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O Socioculturalista #8, 25 de maio de 2007.<\/span><\/h5>\n

AS DUAS REVOLU\u00c7\u00d5ES – Carlos G\u00f3es.<\/p>\n

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O micronacionalismo contempor\u00e2neo necessita de duas revolu\u00e7\u00f5es: uma teleol\u00f3gica e outra tecnol\u00f3gica.<\/div>\n
A\u00a0primeira, passa pela constru\u00e7\u00e3o de um verdadeiro nacionalismo popular – ex partis populis – que, por meio da lenta lapida\u00e7\u00e3o de uma cultura comum –\u00a0\u00a0com doutrinas, normas de procedimento, artefatos, s\u00edmbolos, m\u00e9todos e costumes -, gere os la\u00e7os imagin\u00e1rios\u00a0de identidade nacional que faltam para dar raz\u00e3o ao fragmento -nacionalismo do [micro-]nacionalismo. Este \u00e9\u00a0processo\u00a0extremamente complexo, pois a constru\u00e7\u00e3o de v\u00ednculos\u00a0nacionais interpessoais leva\u00a0algum tempo e, ademais, o aspecto\u00a0voluntarista do\u00a0nacionalismo em miniatura contribui para tornar estes la\u00e7os\u00a0mais fracos.<\/div>\n
Quais s\u00e3o os modos de fazer isto? Governos n\u00e3o produzem cultura. Podem, ao m\u00e1ximo promover uma homogeneiza\u00e7\u00e3o\u00a0cultural (v. GUIBERNAU, MONSERRAT, Nacionalismos.). \u00c9 exemplo\u00a0disso a escolha do Imp\u00e9rio Austro-H\u00fangaro\u00a0pela germaniza\u00e7\u00e3o em detrimento do seu multiculturalismo germ\u00e2nico-magiar.<\/div>\n
Esta homogeneiza\u00e7\u00e3o \u00e9 exemplo de nacionalismo oficial, e n\u00e3o popular. O “benchmark” que temos de nacionalismo oficial em escala reduzida\u00a0\u00e9 Reuni\u00e3o. Nela, Cl\u00e1udio de Castro, utilizando-se das tradi\u00e7\u00f5es de 10 anos de micronacionalismo\u00a0define<\/em>\u00a0o que \u00e9 o “way of life” reuni\u00e3o e o que est\u00e1 fora dele. Esta l\u00f3gica foi aplicada por diversos governos na hist\u00f3ria, em especial nos absolutos\/ditatoriais (vide Si\u00e3o e Estados da Indochina), mas tamb\u00e9m nos democr\u00e1ticos (vide o massacre dos nativos da Am\u00e9rica do Norte pelos Estados Unidos) – desde que, nestes \u00faltimos, haja significativa dist\u00e2ncia entre o grupo dominante e a massa popular.\u00a0<\/p>\n

O nacionalismo popular, entretanto, \u00e9 de muito mais dif\u00edcil realiza\u00e7\u00e3o – em especial no modo em que se d\u00e1 o micronacionalismo atual. Para que este aconte\u00e7a \u00e9 necess\u00e1rio que a pr\u00f3pria sociedade alimente o esp\u00edrito de pertencimento e identidade nacionais, para que o v\u00ednculo de nacionalidade seja muito mais que uma escolha ordin\u00e1ria entre camisetas amarelas ou vermelhas, se tornando algo profundo – cujo rompimento n\u00e3o seja simples. Das rela\u00e7\u00f5es sociais entre os indiv\u00edduos emergir\u00e1 a id\u00e9ia de na\u00e7\u00e3o e, naturalmente,\u00a0a for\u00e7a do v\u00ednculo nacional ser\u00e1 diretamente proporcional ao direcionamento das rela\u00e7\u00f5es sociais\u00a0ao refor\u00e7o do sentimento nacional.<\/p><\/div>\n

Afora isso, para que os micronacionalistas consigam\u00a0compreender melhor as rela\u00e7\u00f5es sociais, s\u00e3o necess\u00e1rias novas ferramentas de comunica\u00e7\u00e3o. Muito embora a comunica\u00e7\u00e3o escrita tradicional do micronacionalismo transmita rela\u00e7\u00f5es sociais, \u00e9 fato que estas n\u00e3o se limitam a isso. As cores, imagens, cheiros,\u00a0sons, movimentos e emo\u00e7\u00f5es\u00a0formam aspectos\u00a0intang\u00edveis das rela\u00e7\u00f5es sociais. Em outra palavras, \u00e9 muito mais f\u00e1cil perceber algu\u00e9m\u00a0voc\u00ea conversa por v\u00eddeo-confer\u00eancia como um indiv\u00edduo real que tem rela\u00e7\u00f5es sociais com voc\u00ea do que um remetente de e-mails que voc\u00ea n\u00e3o conhece.<\/div>\n
Esta \u00e9 a segunda revolu\u00e7\u00e3o necess\u00e1ria: a tecnol\u00f3gica. Ela\u00a0vive em fun\u00e7\u00e3o da primeira, tendo como objetivo refor\u00e7ar a interpreta\u00e7\u00e3o teleol\u00f3gica do projeto micronacional como sendo um projeto real de na\u00e7\u00e3o. As novas tecnologias ora dispon\u00edveis para utiliza\u00e7\u00e3o online t\u00eam como um ponto: a interatividade. E \u00e9 na intera\u00e7\u00e3o que reside o ponto nevr\u00e1lgico das rela\u00e7\u00f5es sociais. Sem aquela estas n\u00e3o podem existir.<\/div>\n
Redes de relacionamento, wikis, v\u00eddeos, podcasts\/blogs, fotos, \u00e1udio e v\u00eddeo-confer\u00eancias. O desafio \u00e9 conseguir agrupar todos estes elementos em um \u00fanico recinto e trazer racionalidade em seus usos\u00a0para o\u00a0micronacionalismo. Tendo\u00a0estes elementos como foco, deslocaremos o eixo da intera\u00e7\u00e3o micronacional da emula\u00e7\u00e3o \u00e0s rela\u00e7\u00f5es pol\u00edtico-sociais.<\/div>\n
No lugar de pal\u00e1cios imagin\u00e1rios, fotos de nosso dia-a-dia pessoal. Ao inv\u00e9s de dizer “o que Hitler fez n\u00e3o importa no micronacionalismo”,\u00a0o aproveitamento de toda a nossa carga intelectual\u00a0e emocional em nossa pr\u00e1tica micronacional. Podem pensar:\u00a0ora, mas as pessoas\u00a0ter\u00e3o “medo” de faz\u00ea-lo, de se expor. Ora, mas as mesmas j\u00e1 n\u00e3o o fazem hoje? Orkut, Flickr, Blogger,\u00a0Skype,\u00a0YouTube est\u00e3o a\u00ed para nos provar isso. A tal “web\u00a02.0”.\u00a0Se\u00a0as microna\u00e7\u00f5es passarem a se apresentar desta\u00a0forma desde sua g\u00eanee, os novatos n\u00e3o ter\u00e3o problema em se adaptar – pois n\u00e3o estar\u00e3o submersos nos velhos dogmas que habitam a Lusofonia.<\/div>\n
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