O Socioculturalista #15
Editorial
Início do revisionismo histórico.
Pensamento Socioculturalista
1. A contextualização da mudança.
Dois processos ajudaram a alimentar a busca por uma alternativa ao modelismo polemicista de Reunião, que culminaria no delineamento do que hoje denominamos de socioculturalismo. Primeiramente, se delineou uma clara divisão em Reunião entre aqueles que apoiavam táticas escusas de micronacionalismo – pois julgavam ser a prática micronacional distinta da vida – e os que buscavam algo novo. Afora isso, foram marcantes as mudanças ocorridas no Vice-Reino de Maurício a partir da assunção de Rodrigo Mariano ao cetro.
Este primeiro capítulo da recapitulação histórica foca-se na divisão principiológica de dois grandes grupos em Reunião e o início da emergência mauritana. Ainda que se tenha consciência de ser uma visão singular a do relato escrito por um partícipe, como é o presente, tentar-se-á alcançar uma escrita que dê ao leitor oportunidade de interpretação pessoal.
a. Os dois micronacionalismos de Reunião
Ao fim de 2006, haveria uma clara divisão entre abordagens ao micronacionalismo que diversos reuniãos davam à prática. Uma série de fatos seria fundamental para expor os intestinos de tal divisão: as ações de uma organização microterrorista denominada “Honra Imperial”.
A “Honra Imperial”, hoje extinta, consistia em um grupo de indivíduos que, utilizando dos estandartes imperiais de Reunião – embora sem respaldo oficial – perpetrava ataques eletrônicos, como mail bombing, tentativa de roubo de listas e similares. Os dois casos mais famosos foram os ataques a Jorge Quinta-Nova, então premier do Reino Unido de Portugal e Algarves, e, posteriormente, à lista da República de Porto Claro.
Quando da época dos primeiros ataques, no ínicio de 2006, apesar da rejeição quase unívoca aos mesmos, havia divergências quanto ao modo de se abordar a referida organização. Bruno Cava, por exemplo, entendia que uma resposta oficial somente alimentaria o ânimo dos perpetradores. Filipe Oliveira, por outra parte, exigia o repúdio imediato aos ataques. Não obstante, as diferenças eram pouco substanciais então.
Algo distinto do que ocorreria no fim do ano, quando Carlos Fraga, diretor do Serviço Secreto Imperial (Quaex), tomaria a decisão de incorporar os integrantes da Honra Imperial ao corpo oficial. Naquele momento, delinear-se-ia uma divisão sensível.
De um lado, Carlos Fraga, Flávio Wernik, Gerson França, Flávio Miranda e Brunno Barbosa eram os principais defensores a incorporação. A justificação moral baseava-se no descolamento do micronacionalismo da realidade. Flávio Miranda chegou a afirmar que “no micronacionalismo não interessa o que Hitler fez ou não”, ao pregar a total separação entre o micronacionalismo e a realidade.
Houve uma eloquente resposta de todos os campos da sociedade, que julgavam ser inaceitável a incorporação de um grupo terrorista ao aparelho de Estado. Rodrigo Rocha, então Chanceler Imperial, emitiu nota de discordância em relação a posição da Quaex. O mesmo faria Valadir Aerwyld, presidente da Assembléia Popular de Qualícatos. Eduardo Lagrenge e Carlos Góes proporiam, respectivamente no Egrégio Conselho Imperial de Estado e na Assembléia Popular de Qualícatos, moções de repúdio à incorporação que seriam aprovadas. Filipe Sales e Rodrigo Mariano comandariam um repúdio do Vice-Reino de Maurício à Honra Imperial.
Muito embora fosse maior o grupo que rejeitava o micronacionalismo do terror, aqueles que o apoiavam orbitavam em volta do Gabinete do Lorde Protetor, o que, naturalmente, lhes garantia muito poder. O próprio Gerson França era o Lorde Protetor e agia de todos os modos possíveis para defender seu grupo. Ademais, o Imperador Cláudio de Castro não tinha presença constante no Sacro Império, fato que reforçava, ainda mais, o poder de Gerson França.
