O Socioculturalista #9

14Jun07

Editorial

O reinado do polemicismo

Cheguei há pouco tempo a uma crítica conclusão – o fiz após completar o ciclo entre as três grandes: Reunião, Pasárgada e Porto Claro. Hoje a Lusofonia é dependente de polêmica para gerar atividade social nas micronações. Todas as três passam por período de baixa atividade, que se anima eventualmente por advento de uma crise ou polêmica. As experiências que passei recentemente – o socioculturalismo em Reunião e meu pedido de cidadania em Pasárgada – demonstram exatamente essa tendência.

Em Reunião, o caso é bem evidente. Após um ápice de misto de atividade mensagística e social causada exatamente por posições polêmicas tomadas por determinado grupo – do qual, no caso, eu fazia parte -, o país hoje jaz em um poço de inatividade, com mensagens sugerindo que todos “saiam pelados pelas ruas” para animar a nação. Essa situação era previsível e fora anunciada tanto por mim quanto pelo Filipe Sales. À época, foi considerada como uma postura arrogante de nossa parte.

A previsibilidade do fim da atividade se dava por uma análise empírica de qualquer radicalismo ou fundamentalismo. Os grupos radicais precisam de seu opositor para terem razão de existência. É por isso que, em última análise, Bush não quer o fim do terrorismo, Bin Laden não quer o fim do grande satã e o MST não quer a reforma agrária. Se a reforma agrária for de fato concretizada, qual seria a função prática da existência do MST? E assim se repetiu: uma vez acabando com o opositor, o acusador perde razão de ser. Assim, a efêmera atividade se diluiu.

O polemicismo sempre vai existir no micronacionalismo, e o mesmo não é, por si só, ruim. O erro está em emanar do polemicismo a principal fonte de atividade de uma micronação. Isto, pois o polemicismo gera uma atividade de curtíssima duração, que não está ligado a projeto algum: nem de poder, nem de pano de fundo ideológico.

Ademais, o polemicismo é faca de dois gumes. Se, por uma parte, pode servir para tirar uma nação da inatividade, por fazer com que micronacionalistas de qualidade percam a pequena motivação que ainda mantinham. Este modelo é insustentável. Meninos de 14 anos têm animação para levar brigas pequenas até longe. Jovens adultos, não. A nós, que hoje nos encaixamos neste último grupo, brigar pela briga em si mesma é nonsense.

Se não há micronacionalismo sem polêmica, o micronacionalismo não pode, certamente, SER polêmica.

 

Artigo

Crítica ao micronacionalismo lusófono. – McMillan Hunt, Dezembro de 2004.

Para qualquer da Comunidade Micronacional Lusófona,
Cuja mente possa tudo ler:

Neste período em que encontro-me, em que a ilusâo com o micronacionalismo pode ter sido, estar sendo ou vir a ser em seu ápice, consigo ver-me numa posiçâo um pouco peculiar acerca daqueles micronacionalistas que geralmente me cercam, em meu país e na comunidade em que o mesmo está inserido.

A primeira das coisas, motivo apenas inicial para nossa incrível distância é que a maioria dos mesmos parece estar viciada, fanática por simplesmente mandar mensagens de e-mail e posteriormente calcular, somar, gabar e envaidar-se e alimenta-se com seus números. Participar da Lista Nacional de Mensagens Eletrônicas é apenas uma fagulha do que um micronacionalista pode fazer, produzir ou apreender.

Isto pois, ao contrário do que certas ciências micronacionais possam estar vindo a deduzir nos últimos tempos [ lusofonia ] Nosso Território nâo localiza-se nos diretórios de informaçôes eletrônicas [pois estaria fragmentado em milhares de espaços (como HD´s dos cidadãos, dos servidores de internet, dos filtros eletrônicos, em chips de câmeras, em fitas e filmes de câmera, etc) e a micronaçâo, óbviamente, de modo algum significa ou manifesta fragmentação, ao contrário, existe somente enquanto uma certa forma de união muito intensa e SENTIMENTAL entre seus integrantes ] , a micronaçâo existe de modo tão real quanto nossa vida [a começar pelo fato de que somos NÓS CONSCIENTES que realizamos as coisas para o micronacionalismo, partindo do verdadeiro e único potencial que cada qual carrega em si ] e de modo algum pode estar calcada NO ELETRÔNICO, mesmo sendo uma micronaçâo-virtual*.

É necessário ver que bytes nada dizem, nada são por si só. Quando estamos numa micronaçâo? A lusofonia começou e viciar-se em criar bens eletrônicos para manifestar-se. Não posso mais esconder que, a grosso modo, faço um coro de Pedro Aguiar, e digo que as micronaçôes-virtuais estão em ou são um Reino Platônico.

