{"version":"1.0","provider_name":"micropatriologia","provider_url":"http:\/\/micropatriologia.wordpress.com","author_name":"Carlos G\u00f3es","author_url":"https:\/\/micropatriologia.wordpress.com\/author\/goldsteincharles\/","title":"O Socioculturalista #14","type":"link","html":"
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Editorial<\/h3>\n

Panfletos te\u00f3ricos.<\/h5>\n
H\u00e1 dois anos, era lan\u00e7ado, sob a grande efervesc\u00eancia cultural mauritana, o primeiro panfleto de O SOCIOCULTURALISTA, que, de forma peculiar, tinha uma miss\u00e3o te\u00f3rica e deliberadamente parcial. Os panfletos n\u00e3o se escondiam sob o manto da “imparcialidade jornal\u00edstica”, pois n\u00e3o sua miss\u00e3o n\u00e3o se define como um jornal. J\u00e1 tinha por objetivo a propaga\u00e7\u00e3o de um ideal e, mais que isso, a realiza\u00e7\u00e3o pr\u00e1tica de um ideal.<\/div>\n
Para orgulho deste editor, o movimento socioculturalista foi ent\u00e3o definido pelo incontest\u00e1vel Bruno Cava como \u00a0“o mais produtivo e inteligente projeto pol\u00edtico de Reuni\u00e3o”. Cava afirmou, ainda, que “o socioculturalismo \u00e9 projeto de pot\u00eancia, n\u00e3o de poder” [ver fonte<\/a>].<\/div>\n
Em 2008, por advento de um per\u00edodo de pouqu\u00edssima atividade do editor, e tamb\u00e9m pela concentra\u00e7\u00e3o de esfor\u00e7os no ressurgimento de Pas\u00e1rgada p\u00f3s-Golpe Figueirista, somente dois panfletos foram editados. Espera-se uma mudan\u00e7a do cen\u00e1rio no ano que ora se inicia.<\/div>\n
N\u00e3o unicamente pelo objetivo de propaga\u00e7\u00e3o do socioculturalismo, mas pela pr\u00f3pria meta de aumentar o n\u00edvel de reflexa\u00e7\u00e3o te\u00f3rica sobre o fen\u00f4meno micronacional. \u00c9 por isso que O SOCIOCULTURALISTA j\u00e1 reeditou artigos de Bruno Cava e McMillan Hunt, al\u00e9m da tradu\u00e7\u00e3o de artigos do respeit\u00e1vel Peter Ravn Rasmussen.<\/div>\n
Anteriormente, este papel j\u00e1 foi ocupado pela Funda\u00e7\u00e3o Pablo Casta\u00f1eda e pela Funda\u00e7\u00e3o Pasargadista de Estudos Patriol\u00f3gicos. O SOCIOCULTURALISTA almeja dar continuidade a sua contribui\u00e7\u00e3o, ainda que pequena, a este fim.<\/div>\n
Por agora, ser\u00e1 reeditado um artigo deste editor, aprofundando as concep\u00e7\u00f5es sobre o nacionalismo e aquela que mais se adapta ao micronacionalismo. Al\u00e9m dos j\u00e1 comuns conceitos do sino-brit\u00e2nico Benedict Anderson, trago as contribui\u00e7\u00f5es de relevantes franc\u00f3fonos: Pierre Renouvin, Jean-Baptiste Duroselle e Ernest Renan.<\/div>\n
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O SOCIOCULTURALISTA seguir\u00e1 a norma culta do portugu\u00eas brasileiro seguida at\u00e9 31 de dezembro de 2008, sendo poss\u00edvel a futura ado\u00e7\u00e3o da ortografia unificada. Artigos reeditados seguir\u00e3o a ortografia vigente quando de sua publica\u00e7\u00e3o original.\u00a0<\/div>\n<\/blockquote>\n<\/div>\n

Artigo<\/h3>\n

Concep\u00e7\u00f5es de nacionalismo – Carlos G\u00f3es (reeditado)<\/p>\n

Pierre Renouvin e Jean-Baptiste Duroselle, em sua mais importante obra conjunta –\u00a0Introduction \u00e0 l’histoire des Relations Internationales\u00a0-, afirmam existir duas grandes abordagens anal\u00edticas do nacionalismo.<\/span>\u00a0Abordagens, ressalte-se, divergentes.<\/p>\n

A primeira seria a concep\u00e7\u00e3o\u00a0naturalista\u00a0do nacionalismo. Segundo esta concep\u00e7\u00e3o a na\u00e7\u00e3o seria um ser vivo, um ente natural, independente das rela\u00e7\u00f5es sociais existentes entre os membros da mesma. A na\u00e7\u00e3o estaria evidente na l\u00edngua, na ra\u00e7a, no territ\u00f3rio, na fidelidade, nos costumes, nas antigas tradi\u00e7\u00f5es. A na\u00e7\u00e3o seria a “a\u00e7\u00e3o inconsciente de uma for\u00e7a superior”. A qualifica\u00e7\u00e3o de um grupo social como na\u00e7\u00e3o n\u00e3o seria relacionado \u00e0 exist\u00eancia de um sentimento nacional, mas sim aos elementos como os supracitados. “Que tais agrupamentos n\u00e3o tenham consci\u00eancia de sua solidariedade, que n\u00e3o manifestem o desejo de viver em comum, pouco importa: os sinais exteriores constituem crit\u00e9rio indiscut\u00edvel”.<\/p>\n