Eventualmente, Carlos Fraga reconheceria que cometeu um erro ao patrocinar a incorporação da Honra Imperial à Quaex. Entretanto, a divergência entre o polemicismo modelista tradicional, que aceita qualquer tipo de conduta por uma atividade mensagística, e os que focam-se na identidade entre realidade social e micronacionalismo já estava escrita.
b. O renascimento de Maurício
No mesmo ano de 2006, seria pavimentado o lócus para o surgimento do socioculturalismo. Rodrigo Mariano assumia o Cetro Real Mauritano inaugurando uma era de atividade produtiva em Maurício. Criara uma Academia de Heráldica, uma Biblioteca Real e instituira o sistema feudal no Vice-Reino, entre outras iniciativas.
Somando-se o ambiente positivo no nível vicerreal à dominância do grupo polemicista na política imperial, houve grandes incentivos a uma investida ainda maior na atividade regional, de modo a produzir um ambiente maduro e que promovesse a evolução pessoal. Nesse sentido, ocorreu um resgate da cultura local, de origem anglófona, incorporando-se a esta elementos do realismo pasárgado.
Entretanto, é importante ressaltar que a prática micronacional mauritana de então ainda se caracterizava como um modelismo tipicamente reunião, ainda que salpicado com elementos realistas. Entre os principais micronacionalistas que tinham em Maurício seu foco principal de atividade estavam: Rodrigo Mariano, Eduardo Lagrenge, Carlos Góes, Bruno Sogdu e Filipe Sales.
Este cenário pavimentaria a estrada para a emergência do nacionalismo mauritano, justificado em termos teóricos e práticos. Ademais, pouco tempo depois iniciar-se-ia a Inquisição contra os mauritanos, motivada essencialmente por um desgosto do grupo polemicista contra a elevada atividade regional mauritana.
Expediente
Redação – Carlos Góes, Filipe Sales, Rodrigo Mariano e Fernando Henrique Cardozo.
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O Socioculturalista #14
Editorial
Panfletos teóricos.
O SOCIOCULTURALISTA seguirá a norma culta do português brasileiro seguida até 31 de dezembro de 2008, sendo possível a futura adoção da ortografia unificada. Artigos reeditados seguirão a ortografia vigente quando de sua publicação original.
Artigo
Concepções de nacionalismo – Carlos Góes (reeditado)
Pierre Renouvin e Jean-Baptiste Duroselle, em sua mais importante obra conjunta – Introduction à l’histoire des Relations Internationales -, afirmam existir duas grandes abordagens analíticas do nacionalismo. Abordagens, ressalte-se, divergentes.
A primeira seria a concepção naturalista do nacionalismo. Segundo esta concepção a nação seria um ser vivo, um ente natural, independente das relações sociais existentes entre os membros da mesma. A nação estaria evidente na língua, na raça, no território, na fidelidade, nos costumes, nas antigas tradições. A nação seria a “ação inconsciente de uma força superior”. A qualificação de um grupo social como nação não seria relacionado à existência de um sentimento nacional, mas sim aos elementos como os supracitados. “Que tais agrupamentos não tenham consciência de sua solidariedade, que não manifestem o desejo de viver em comum, pouco importa: os sinais exteriores constituem critério indiscutível”.
Seriam exemplos o fato de germânicos terem se agrupado em um nacionalismo alemão (ou germânico); antigos gauleses terem se tornado os contemporâneos franceses; e os habitantes da península itálica terem, desde o Século XVI, fomentado um sentimento nacional italiano que culminaria na unificação de 1870. Não explicaria, todavia, o porquê de a hispano-américa ter se conformado em um sem-número de nações; e, por exemplo, o fato de os suíços falantes do alemão – muito similares culturalmente, linguisticamente e em termos étnicos, dos alemães – não conformarem a “nação germânica”, supostamente existente em termos naturais.
Já a concepção sociológica do nacionalismo compreende que a nação é um “fato de consciência”. A nação existe pelo fato de – agora utilizando o léxico de B. Anderson [1] – seus membros identificarem um ao outro como ligados a uma mesma entidade imaginada socialmente: a nação. “A pátria é antes de tudo a consciência da pátria”. É marcante, nesse sentido, um famoso discurso de Ernest Renan, onde o mesmo relata que:
Uma nação é portanto uma grande solidariedade, constituída pelo sentimento advindo dos sacrifício que nós fazemos e estamos dispostos a fazer no futuro. Ela pressupõe um passado resultante em um fato tangível: o consentimento, o claro e expresso desejo de continuar a conviver em sociedade. A existência da nação é, em si mesma, um plebiscito diário, assim como a própria existência do indivíduo é uma perpétua afirmação da vida [2].
