A subversão não se resume à oposição. Opor-se simplesmente é em geral inócuo; trata-se apenas de oferecer um outro ponto de vista, uma outra possibilidade, ou manifestar o repúdio, a indignação ou a vergonha. Medidas sem efetuação. A subversão, ao contrário, mexe e abala os pilares do que é subvertido. Porque é criativa; faz do inautêntico o autêntico, inventa o novo com base no encarquilhado.

dois modos eficazes de subversão.

O primeiro é a ascensão aos princípios. Trata-se de interrogar toda a lógica imanente, de maneira que apareçam princípios, causas e pressupostos ocultos. Esta a ironia. Há uns dois ou três reuniãos que são subversivos pela ironia. Subvertem insistentemente o paradigma com acidez e mordacidade.

O segundo modo é o da condução às últimas conseqüências. Fazer com que a coisa gere até o limite o que ela se propõe. Fazer aflorar todo o discurso. Levá-lo com o máximo de seriedade, de tal maneira que se torna cômico. Que a roda gire, gire, gire… até arrebentar. Este mais eficaz ainda, o modo do humor. O gênio humorista de Reunião, de longe, é o Alberto. Subverte o paradigma ao literalmente matá-lo de rir.

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Participei ontem da primeira mesa redonda micronacional que tenho notícia, realizada pela Rádio Reunião. A novidade se tornou possível pela expansão da banda larga e assim utilização da ferramenta Skype com conferências online.

Para discutir as relações intermicronacionais de Reunião, foram convidados eu e Filipe Chapchap, ambos ex-Chanceleres. Pessoalmente, além de achar interessantíssimo a nova forma de interação micronacional que não se obste às tradicionais de listas de mensagem, penso que o dinamismo da voz pode atrair ainda mais gente para a prática micronacional.

Para conferir os três blocos da entrevista, clique aqui.


Muitas vezes poetas entendem-nos mais que acadêmicos com muita pesquisa de campo… Em termos políticos, diria que o Recurso Humano da nação é sua força motriz, já tentei fazê-lo. Sem toda a beleza, certamente, de Emerson; sem a melodia poética de dizer que “não é ouro mas somente homens podem fazer um povo grande e forte, […] bravos homens que trabalham enquanto outros dormem, que ousam enquanto outros se esquivam”.

A Nation’s Strength
por Ralph Waldo EmersonWhat makes a nation’s pillars high
And it’s foundations strong?
What makes it mighty to defy
The foes that round it throng?

It is not gold. Its kingdoms grand
Go down in battle shock;
Its shafts are laid on sinking sand,
Not on abiding rock.

Is it the sword? Ask the red dust
Of empires passed away;
The blood has turned their stones to rust,
Their glory to decay.

And is it pride? Ah, that bright crown
Has seemed to nations sweet;
But God has struck its luster down
In ashes at his feet.

Not gold but only men can make
A people great and strong;
Men who for truth and honor’s sake
Stand fast and suffer long.

Brave men who work while others sleep,
Who dare while others fly…
They build a nation’s pillars deep
And lift them to the sky.

Ralph Waldo Emerson (* 1803 – † 1882) foi um famoso escritor, filósofo e poeta estadounidense. Seu legado é mais conhecido por suas reflexões transcendentalistas, mas sua face poética também é extremamente rica, especialmente por mesclar a beleza de sua arte com seu conhecimento acadêmico.Para mais alguns poesias de Emerson, clique aqui.


Digna de nota: Relançada a Rádio Reunião iniciativa de Daniel Bojczuk. A despeito de não ser inédita a iniciativa de uma radio micronacional – vejamos, e.g., a Rádio Sofia – representa uma boa tendência que vemos em Reunião: as atenções têm se desviado das listas de mensagens aos novos modelos de prática micronacional. Vale citar, além da rádio, o blog Lusophonia, o projeto Micronação.wiki e mesmo este portal.

Como re-estreia, a Rádio promoveu uma entrevista com Carlos Fraga, reunião histórico. Ouça a entrevista:

Se você usa Internet Explorer, clique aqui.

Se você usa Mozilla Firefox ou outro navegador, escolha “Salvar link como…” para fazer o download da entrevista: Parte 1, Parte 2.


Ainda no debate, penso que, no fundo, a sugestão do Carlos de que o mundico se “aproxima muito” da situação ideal de fala decorre basicamente de sua “observação empírica” de que o “argumento racional” seria particularmente prestigiado pelos micronacionalistas e que, portanto, “quando um argumento de qualidade é colocado em lista pública é muitas vezes aceito“.

Não compartilho do otimismo iluminista.

Primeiramente, parece-me que a força da mensagem/comunicação deriva muito mais de a) quem fala, b) para quem fala e c) em que contexto de forças fala do que de um esclarecido “atributo racional“. Talvez uma conversação na rua com um conhecido seja mais “racional” ainda que a comunicação micronacional. Em segundo lugar, a própria racionalidade do discurso é relativa ao paradigma em que a micronação se insere, ou seja, não haveria uma situação ideal de fala, mas múltiplas situações possíveis de fala, dependendo dos pressupostos micronacionais adotados.

