A disputa por um território

01Abr08

Agência Reuniana de Notícias – 30 de Julho de 2006

A DISPUTA POR UM TERRITÓRIO.
Filipe Oliveira

Micronações possuem como território seus websites e suas listas de discussão, basicamente. Trata-se de um conceito de aceitação ampla atualmente, tendo-se ultrapassado a necessidade “virtualística” de uma simulação de país necessitar clamar por um território físico para fugir da infame categoria de país virtual.

Mapas e geografica se tornam, assim, elementos culturais que enriquecem a micronação, gerando assim a possibilidade de se criar divisões político-administrativas, criando mais chances de atividades subsidiárias (cuja eficácia é fator altamente discutível mas que deve ser objeto de uma análise isolada, em outro texto, qualquer hora).

Pasárgada, como outras antes dela, optou por se desvincular inteiramente de um espaço físico em agosto de 2001, com a aprovação da lei local 08/2001, “invertendo o jogo” e chamando de virtual quem clama por territórios macro. Destaca-se que Pasárgada, ainda assim, possui divisões administrativas, chamadas Cantões, pois mesmo sem território buscou os já citados elementos culturais distintos.

O ponto onde se quer chegar é que, hoje em dia, a importância de um território que corresponderia ao da micronação é relativa mais do que outrora fora. É claro que o patético sempre existirá e americanos loucos continuarão dizendo que seu quarto de dormir é um estado soberano e independente…

Mas, nesse universo micronacional rico e sempre em mudanças onde vivemos, um espaço físico tem mais destaque que todos os demais, ao menos na Lusofonia. Trata-se de “uma faixa de aproximadamente 40km2 e está localizado na América do Sul. A posse do território é normalmente creditada à Guiana Francesa…”

Estamos falando do local onde foi fundada a primeira Lusófona, que é também a primeira micronação de língua portuguesa a adentrar a internet: Porto Claro.

Pedro Aguiar, o criador de Porto Claro, dividiu essa faixa de terra em diversos Distritos: Danielle, Comidine, Campo Bastos, Pirraines, Nouvelle Rouen e Distrito Nacional (ver mapa). Foi com essa divisão que o país chegou ao seu primeiro “boom” populacional, quando cerca de 100 cidadãos entraram no país em uma semana, em maio de 1997 (sim, há mais de 7 anos). Fabio Trigo e eu estávamos entre eles.

Em novembro de 97, um grupo de 15 cidadãos de Porto Claro se envolvem na chamada I Guerra Civil Portoclarense e criam Orange. Costuma-se dizer que os fundadores cruzaram o Oiapoque (fronteira sul de Porto Claro) e, “fugindo da estupidez dominante”, fundaram a nova micronação.

Mas não podemos esquecer que “a primeira forma de organização política de Orange foi o ´Margraviado das Duas Pirraines´, formado pela província portoclarense de Pirraines e a então recém-criada província Oranger de Pirraines Oriental”. Ou seja, inicia-se ali a disputa pelo território sul da nossa faixa 40km. Porto Claro e Orange passam a disputar o direito de chamar de seu o distrito de Pirraines. Pirraines Ocidental, para os fundadores orangers.

Este mapa, do princípio de 1998, mostra a divisão política feita pelos orangers, ocupando o outro lado do Oiapoque, reivindicando Pirraines (parte cinza) e fincando pé numa pontinha não ocupada por Porto Claro (parte marrom sob a cinza), apenas por provocação.

Mas Pedro Aguiar, que nunca foi pessoa fácil, arrependeu-se pouco tempo depois de sua participação na I Guerra Civil, colaborando na saída dos orangers. Em fevereiro de 1998 o fundador de Porto Claro deixou o país, vindo para Reunião. Sua criação se tornaria pouco tempo depois uma República.

Só que Aguiar não abandonou o país que criou. Ele preferiu recriá-lo, sob sua ótica, moldando-o de forma que nunca mais os cidadãos quisessem alterar a história e o destino daquela micronação. Assim, enquanto a república era implantada na “Porto Claro original”, criava-se paralelamente um novo “Reino do Porto Claro”. E ambas ocupando a mesma faixa de 40km do território da Guiana Francesa!

Durante boa parte do ano de 98, então, nada menos que três micronações reinvindicaram parte ou a totalidade desse cantinho da América do Sul: as duas Porto Claro e Orange.

Em meados de 98, o já Principado de Orange abriu mão de Pirraines Ocidental e a briga passou a se resumir às “Porto Claros”. Como parte da sua luta pela aceitação do Reino como a Porto Claro de verdade, Aguiar chegou a buscar acordos e abrir mão de parte do território mas comentar e discutir tais fatos, foge do espaço para este texto.

Chega-se a 2000 e uma nova guerra civil abala a República de Porto Claro. Novamente, assim como em 1997, os distritos envolvidos são Pirraines e Nouvelle Rouen, aliadas agora ao Distrito que daria o nome a uma nova micronação: Campo Bastos. Como pode ser visto aqui, a nossa faixinha está novamente dividida. A II Guerra Civil gerou controvérsias maiores, já que além das diversas outras lusófonas agora existentes, contava-se com organizações intermicronacionais, como a OLAM, que teve participação no evento.

Seguindo o mesmo raciocíno que tivera com Orange, Aguiar abriu mão de parte do território do Reino do Porto Claro para a nova República Participativa de Campos Bastos, diminuindo mais ainda seu país

O Reino de Aguiar vira Estado de Porto Claro e, enfim, acaba em 2002. A República de PC continua ativa e uma das mais importantes lusófonas, com mais de seis anos de vida “independente”, sem o fundador do país. PC admite a existência de Campo Bastos como “grupo micronacional, não reconhecido como Estado”, segundo a definição da Chancelaria em http://pclaro.fablsc.com/chancelaria/paises.asp

Apesar dos ânimos menos exaltados hoje em dia, a faixa de terra onde a Lusofonia nasceu continua agitada e controversa. Quem ganha somos nós, micronacionalistas, sempre com muita coisa para pensar e analisar sobre esse território pequeno e tão rico culturalmente.

 

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