De tal modo, mesmo reconhecendo a importância dos fatores tidos como fontes naturais da nação para a emergência de um sentimento nacional, eles por si só não seriam suficientes. Sem a expressão de uma identidade comum, de um sentimento de solidariedade, não pode haver nação. Isto, pois a nação seria constituída exatamente por esta identificação coletiva sendo, assim, uma comunidade imaginada.
Ao passo que a concepção naturalista entende que a nação é um fato dado, empírico, a concepção sociológica trata da questão das identidades, sendo a nação é construída sociologicamente, por meio das interações sociais. Na primeira abordagem, a existência de uma micronação seria impossível, uma vez que micronações não são natural: não se baseiam ou resumem à língua ou à etnia. Todavia, concebendo a nação como ente construído com base nas interações sociais, pode-se observar que um micronação pode ter, apesar da escala reduzida, as mesmas características de uma nação de proporções maiores.
Nesse sentido, fica exposta exatamente qual deveria ser a abordagem micronacional à questão da construção de um micro-nacionalismo: deve-se focar nos laços imaginados de identidade que emergem das interações sociais. Micronações possuem um locus social. As relações existentes, ainda que utilizando-se da Internet como meio de comunicação, são reais, nunca virtuais.
[*] citações, salvo expresso em contrário: RENOUVIN, Pierre; DUROSELLE, Jean-Baptiste. Introduction à l’histoire des Relations Internationales. Paris: Librairie Armand Colin, 1967. pp. 180 – 267.
[1] V. ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas: Reflexões sobre a origem e a expansão do Nacionalismo.Lisboa: Edições 70, 2005. Livro em: [livraria cultura]. Sinopse em: [wikipédia]
[2] RENAN, Ernest. Qu’est-ce qu’une nation?. Conférence faite à la Sorbonne, le 11 mars 1882. Texto completo disponível em [wikisource].
Expediente
Editor – Carlos Góes
Redação – Carlos Góes, Filipe Sales, Rodrigo Mariano e Fernando Henrique Cardozo.
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A Força das Idéias
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Hora do recreio
Corcovado, de Tom Jobim.
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O Socioculturalista #13
Editorial
Ressurgimento editorial e aprofundamento teórico.
Ademais, há ainda uma tímida volta da atividade intelectual na Lusofonia. Eu próprio contribuo com estes panfletos e com o portal MICROPATRIOLOGIA. Já a multifuncional Marisa Kazama leva a cabo um Ciclo de Palestras sobre “Os desafios do micronacionalismo”. O processo de reflexão teórica sobre o processo micronacional reforça nossas próprias micronações, uma vez que ajudam-no a tomar consciência de nossos propósitos, objetivos e fundamentos. Se somos algo, precisamos saber o que somos.
Nesse sentido, aprofundo, em artigo próprio, as concepções sobre o nacionalismo e aquela que mais se adapta ao micronacionalismo. Além dos já comuns conceitos do irlandês Benedict Anderson, trago as contribuições de relevantes francófonos: Pierre Renouvin, Jean-Baptiste Duroselle e Ernest Renan
Artigo
Concepções de nacionalismo – Carlos Góes
Pierre Renouvin e Jean-Baptiste Duroselle, em sua mais importante obra conjunta – Introduction à l’histoire des Relations Internationales -, afirmam existir duas grandes abordagens analíticas do nacionalismo. Abordagens, ressalte-se, divergentes.
A primeira seria a concepção naturalista do nacionalismo. Segundo esta concepção a nação seria um ser vivo, um ente natural, independente das relações sociais existentes entre os membros da mesma. A nação estaria evidente na língua, na raça, no território, na fidelidade, nos costumes, nas antigas tradições. A nação seria a “ação inconsciente de uma força superior”. A qualificação de um grupo social como nação não seria relacionado à existência de um sentimento nacional, mas sim aos elementos como os supracitados. “Que tais agrupamentos não tenham consciência de sua solidariedade, que não manifestem o desejo de viver em comum, pouco importa: os sinais exteriores constituem critério indiscutível”.
