Micronações & poder
O apontamento do Carlos sobre a teoria comunicativa e as micronações mostra antes de qualquer coisa as limitações dessa linha teórica proposta por Habermas. A crítica – que aliás já virou lugar-comum – à razão comunicativa, à situação ideal de fala e aos códigos da razão prática está precisamente na impossibilidade de se atingir a tal idealidade.
Em uma micronação, a situação ideal de fala não acontece. Há relações de poder atravessando a todo momento a atividade micronacional. Não há relações transversais entre os micronacionalistas. Não me refiro apenas a óbvias posições privilegiadas em termos institucionais. Mas também a tipos mais velados, mas igualmente efetivos, de desigualdade comunicativa: novatos ou antigos, amigo ou desafeto do grupo dominante, maior ou menor proficiência na redação e no português, mais ou menos tempo de acesso etc. São inúmeras variáveis que impõem um permanente realinhamento das posições discursivas, inexistindo situação ideal.
A coerção física, de fato, é a forma menos eficiente de exercício do poder. Primeiro, porque custa muito aplicá-la. Segundo, porque potencializa a resistência. Quanto mais o vivente é marcado pela violência, mais ele se insurge. E maior o apelo para que outros se insurjam com ele. A inexistência de uma violência corporal não significa um mundo mais próximo ideal. Não há relação proporcionalmente direta entre a corporalidade da violência e o controle social. As punições bárbaras aplicadas na época das monarquias absolutas, os suplícios, foram muito menos eficazes e bem-sucedidas do que o regime humanizado “esclarecido”, que disseminou a prisão.
Todavia, à margem da analítica do poder que acaba camuflada e prejudicada pela teoria do agir comunicativo, é possível pensá-la como ética da discussão. Ou seja, como idéia reguladora ou imperativo moral. Não por acaso uma das inspirações mais evidentes do filósofo de Frankfurt seja Kant.
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