Do que resulta não apenas uma distância considerável entre a situação ideal de fala e as situações micronacionais, sem embargo seja claramente aplicável enquanto ética da discussão – e por sinal a ética típica de uma visão política atomista e abstrata, uma ética de direito civil.


A última nota de Bruno Cava neste blog, logo abaixo desta, com discurso claramente inspirado pela obra de Foucault, colocou-me uma questão: será que as premissas expressas que traduzem a idéia do exercício de poder em toda a teia de relações sociais é, no micronacionalismo, completamente contrária ao cenário habermasiano ou será possível adaptá-las para sua mútua convivêncua?

Primeiro, um ponto há de ser colocado: em momento algum expressei que a situação ideal de fala existe, mesmo no micronacionalismo. Tampouco considerava Habermas – quando escreveu a Teoria do Agir Comunicativo (TAC) – ser este modelo existente. Exatamente por isso que qualficou-o como ideal.

Coloquemos duas características principais da TAC que serão úteis para este argumento. Habermas afirmava, que em uma situação ideal de fala existem ao menos dois pré-requisitos: a) todos os cidadãos têm a possibilidade de expressar; e b) somente o argumento racional será considerado.

Quanto à primeira característica, se coloca clara a liberdade de colocação de argumento que proporcionam as listas públicas micronacionais. Aceitando que existem diferenciados níveis de poder simbólico pontencial dos agentes, a observação empírica nos mostra que quando um argumento de qualidade é colocado em lista pública é muitas vezes aceito. Enfatize-se que não devemos aqui buscar um sentido positivista de racionalidade, sendo razão a compreensão das “leis absolutas e universais” que regem determinada a vida social, mas considerando o argumento racional como aquele julgado como satisfatório pela maior parte dos pares do agente social.

Quantas vezes vimos novatos serem acusados de paplismo pela dúvida dos demais cidadãos, pois realizavam um bom papel, com boas e novas idéias, por aparentarem conhecimento das regras da nação tão bom quanto o de antigos cidadãos? Obviamente, existe desnível em poder simbólico potencial, como argumenta Bruno cá em baixo. Entretanto, a despeito de tal desnível, a possibilidade de tornar um argumento satisfatório é muito mais claro no micronacionalismo que extra-micronacionalidade.

Por que seria o micronacionalismo mais próximo à situação ideal de fala que a realidade extra-micronacional? Isto se dá pois os elementos de poder potencial são quasi-exclusivamente simbólicos, não existindo o poder material potencial. Além da violência física, já citada pelo Bruno, carece o micronacionalismo de outros elementos como a riqueza ou a beleza. As relações estão muito mais focadas na palavra, no argumento, do que acontece extra-micronacionalmente.

As relações de poder sempre existirão. Entretanto, o modelo pelo qual se dá o micronacionalismo contemporâneo o empurra para mais próximo da situação de fala – sem, todavía, alcançá-la.


O apontamento do Carlos sobre a teoria comunicativa e as micronações mostra antes de qualquer coisa as limitações dessa linha teórica proposta por Habermas. A crítica – que aliás já virou lugar-comum – à razão comunicativa, à situação ideal de fala e aos códigos da razão prática está precisamente na impossibilidade de se atingir a tal idealidade.

Em uma micronação, a situação ideal de fala não acontece. Há relações de poder atravessando a todo momento a atividade micronacional. Não há relações transversais entre os micronacionalistas. Não me refiro apenas a óbvias posições privilegiadas em termos institucionais. Mas também a tipos mais velados, mas igualmente efetivos, de desigualdade comunicativa: novatos ou antigos, amigo ou desafeto do grupo dominante, maior ou menor proficiência na redação e no português, mais ou menos tempo de acesso etc. São inúmeras variáveis que impõem um permanente realinhamento das posições discursivas, inexistindo situação ideal.

A coerção física, de fato, é a forma menos eficiente de exercício do poder. Primeiro, porque custa muito aplicá-la. Segundo, porque potencializa a resistência. Quanto mais o vivente é marcado pela violência, mais ele se insurge. E maior o apelo para que outros se insurjam com ele. A inexistência de uma violência corporal não significa um mundo mais próximo ideal. Não há relação proporcionalmente direta entre a corporalidade da violência e o controle social. As punições bárbaras aplicadas na época das monarquias absolutas, os suplícios, foram muito menos eficazes e bem-sucedidas do que o regime humanizado “esclarecido”, que disseminou a prisão.

Todavia, à margem da analítica do poder que acaba camuflada e prejudicada pela teoria do agir comunicativo, é possível pensá-la como ética da discussão. Ou seja, como idéia reguladora ou imperativo moral. Não por acaso uma das inspirações mais evidentes do filósofo de Frankfurt seja Kant.