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O Socioculturalista #6, 10 de maio de 2007.\u00a0<\/strong><\/p>\n

MICRONACIONALISMO NO S\u00c9CULO XXI – Carlos G\u00f3es.<\/strong><\/p>\n

Qual \u00e9 o motivo do esvaziamento do micronacionalismo?!\u00a0As respostas para a pergunta supracitada podem ser variadas. Proponho uma que \u00e9 ampla o bastante para abranger uma s\u00e9rie de fatores e suficientemente pol\u00eamica para provocar reflex\u00e3o: o fato \u00e9 que praticamos o micronacionalismo do mesmo modo que o faz\u00edamos h\u00e1 dez anos. A despeito da mudan\u00e7a no calend\u00e1rio, ainda fazemos o micronacionalismo do s\u00e9culo passado.<\/p>\n

De qual modo ficamos parados no tempo?<\/p>\n

Primariamente, no sentido da compreens\u00e3o do que \u00e9 de fato o [micro-]nacionalismo. A id\u00e9ia fixada por Reuni\u00e3o e Porto Claro, dos famosos “pa\u00eds-modelismo” de Aguiar ou “hobby” de Cl\u00e1udio de Castro, continua a ser predominante na Lusofonia. Ainda \u00e9 predominante o micronacionalismo como emula\u00e7\u00e3o – misto de hobby e divers\u00e3o. E, nesse sentido, o micronacionalismo est\u00e1 em grande desvantagem contra as novas oportunidades de emula\u00e7\u00e3o que existem na rede.<\/p>\n

Em 1997 o que havia de divers\u00e3o interativa na Internet eram as salas de chat e o IRC. Nesse sentido o micronacionalismo tido como emula\u00e7\u00e3o era um competidor respeit\u00e1vel \u00e0s mesmas. Hoje, entretanto, o micronacionalismo, se visto como emula\u00e7\u00e3o, tem de competir com o Second Life, World of Warcraft e similares. Quem est\u00e1 a procura de divers\u00e3o, tende a ficar com estes \u00faltimos.<\/p>\n

De tal feita, precisamos de uma revis\u00e3o no conceito dado ao micronacionalismo. Isto, pois, para os que n\u00e3o conhecem o micronacionalismo, o formato no qual o mesmo \u00e9 apresentado d\u00e1 a impress\u00e3o de algo como uma “brincadeira s\u00e9ria”, ou – “RPG de diplomacia”, como disse um amigo meu ao ser apresentado ao s\u00edtio de Pas\u00e1rgada.<\/p>\n

Ainda se tem receio de ver que a [micro-]na\u00e7\u00e3o somente diferem das outras em rela\u00e7\u00e3o a sua escala. Aquele que estuda um pouco de teoria do nacionalismo, chega naturalmente \u00e0 conclus\u00e3o de que os variados conceitos de na\u00e7\u00e3o coincidem em uma coisa: se relaciona aos la\u00e7os de identidade entre indiv\u00edduos, que se sentem ligados – ainda que n\u00e3o se conhe\u00e7am – por meio de uma entidade imaginada denominada “na\u00e7\u00e3o”. S\u00e3o estes la\u00e7os imaginados que fazem com que um catarinense e um potiguar sintam-se identificados com os mesmos s\u00edmbolos nacionais: a bandeira, o hino, a hist\u00f3ria, o futuro. S\u00e3o os mesmos la\u00e7os que fazem com que dois peruanos, ao se encontrarem na Europa, sintam-se “em casa”, ainda que longe de sua terra natal.<\/p>\n

Na\u00e7\u00e3o n\u00e3o \u00e9 um conceito que se relaciona, necessariamente, a determinado territ\u00f3rio. Os judeus na di\u00e1spora continuaram a manter caracter\u00edsticas nacionais, entre eles a id\u00e9ia de um passado e destino comuns. Do mesmo modo, um portugu\u00eas no Brasil ainda faz parte de sua na\u00e7\u00e3o, ainda que no estrangeiro. Na\u00e7\u00e3o \u00e9 um conceito imaginado.<\/p>\n

Outrossim, falta \u00e0s microna\u00e7\u00f5es assumirem, de fato, sua nacionalidade – n\u00e3o o conceito jur\u00eddico, mas o senso de pertencimento \u00e0 na\u00e7\u00e3o. Ao se cultivarem os la\u00e7os de nacionalidade, naturalmente, o senso de pertencimento do novato muda do eixo emulacionista para o realista\/nacionalista. Naturalmente, os que buscam por emula\u00e7\u00e3o tendem a se desanimar. Por outra parte, aquele que busca por novas experi\u00eancias, por uma evolu\u00e7\u00e3o pessoal, por uma experi\u00eancia nacional que seja diferente \u00e0quela das estruturas dos Estados-Na\u00e7\u00e3o tradicionais, poder\u00e1 ser atra\u00eddo. Alguns da extra-lusofonia j\u00e1 compreenderam isto, de certa maneira. O caso mais not\u00e1vel \u00e9 o do Quinto Mundo (ver http:\/\/5world.net\/<\/a> e http:\/\/groups.msn.com\/FifthWorld<\/a>). Falta-nos este passo.<\/p>\n

N\u00e3o obstante, \u00e9 fato que os velhos e-mails n\u00e3o ajudam a construir a identidade nacional. A\u00ed que entra o segundo ponto do novo micronacionalismo: precisamos aproveitar mais das novas tecnologias.<\/p>\n

Se Pas\u00e1rgada contribuiu paradigmaticamente para demonstrar que o micronacionalismo \u00e9 feito de pessoas reais e que, por conseguinte, as rela\u00e7\u00f5es sociais que aqui se d\u00e3o tamb\u00e9m s\u00e3o reais, temos de ir al\u00e9m. \u00c9 muito mais simples compreender esta realidade por meio de confer\u00eancias de voz ou video-confer\u00eancias do que por e-mail. E isto ainda acabaria com um velho problema do micronacionalismo: o paplismo.<\/p>\n

E \u00e9 interessante ver que a ra\u00edz deste pensamento j\u00e1 se encontrava, incrivelmente, no pensamento de Pedro Aguiar. Isto se fazia claro quando Aguiar dizia PC n\u00e3o estava “na Internet”, mas se\u00a0utilizava<\/em>\u00a0da Internet. Do mesmo modo, precisamos nos utilizar de novos m\u00e9todos, mas com um objetivo claro: n\u00e3o o de emular, mas o de refor\u00e7ar a id\u00e9ia de na\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

A mudan\u00e7a tecnol\u00f3gica n\u00e3o \u00e9 uma mudan\u00e7a que vai somente transferir o problema da integra\u00e7\u00e3o das listas de e-mail \u00e0s novas tecnologias. Ao contr\u00e1rio, elas contribuem para melhorar os m\u00e9todos de constru\u00e7\u00e3o de um senso de pertencimento nacional. \u00c9 por isso que sua ado\u00e7\u00e3o e essencial, desde que estejam orientados para o objetivo primaz de contru\u00e7\u00e3o da na\u00e7\u00e3o.<\/p><\/div>\n"}