Seriam exemplos o fato de germânicos terem se agrupado em um nacionalismo alemão (ou germânico); antigos gauleses terem se tornado os contemporâneos franceses; e os habitantes da península itálica terem, desde o Século XVI, fomentado um sentimento nacional italiano que culminaria na unificação de 1870. Não explicaria, todavia, o porquê de a hispano-américa ter se conformado em um sem-número de nações; e, por exemplo, o fato de os suíços falantes do alemão – muito similares culturalmente, linguisticamente e em termos étnicos, dos alemães – não conformarem a “nação germânica”, supostamente existente em termos naturais.
Já a concepção sociológica do nacionalismo compreende que a nação é um “fato de consciência”. A nação existe pelo fato de – agora utilizando o léxico de B. Anderson [1] – seus membros identificarem um ao outro como ligados a uma mesma entidade imaginada socialmente: a nação. “A pátria é antes de tudo a consciência da pátria”. É marcante, nesse sentido, um famoso discurso de Ernest Renan, onde o mesmo relata que:
Uma nação é portanto uma grande solidariedade, constituída pelo sentimento advindo dos sacrifício que nós fazemos e estamos dispostos a fazer no futuro. Ela pressupõe um passado resultante em um fato tangível: o consentimento, o claro e expresso desejo de continuar a conviver em sociedade. A existência da nação é, em si mesma, um plebiscito diário, assim como a própria existência do indivíduo é uma perpétua afirmação da vida [2].
De tal modo, mesmo reconhecendo a importância dos fatores tidos como fontes naturais da nação para a emergência de um sentimento nacional, eles por si só não seriam suficientes. Sem a expressão de uma identidade comum, de um sentimento de solidariedade, não pode haver nação. Isto, pois a nação seria constituída exatamente por esta identificação coletiva sendo, assim, uma comunidade imaginada.
Ao passo que a concepção naturalista entende que a nação é um fato dado, empírico, a concepção sociológica trata da questão das identidades, sendo a nação é construída sociologicamente, por meio das interações sociais. Na primeira abordagem, a existência de uma micronação seria impossível, uma vez que micronações não são natural: não se baseiam ou resumem à língua ou à etnia. Todavia, concebendo a nação como ente construído com base nas interações sociais, pode-se observar que um micronação pode ter, apesar da escala reduzida, as mesmas características de uma nação de proporções maiores.
Nesse sentido, fica exposta exatamente qual deveria ser a abordagem micronacional à questão da construção de um micro-nacionalismo: deve-se focar nos laços imaginados de identidade que emergem das interações sociais. Micronações possuem um locus social. As relações existentes, ainda que utilizando-se da Internet como meio de comunicação, são reais, nunca virtuais.
[*] citações, salvo expresso em contrário: RENOUVIN, Pierre; DUROSELLE, Jean-Baptiste. Introduction à l’histoire des Relations Internationales. Paris: Librairie Armand Colin, 1967. pp. 180 – 267.
[1] V. ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas: Reflexões sobre a origem e a expansão do Nacionalismo. Lisboa: Edições 70, 2005. Livro em: [livraria cultura]. Sinopse em: [wikipédia]
[2] RENAN, Ernest. Qu’est-ce qu’une nation?. Conférence faite à la Sorbonne, le 11 mars 1882. Texto completo disponível em [wikisource].
Expediente
Editor – Carlos Góes
Redação – Carlos Góes, Filipe Sales, Rodrigo Mariano e Fernando Henrique Cardozo.
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A volta do micropatriologia
Bem vindos ao micropatriologia!
Depois de mais de um ano com as portas fechadas, o micropatriologia volta, agora com o design leve e minimalista do wordpress, o crème de la crème da blogsfera. Vou resumir, para novos leitores, de que se trata o micropatriologia. Para todos, listarei as novidades.
o micropatriologia
Qual é a função deste portal? – pode-se indagar. Nossa missão é trazer reflexões sobre o desdobramentos político-sociais do micronacionalismo. É, ademais, de se consolidar como o principal think-tank digital sobre o assunto, agregando as mais diversas escolas teóricas e ideológicas, com acadêmicos das mais diversas nacionalidades.