Seriam exemplos o fato de\u00a0germ\u00e2nicos\u00a0terem se agrupado em um nacionalismo alem\u00e3o (ou germ\u00e2nico); antigos gauleses terem se tornado os contempor\u00e2neos franceses; e os habitantes da pen\u00ednsula it\u00e1lica terem, desde o S\u00e9culo XVI, fomentado um sentimento nacional italiano que culminaria na unifica\u00e7\u00e3o de 1870. N\u00e3o explicaria, todavia, o porqu\u00ea de a hispano-am\u00e9rica ter se conformado em um sem-n\u00famero de na\u00e7\u00f5es; e, por exemplo, o fato de os su\u00ed\u00e7os falantes do alem\u00e3o – muito similares culturalmente, linguisticamente e em termos \u00e9tnicos, dos alem\u00e3es – n\u00e3o conformarem a “na\u00e7\u00e3o germ\u00e2nica”, supostamente existente em termos naturais.<\/p>\n

J\u00e1 a concep\u00e7\u00e3o\u00a0sociol\u00f3gica\u00a0do nacionalismo compreende que a na\u00e7\u00e3o \u00e9 um “fato de consci\u00eancia”. A na\u00e7\u00e3o existe pelo fato de – agora utilizando o l\u00e9xico de B. Anderson [1] – seus membros identificarem um ao outro como ligados a uma mesma entidade\u00a0imaginada socialmente:\u00a0a na\u00e7\u00e3o<\/span>. “A p\u00e1tria \u00e9 antes de tudo a consci\u00eancia da p\u00e1tria”. \u00c9 marcante, nesse sentido, um famoso discurso de Ernest Renan, onde o mesmo relata que:<\/p>\n

Uma na\u00e7\u00e3o \u00e9 portanto uma grande solidariedade, constitu\u00edda pelo sentimento advindo dos sacrif\u00edcio que n\u00f3s fazemos e estamos dispostos a fazer no futuro. Ela pressup\u00f5e um passado resultante em um fato tang\u00edvel: o consentimento, o claro e expresso desejo de continuar a conviver em sociedade. A exist\u00eancia da na\u00e7\u00e3o \u00e9, em si mesma, um plebiscito di\u00e1rio, assim como a pr\u00f3pria exist\u00eancia do indiv\u00edduo \u00e9 uma perp\u00e9tua afirma\u00e7\u00e3o da vida [2].<\/p>\n

De tal modo, mesmo reconhecendo a import\u00e2ncia dos fatores tidos como fontes\u00a0naturais<\/span>\u00a0da na\u00e7\u00e3o para a emerg\u00eancia de um sentimento nacional, eles por si s\u00f3 n\u00e3o seriam suficientes. Sem a\u00a0express\u00e3o<\/span>\u00a0de uma identidade comum, de um sentimento de solidariedade, n\u00e3o pode haver na\u00e7\u00e3o. Isto, pois a\u00a0na\u00e7\u00e3o<\/span>\u00a0seria constitu\u00edda exatamente por esta identifica\u00e7\u00e3o coletiva sendo, assim, uma comunidade imaginada.<\/p>\n

Ao passo que a concep\u00e7\u00e3o\u00a0naturalista\u00a0entende que a na\u00e7\u00e3o \u00e9 um\u00a0fato dado<\/span>, emp\u00edrico, a concep\u00e7\u00e3o\u00a0sociol\u00f3gica\u00a0trata da quest\u00e3o das identidades, sendo a na\u00e7\u00e3o \u00e9 constru\u00edda sociologicamente, por meio das intera\u00e7\u00f5es sociais. Na primeira abordagem, a exist\u00eancia de uma microna\u00e7\u00e3o seria imposs\u00edvel, uma vez que microna\u00e7\u00f5es n\u00e3o s\u00e3o\u00a0natural: n\u00e3o se baseiam ou resumem \u00e0 l\u00edngua ou \u00e0 etnia.\u00a0Todavia, concebendo a na\u00e7\u00e3o como ente constru\u00eddo com base nas intera\u00e7\u00f5es sociais, pode-se observar que um microna\u00e7\u00e3o pode ter, apesar da escala reduzida, as mesmas caracter\u00edsticas de uma na\u00e7\u00e3o de propor\u00e7\u00f5es maiores.<\/p>\n

Nesse sentido, fica exposta exatamente qual deveria ser a abordagem micronacional \u00e0 quest\u00e3o da constru\u00e7\u00e3o de um micro-nacionalismo: deve-se focar nos la\u00e7os imaginados de identidade que emergem das intera\u00e7\u00f5es sociais. Microna\u00e7\u00f5es possuem um\u00a0locus\u00a0social. As rela\u00e7\u00f5es existentes, ainda que utilizando-se da Internet como meio de comunica\u00e7\u00e3o, s\u00e3o reais, nunca virtuais.<\/p>\n

[*] cita\u00e7\u00f5es, salvo expresso em contr\u00e1rio: RENOUVIN, Pierre; DUROSELLE, Jean-Baptiste.\u00a0Introduction \u00e0 l’histoire des Relations Internationales. Paris: Librairie Armand Colin, 1967. pp. 180 – 267.
\n[1] V. ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas: Reflex\u00f5es sobre a origem e a expans\u00e3o do Nacionalismo.<\/span><\/span>Lisboa: Edi\u00e7\u00f5es 70, 2005. Livro em: [livraria cultura<\/a>]. Sinopse em: [wikip\u00e9dia<\/a>]
\n[2] RENAN, Ernest.\u00a0<\/span><\/span>Qu\u2019est-ce qu\u2019une nation?<\/span>. Conf\u00e9rence faite \u00e0 la Sorbonne, le 11 mars 1882. Texto completo dispon\u00edvel em [
wikisource<\/a>].<\/p>\n

Expediente<\/h3>\n

Editor – Carlos G\u00f3es<\/p>\n

Reda\u00e7\u00e3o – Carlos G\u00f3es, Filipe Sales, Rodrigo Mariano e Fernando Henrique Cardozo.<\/p>\n<\/div>\n"}