Micronacionalismo do Século XXI

21Jan09

O Socioculturalista #6, 10 de maio de 2007. 

MICRONACIONALISMO NO SÉCULO XXI – Carlos Góes.

Qual é o motivo do esvaziamento do micronacionalismo?! As respostas para a pergunta supracitada podem ser variadas. Proponho uma que é ampla o bastante para abranger uma série de fatores e suficientemente polêmica para provocar reflexão: o fato é que praticamos o micronacionalismo do mesmo modo que o fazíamos há dez anos. A despeito da mudança no calendário, ainda fazemos o micronacionalismo do século passado.

De qual modo ficamos parados no tempo?

Primariamente, no sentido da compreensão do que é de fato o [micro-]nacionalismo. A idéia fixada por Reunião e Porto Claro, dos famosos “país-modelismo” de Aguiar ou “hobby” de Cláudio de Castro, continua a ser predominante na Lusofonia. Ainda é predominante o micronacionalismo como emulação – misto de hobby e diversão. E, nesse sentido, o micronacionalismo está em grande desvantagem contra as novas oportunidades de emulação que existem na rede.

Em 1997 o que havia de diversão interativa na Internet eram as salas de chat e o IRC. Nesse sentido o micronacionalismo tido como emulação era um competidor respeitável às mesmas. Hoje, entretanto, o micronacionalismo, se visto como emulação, tem de competir com o Second Life, World of Warcraft e similares. Quem está a procura de diversão, tende a ficar com estes últimos.

De tal feita, precisamos de uma revisão no conceito dado ao micronacionalismo. Isto, pois, para os que não conhecem o micronacionalismo, o formato no qual o mesmo é apresentado dá a impressão de algo como uma “brincadeira séria”, ou – “RPG de diplomacia”, como disse um amigo meu ao ser apresentado ao sítio de Pasárgada.

Ainda se tem receio de ver que a [micro-]nação somente diferem das outras em relação a sua escala. Aquele que estuda um pouco de teoria do nacionalismo, chega naturalmente à conclusão de que os variados conceitos de nação coincidem em uma coisa: se relaciona aos laços de identidade entre indivíduos, que se sentem ligados – ainda que não se conheçam – por meio de uma entidade imaginada denominada “nação”. São estes laços imaginados que fazem com que um catarinense e um potiguar sintam-se identificados com os mesmos símbolos nacionais: a bandeira, o hino, a história, o futuro. São os mesmos laços que fazem com que dois peruanos, ao se encontrarem na Europa, sintam-se “em casa”, ainda que longe de sua terra natal.

Nação não é um conceito que se relaciona, necessariamente, a determinado território. Os judeus na diáspora continuaram a manter características nacionais, entre eles a idéia de um passado e destino comuns. Do mesmo modo, um português no Brasil ainda faz parte de sua nação, ainda que no estrangeiro. Nação é um conceito imaginado.

Outrossim, falta às micronações assumirem, de fato, sua nacionalidade – não o conceito jurídico, mas o senso de pertencimento à nação. Ao se cultivarem os laços de nacionalidade, naturalmente, o senso de pertencimento do novato muda do eixo emulacionista para o realista/nacionalista. Naturalmente, os que buscam por emulação tendem a se desanimar. Por outra parte, aquele que busca por novas experiências, por uma evolução pessoal, por uma experiência nacional que seja diferente àquela das estruturas dos Estados-Nação tradicionais, poderá ser atraído. Alguns da extra-lusofonia já compreenderam isto, de certa maneira. O caso mais notável é o do Quinto Mundo (ver http://5world.net/ e http://groups.msn.com/FifthWorld). Falta-nos este passo.

Não obstante, é fato que os velhos e-mails não ajudam a construir a identidade nacional. Aí que entra o segundo ponto do novo micronacionalismo: precisamos aproveitar mais das novas tecnologias.

Se Pasárgada contribuiu paradigmaticamente para demonstrar que o micronacionalismo é feito de pessoas reais e que, por conseguinte, as relações sociais que aqui se dão também são reais, temos de ir além. É muito mais simples compreender esta realidade por meio de conferências de voz ou video-conferências do que por e-mail. E isto ainda acabaria com um velho problema do micronacionalismo: o paplismo.

E é interessante ver que a raíz deste pensamento já se encontrava, incrivelmente, no pensamento de Pedro Aguiar. Isto se fazia claro quando Aguiar dizia PC não estava “na Internet”, mas se utilizava da Internet. Do mesmo modo, precisamos nos utilizar de novos métodos, mas com um objetivo claro: não o de emular, mas o de reforçar a idéia de nação.

A mudança tecnológica não é uma mudança que vai somente transferir o problema da integração das listas de e-mail às novas tecnologias. Ao contrário, elas contribuem para melhorar os métodos de construção de um senso de pertencimento nacional. É por isso que sua adoção e essencial, desde que estejam orientados para o objetivo primaz de contrução da nação.

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