Em poucas palavras, o micropatriologia tem o objetivo de contribuir para uma mudança de direção nos rumos da Lusofonia, passando longe da ordinariedade. Movendo-se no sentido do construtivismo social, almeijamos transformar a realidade a partir da teoria.
conteúdo do micropatriologia
O micropatriologia é, ao mesmo tempo, um blogue de comentários políticos e teóricos, bem como uma extensa fonte bibliográfica. O blog será o método de comunicação dos membros da equipe com nossos leitores, enquanto as outras partes do portal armazenarão a bibliografia que pode ser consultada.
Revista. A Revista de Estudos em Micropatriologia, lançada em Janeiro de 2006, compõe as linhas de produção acadêmica deste think-tank. Por ora, foi finalizada a primeira edição, muito embora existam planos para lançamento de edições futuras. Confira!
Banco de Artigos. Nosso banco de artigos, principalmente – mas não somente – de nossa equipe, sempre em expansão, colocar-se-á como potenciais referências bibliográficas. Confira!
Livros. Nossa equipe produziu algumas obras de reflexão sobre o micronacionalismo. Busque e amplie seus conhecimentos. Até o momento, estão disponibilizados os livros Manual de Direito Internacional Micronacional, de Filipe Sales, Micronacionalismo Lato Sensu, de Bruno Cava e livro Relações Intermicronacionais, de Carlos Góes. Confira!
Enlaces. A todo momento estão, na barra à direita do sítio, relacionados enlaces (links) para bancos de artigos, glossários, enciclopédias e periódicos sobre micronacionalismo, que serão de grande valia para aquele que deseja se aprofundar nos estudos micropatriológicos.
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O Socioculturalista #1 – 03 de abril de 2007.
Carlos Góes
Benedict Anderson, sociólogo de nacionalidade britânica – a despeito de ter nascido em solo chinês – é expoente nos estudos de nacionalismo. Seu livro Comunidades Imaginadas posa, ao lado de Nations Before Nationalism (1982), de JA Armstrong e Nações e Nacionalismos desde 1788 (1990), de Eric Hobsbawm, como um dos marcos no estudo da matéria.
A base do estudo de Anderson repousa em sua definição para nação: “uma comunidade política imaginada – e que é imaginada ao mesmo tempo como limitada e soberana”. Limitada pois aí reside aí diferença entre o compatriota e o estrangeiro. Soberania que se reflete no “direito de autodeterminação dos povos”.
O que aqui nos interessa é a idéia de que a nação não é algo existente ex nihilo, mas algo construído sociologicamente, por meio da mídia e das relações sociais. Em última instância, uma nação só existiria “nas mentes e nos corações de seus cidadãos”.
Qual é a razão de um presidente ser reconhecido como tal? Legalidade ou legitimidade, qualquer das situações passa, no mínimo, pela aqüiescência dos membros de sua nação. Os reis da França absolutista o eram pois conseguiam, seja por meio da força ou pela “legitimidade divina”, fazer com que seus súditos os vissem como tal.
De tal feita, o micronacionalismo não difere, em substância, da qualquer outra experiência nacional. Sendo em miniatura, sua diferença é em escala. Um Chanceler, Presidente ou Imperador é visto como tal “nas mentes e nos corações de seus cidadãos”. Estes títulos não são simulados, são tão válidos quanto o de Presidente do Brasil ou Rainha da Inglaterra. A diferença está na amplitude de seu reconhecimento.
Enquanto quase todo o globo reconhece Elizabeth II como Rainha da Inglaterra, somente os micronacionalistas reconhecem Cláudio I como Imperador de Reunião. Novamente, diferença de escala, não em substância.
Um exemplo factual que mostram escalas de reconhecimento diferentes pode ser visto quando da Revolução Chinesa. Quando Mao Tsé-Tung marchou sobre Pequim e se tornou de facto o líder da China, Chiang Kai-Shek declarou um “governo no exílio” instaurado em Formosa, mas reivindicando soberania sobre toda a China continental. Enquanto Mao era reconhecido pelos países do bloco soviético, os ocidentais ainda reconheciam Taipé como sede provisória de governo. Até 1971, foi o “governo no exílio” da República da China que ocupou o assento permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Esses conflitos mostram que não existia título “mais válido” que outro. Existe escala de reconhecimento, tudo relativo. E isso corrobora com a identidade entre o micronacionalismo – como experiência nacional em miniatura – com as experiências nacionais extra-micronacionais. Corrobora para mostrar que a diferença é de escala, não de substância.
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