* deve ver-se que mesmo este termo tem uma acepção diferente dos próprios significados semânticos que poderiam originar-se do estudo ou consulta da pura gramática brasileira, que caracteriza o adjetivo da seguinte maneira: “adj. m. e f. 1. Existente como potência ou faculdade, porém sem efeito atual. 2. Suscetível de se realizar; potencial. 3. Diz-se de imagem que tem seus pontos nos prolongamentos dos raios luminosos de um foco. = DIC Prático Michaelis” que muito difere da concepção originada mediante apresentaçâo do termo para os micronacionalistas. Trato de micronação-virtual como aquela micronação que não existe de modo físico-material em sua unidade (embora possa manifestar-se neste plano por meio de cartas, mensagens eletrônicas, papéis, desenhos e etc). De certo modo a micronação-virtual existe materialmente, mas somente como fagulhas solitárias DO MICRONACIONALISMO, pois o fenômeno material-micronacional é um grande e complexo derivado de uma existência imaginária. [tratarei em muitos caso de \micronação-virtual\ simplesmente como \micronação\ ]

Seriamos descaradamente ingênuos caso nâo partíssemos para considerar o consenso imaginário que uma micronação gera. Creio que o território que devemos explorar para as pesquisas micronacionais deve agora ser este, as formas de Imaginação e Memória que uma micronação forma.

Assim, sem uma possibilidade de conexão assídua ou paciente à Internet acabo realizando um distanciamento compulsório-voluntário ante a Comunidade que co-habito. Mas ao mesmo tempo que minha participação em Lista é morna creio estar produzindo micronacionalmente como em poucos momentos de minha vida.

Meus caros, já pensaram que uma vida micronacional é uma vida real? Não é a vida real que gastamos para dedicar-nos ao micronacionalismo? O quê e como iremos produzir para nossa construção humana é uma questão que todos deveríamos resolver.

No meu caso tenho pouquíssima paciência para dedicar minhas madrugadas ou tardes a ficar postando mensagens em uma lista enquanto as mesmas só deveriam aparecer quando um pensamento de ato interessante e relevante ocorresse e a minha mente não é um poço transbordante de inspiração.

Creio que os micronacionalistas poderiam dedicar-se em algo diferente, ao menos em seu computador, do que ficarem pendurados à Internet criando bugigangas de bytes. Se é um jornalista fique pendurado ao Front-Page a nos arquivos virtuais, se é um escritor gaste seu tempo no Word, se é construtor no Dreamweaver, artista gráfico no Corel, etc. O trabalho deve ser uma constante quando ocorre um ato para o micronacionalismo. O ócio não pode tomar lugar também na atuação dos seres no micronacionalismo, deve ser um espaço de realização para mentes interessadas em realmente produzir a aprender com o uso de sua imaginação, poder intelectual e mental.

Qual o problema de especializar-nos em nossas atividades micronacionais? Tudo o que devemos fazer é isto, desenvolver nossas aptidões e potenciais interiores. Vamos produzir material micronacional fruto de um trabalho intelectual-humano de fato, Arte de verdade, História de fatos, Cultura verdadeira. O micronacionalismo deve ser marcado por palco de atuação para a vida de grandiosos homens e de seus magníficos e imaginativos trabalhos paralelos enquanto \realidade\ mas frutos verdadeiros das aptidões mentais humanas!

A formação de \profissões micronacionais\ é um passo que devemos dar, irremediavelmente. A Lusofonia é um tipo muitíssimo peculiar de MICRONACIONALISMO e já está mais do que na hora de consolidar-se \ciências micronacionais\ , por exemplo.

Quero, secundariamente, citar que esta distância dá-se pois estamos longes em termos de realidade. Embora sejamos ambos participantes do MICRONACIONALISMO parece que isto significa e projeta-nos mundos e planos diferentes. Embora a mais íntima concepção disto seja realmente pessoal, individual e única é notável que exista grossos blocos padronizados dela, formadores da REALIDADE MICRONACIONAL. E é neste jogo de blocos de padrões de interpretação do MICRONACIONALISMO que sinto-me um tanto em separado da maioria dos que posso ver.

No meu ver os micronacionalistas estão encarando o micronacionalismo de modo pejorativo e assim praticando-o de modo falso, desleixado, fraco e ocioso. O que mesmo antigamente tinha o também pejorativo termo de \hobby\ [ pois é muito mais do que isso simplesmente ] agora adota uma acepção ainda pior, de uma brincadeira ou jogo eletrônico.

Custa-se a notar que praticar o MICRONACIONALISMO é muito mais do que \simular\ um país que não existe. No mínimo é a criação e sustentação de um plano imaginário coletivo para viver-se. A criação material de manifestações micronacionais [ seja eletrônica ou não ] é uma ferramenta de facilitação do transporte da consciência para este plano mediante identificação de símbolos [por isso geralmente já conhecidos ] a fim de virarem sinais, sentimentos. Muitas vezes isto funciona como um processo inconsciente porém voluntário por parte dos micronacionalistas.

