O paradoxo do poder reunião

02Abr08
GOLDSTEIN, Carlos. O Paradoxo do Poder Reunião. O Cordel. Número 07. 20/02/2006.

O PARADOXO DO PODER REUNIÃO
Carlos Góes

O título deste artigo é, obviamente, uma paráfrase de livro do autor estadunidense Joseph S. Nye Jr., “O Paradoxo do Poder Americano”. Nesta obra, Nye afirma que os Estados Unidos atingiram um status de pós-superpotência, qualificação intocada deste a Roma Antiga. Seu poder abrange todas as faces do espectro: é econômico, militar-estratégico, cultural, propagador de seu way of life, glossolálico, etc.

De modo semelhante, podemos traçar o perfil da Lusofonia. Encontramos hoje uma preponderância de Reunião nas diversas fases do espectro do poder micronacional. Obviamente, o poder micronacional difere substancialmente de seu par macronacional. Não obstante, podemos delinear os três itens principais componentes do poder: o Recurso Humano, a Capacidade de Cooptação e o Capital Externo.

O primeiro pode ser entendido como a qualidade do elemento primaz de uma micronação: seus micronacionalistas. O segundo, como uma espécie de poder brando micronacional, mais especificamente a capacidade de fazer com que os outros queiram o que você quer. Nisso têm interferência direta a reputação e a fama de uma nação. Finalmente, o capital externo, elemento propulsor dos demais, é a quantidade de capital macronacional disponível para fomentar o micronacionalismo, p.ex., com a manutenção de sites e domínios (Cf. Goldstein, 2006).

Em todos estes elementos – e principalmente em seu conjunto – Reunião é significantemente superior aos seus pares. Conseguiu conjugar em um mesmo ambiente social micronacionalistas extraordinários (V. Cava, 2005) como Siqueira, Sales, Cava, Garcia, Friedenburgo, Oliveira, Castro, Giserman, etc; é a mais conhecida micronação brasileira do mundo, podendo ser comparada somente a Porto Claro; e os recursos disponíveis são mais que abundantes para impulsionar o micronacionalismo reunião, inexistindo um problema recorrente nas mais diversas nações: falta de verbas.

Não obstante, essa superioridade não significa que Reunião obsta a si mesma. Argumentar que o fato de Reunião ser grande se sustenta em si mesmo é, além de falacioso, um erro lógico. Uma das bases do estudo do poder sustenta a relatividade elementar deste fator. Nenhum ente é poderoso se não houver outro similar com quem se comparar. Ademais, uma das atividades mais produtivas do micronacionalismo é o contato entre diferentes sociedades por meio dos Governos institucionalizados: a Diplomacia micronacional.

Deste modo, o paradoxo do poder reunião pode ser entendido como a idéia de que apesar deste poder incomparável de Reunião, o Estado precisa de outras micronações para poder prolongar esta posição no cenário intermicronacional. Apesar de ser praticamente um clichê, vale ressaltar que a idéia durroselleana de que “todo império perecerá” é também certa no micronacionalismo: é o que chamamos de atividade cíclica micronacional. Não obstante, podemos – e devemos – empreender esforços para prolongar nosso ciclo.

Por isto, venho sustentando repetidamente que para uma maximização dos ganhos na Política Exterior Reuniã é necessária uma abordagem menos conflitiva e mais cooperativa da Chancelaria Imperial. Uma posição arrogante por parte de Reunião pode levar a que nossos aliados virem-se contra nós, aliando-se a nossos oponentes. Sem aliados, e mesmos sem oponentes – isolados -, além de perder a oportunidade de uma grande atividade produtiva, perdemos o elemento da relatividade, esvaindo, por conseguinte, nosso poder.

Temos de fazer concessões, atender alguns dos pleitos de nossos aliados de primeira hora e definir parcerias estratégicas. Tudo isso sem abdicar do hard core de nosso interesse nacional.

Aos aliados de Reunião relembro que a adoção de uma atividade cooperativa com os reuniãos não implica, necessáriamente, em perdas certas ou subserviência. Ao contrário, ao aplicar um jogo de soma positiva, os ganhos podem ser mútuos, fazendo sua micronação, ainda não tão forte quanto Reunião, poder beneficiar-se do know how já adquirido pelos micronacionalistas mais experientes e ajudando na construção da autosuperação da Lusofonia como um todo, fugindo do “governo micromundial” e resguardando o par in parem non habet imperium (em tradução livre: entre entes iguais, não há autoridade superior).

O choque com a potência, embora possa ser estratégicamente benéfico em um primeiro momento – pois gera certa atividade e patriotismo -, é em geral muito danoso a longo prazo, quando esta animação arrefece. Por outro lado, buscando a cooperação, os benefícios podem ser múltiplos e mútuos, contribuindo a si próprio e à toda Lusofonia, sem necessariamente abrir mão de seu interesse nacional.

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