Cooperação intermicronacional: solução para a lusofonia

02Abr08
GOLDSTEIN, Carlos. Cooperação Intermicronacional, solução para lusofonia. O Cometa. Ano IX, número 110. 26/12/2005.

COOPERAÇÃO INTERMICRONACIONAL: SOLUÇÃO PARA LUSOFONIA
Carlos Góes

Desde que conheci o micronacionalismo, vejo pessoas reclamando de uma crise na lusofonia. Por uma parte, alguns dizem que, a despeito do mensagismo exagerado, a produtividade intelectual dos cidadãos é ínfima. Por outra, outros reclamam da mesmice, da falta de idéias inovadoras. Independentemente de considerarmos ou não os problemas supracitados como uma crise iminente ou existente – pois não é este o foco deste artigo – temos de ter em mente que estas questões são importantes e que sua solução seria um considerável avanço para o micronacionalismo lusófono.

Certamente, a suposta inércia de lenta evolução na lusofonia não é causada pela falta de boas idéias. Vários micronacionalistas – sejam ordinários ou extraordinários, utilizando-se da divisão de Bruno Cava – têm boas idéias e estimulam-nas, em um primeiro momento. Todavia, quando surgem as dificuldades, arrefece a animação inicial e um bom projeto escorre pelo ralo. Nesse sentido, a operacionalização figura como problemática-chave. Podemos ver, como problemas de operacionalização, dois pontos principais: a falta de micronacionalistas capacitados e experientes; e a falta de demanda.

Quanto àquele, faltam exatamente micronacionalistas extraordinários, não somente em sua formação micronacional, mas também em sua formação intelectual macronacional. Dificilmente encontram-se em uma mesma micronação um grande número de micronacionalistas que reúnem estas duas características e que possam, unicamente no âmbito intraestatal, produzir conhecimento micronacional de peso. Em um passado recente, servia de referência como associação para a produção intelectual micronacional a Fundação Pablo Castañeda que agregava, dentre outros: Crasnek, Cava, Garcia e Sales.

Entretanto, vemos que a Pablo Castañeda bastava-se em si só por seu objetivo peculiar. Outras atividades, no entanto, precisam de demanda para desenvolverem-se. A Academia micronacional nunca conseguiu de facto estabelecer-se com força para agir como ente social capaz de influenciar e ser influenciada pela Sociedade Civil Micronacional. Deste modo, abre-se uma lacuna no micronacionalismo, não exercendo a comunidade científica micronacional o papel que seu par macronacional faz na macrorealidade. A falta de demanda enquadra-se como determinante para a não-afirmação da Academia.

Assim como dificilmente existem muitos micronacionalistas extraordinários em uma mesma micronação, também dificilmente existem muitos potenciais micronacionalistas extraordinários – aqueles que são empenhados e intelectualmente capacitados, mas ainda nascentes no micronacionalismo. E são exatamente estes que se interessariam pela Academia.

A solução para estes problemas – não exaurindo-se nos exemplos supracitados – reside na cooperação intermicronacional. Em vista disso, e do papel proeminente do Estado no micronacionalismo, devem estes, assim como as “elites conscientes” de Weber, estimular a cooperação cultural e educacional. Não falo aqui de estruturas burocráticas intermicronacionais, como as inúmeras já existes – na lusofonia e fora dela – e que poucos frutos dão hoje ao micronacionalismo, mas de acordos práticos e mesmo tácitos; falo do delineamento de interesses e objetivos comuns, como primeiro passo para construção de uma sociedade intermicronacional.

Algumas nações, por seus próprios coeficientes de poder brando, acabarão por ter papel de maior destaque e terão participação sine qua non. A ex-Secretária de Estado dos E.U.A. Madeleine Albright costumava dizer que seu Estado era um “país essencial”. Do mesmo modo ocorre no micronacionalismo. O impulso para rompimento da inércia dependerá, em grande parte, de micronações como Reunião. Por isso, se seu imobilismo pode significar o imobilismo pode significar o da lusofonia, seu papel pró-ativo reflete da mesma forma no sistema lusófono.

Não se pode ainda falar de uma Sociedade Civil Intermicronacional, mas com o estímulo estatal do intercâmbio científico-cultural, poderemos, em breve, caminhar nesse sentido. Deste modo, a construção de uma Sociedade Intermicronacional Lusófona é longo e árduo, e pode, in abstracto, ser iniciado de várias maneiras. Não obstante, todos eles desaguarão no leito da Cooperação.

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