Nossa realidade passa a estar calcada muito mais em tendências viciosas micronacionais do que em virtudes humanas. Isto gera uma própria banalização do ideário micronacional, que também passa a tornar-se menos virtuoso, e assim, do mesmo modo menos construtor para o ser. A Comunidade é mais alvo de investidas de fantasias tendênciosas da pessoalidade ou da própria inércia da ignorância de má-vontade do que de atividades criativas e dedicadas sem ânsia de mérito.

Não estamos em nossa micronação somente quando sentamos na frente do computador ou navegamos em suas web-páginas. Estamos no MICRONACIONALISMO quando sentimos isto, quando simplesmente imaginamos realmente estar praticando outra vida em um lugar diferente sob leis e regras de funcionamento também distintas das que estamos ordinariamente acostumados a vivenciar [ no MACRONACIONALISMO ] .

Praticar o micronacionalismo não é simplesmente \deixar a vida pra lá\ ou \praticar o ócio\ mas sim deslocar o local de sua vivência integralmente. A VIDA é a mesma, o micronacionalista escolhe se irá praticá-la em sua macro ou micro nação.

Falta-nos direcionar nossa dedicação mental, o emprego de nossos potenciais em nossas atividades, a interpretação verdadeira de nossas aspirações, o desenvolver de nossos poderes e o realizar de nossos interesses.

Eu vejo nos dias de hoje pessoas praticando o micronacionalismo que elogiei aqui, são poucos e estão espalhados pelo micromundo. Estes já são os pioneiros na criação e estudo do conhecimento e implementação da ciência e sabedoria voltadas integral e genuinamente ao micronacionalismo, na vontade de dar a plenitude das capacidades humanas que possam no mesmo ser empregadas.

Embora este movimento possa ser uma própria tendência oriunda da evolução micronacional não são os caminhos observados, nos dias de hoje, pelos micronacionalistas. É na vista disto que é necessário a Comunidade saber que estamos andando a passos de tartaruga ou a direções de auto-destruição.

Aliada aos micronacionalistas persistentes e escassos que hoje ainda existem [ de mais de 3 anos ] e que detém grande parte de poder do potencial desta mudança existe uma grande fatia de micronacionalistas muito jovens e de força-de-vontade que em suas vidas micronacionais apenas aguardam um direcionamento que sirva de base para desenvolvê-las. É nisto também que existe a extrema necessidade de aniquilar-se escolas de falso micronacionalismo, que doutrinam de forma alienante e errada os primeiros passos dos que chegam.

Assim, é visto que o potencial da mudança reside primeiramente nos antigos micronacionalistas [ que tiveram oportunidade de testemunhar e participar dos últimos processos evolucionários ocorridos na Comunidade ] e , a posteriori, numa harmonização e transmissão de seus conhecimentos e sabedorias para mentes novas e intocadas por tipos viciosos, ociosos e alienantes do micronacionalismo. É notável que o colégio dominante e opressor é o de uma fraca e inconsistente prática e a ele estão fadados a fazer parte todos os novos micronacionalistas que não tenham o rumo de suas vidas tocado e assim transmutado pelos praticantes do verdadeiro micronacionalismo.

Que os seguidores deste possam deixar de ser poucos e conhecidos, que a Comunidade como um todo acorde para um novo modo de realizar a prática micronacional [ que na verdade é o mais genuíno deles e que está por quase todo esquecido ], realmente construtor e influente na formação humana, e que deste modo entremos todos, como um só corpo mental, numa nova fase para o desenvolvimento da própria.

Que indivíduos cientes e voluntariosos venham a trabalhar na reconstrução do IDEAL MICRONACIONAL , mediante todos os atos que possam premeditar e\ou conscientizar , para encaminhá-lo para a direção de uma rota evolutiva. Pois os últimos acontecimentos na Comunidade têm mostrado que uma evolução-micronacional não é um movimento de todo ou perceptivelmente voluntariosamente natural. É visto que muito possivelmente tenhamos acabado de vivenciar ou mesmo estar vivenciando um significativo declínio na qualidade das vidas e sua produções micronacionais.

É numa preocupação de que esta última tendência torne-se completa e forçosamente incontrolável ou irremediável e que afunde o micronacionalismo para viver sob ossos e pedras ou até acabar-se como se conhece ou conheceu-se que escreve-se esta Crítica.

O micronacionalismo não é um hobby, é a vida.

Expediente

Editor – Carlos Góes

Redação – Carlos Góes, Filipe Sales, Rodrigo Mariano e Fernando Henrique Cardozo.

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