nova realidade em que nos encontramos diante do fato de que o público-alvo para nosso hobby mudou. Enquanto antes o micronacionalismo mantinha-se como prática de simulação acessível como poucas, hoje são criados, todos os dias, novos jogos de simulação que, para aqueles que buscam exatamente realidades paralelas, são mais interessantes. O micronacionalismo manteve consigo mesmo tão somente a característica de propiciar a realização verdadeira de uma sociedade em proporções menores, ambientada na Internet. A maturidade do público-alvo, portanto, mudou.

A mudança de posições intelectuais acerca de nossos objetivos é, via de conseqüência, algo também natural.

A Escola do Socioculturalismo, portanto, surge de forma e fixar-se como alternativa ideológica para construir um novo paradigma sobre as bases do micronacionalismo, abandonando as Escolas do Polemicismo e do Virtualismo e partindo para alternativas mais próprias ao novo horizonte que desponta em nossa atuação nestas pequenas sociedades.

O fato é que nos tornamos adultos e, como deveria ser, amadurecemos. Resta reconhecer e abraçar isso e, como conseqüência, adotarmos modelos mais próprios para esta fase de nossa vida.

Artigo

Do processo normal dos nacionalismos – Carlos Góes

Como surgem nações? É por causa de uma língua comum? Se só por isso o fosse toda a America Hispânica seria um só país e a Indonésia seria um fragmento de diversos. É por causa da geografia? Então os russos nascidos em Kalingrado [veja aqui na wikipedia] são menos russos que os russos de Moscou?

Nacionalidade, antes de mais nada é um processo de indentificação, que é natural de todos os seres humanos. Hoje os adolescentes logo querem dizer se são “funkeiros”, “rockeiros”, “emos” e recusam totalmente a identificação com as outras “tribos”. Hoje, o mais natural processo de identificação é a nação. Pensamos: eu tenho a pele branca, sou protestante, são-paulino e heterossexual, enquanto ele tem a pele negra, é umbandista, corinthiano e é homossexual. Somos todos, contudo, brasileiros.

No mundo ocidental, até meados do Século XVI, o principal eixo de identificação era o religioso: se era católico, protestante, judeu ou muçulmano. Posteriormente, passou a ser as grandes dinastias europeias: se era súdito do Rei Carlos I ou do Rei Luís XVI – não se tinha idéa de se ser inglês, francês ou português. Somente a partir do fim do Século XVIII, surgiria a idéia de nação. A recusa dos colonizadores em identificar os crioulos – filhos de colonos nascidos nas Américas – acabou por gerar a identidade mútua dos nacionais. Nos EUA, um crioulo nacionalista pensava: “se eles são os colonos exploradores, nós, os explorados, somos os americanos”.

O propósito do nacionalista é cultivar a consciência nacional, a consciência de indentificação mútua. E o nacionalista se utiliza dos símbolos gerados da interação social em sua batalha. A partir da idéia de nação, foi gerada a bandeira, o brasão nacional, o hino. E isto surge pode surgir ou do processo natural das relações sociais – os chamados nacionalismos populares – ou então de uma estrutura estatal – o nacionalismo oficial.

Ambas as formas podem surgir no ambiente micronacional. Pasárgada e Mariana são bons exemplos de nacionalismo popular, enquanto Reunião, Porto Claro e outros modelos muito centrados na figura de uma única pessoa são exemplos de um nacionalismo oficial. O que importa aqui não é qual é o melhor modelo, uma vez que ambos podem ser aplicados à realidade das comunicações virtuais nas quais se susteta o micronacionalismo contemporâneo.

É mister compreender, entretanto, é que o objetivo fundamental do [micro-]nacionalismo é um só em ambos os modelos: o da expansão da consciência nacional. Em nosso ambiente virtual reproduzimos o nacionalismo em escala reduzida e, exatamente por isso, o objetivo do micronacionalismo não é o mesmo que um jogo de poker ou andar de bicicleta. O objetivo não pode ser só diversão. Se o for, não podemos chamá-lo de [micro-]nacionalismo, teremos de rebatizá-lo.

Somente tendo em mente o objetivo do micronacionalismo poderemos dar o salto qualitativo que desejamos. Somente assim restabeleceremos o processo normal dos nacionalismos. Ou se dá ex partis principis com uma pessoa centralizando as decisões e tendo como objetivo fundar uma nação. Ou se dá ex partis populis, com uma micronação nascendo de outra. Ambas têm de resguardar, entretanto, o objetivo de expansão da consciência natural, valorizando as relações sociais e os símbolos culturais.

Expediente

Editor – Carlos Góes

Redação – Carlos Góes, Filipe Sales e Rodrigo Mariano.

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